O futuro do setor moveleiro: você está lendo o mercado corretamente?

A principal medida a ser tomada em tempos atuais talvez seja a mudança de paradigmas, comportamento e cultura empresarial

Publicado em 5 de setembro de 2019 | 18:57

Não existe assunto mais falado, mais aguardado ou mais ao interesse do moveleiro do que uma boa leitura ou avaliação do mercado. Em nosso ciclo de palestras neste ano de 2019, “O futuro do setor moveleiro”, que começamos em Ubá-MG, depois seguimos para Francisco Beltrão e Curitiba, no Paraná e mais recentemente em Bento Gonçalves no Rio Grande do Sul e Arapongas (PR), a pergunta campeã, sem dúvida nenhuma está relacionada a como está e como ficará (num curto prazo, sempre) o setor moveleiro.

Depois de 25 anos andando de polo em polo pelo Brasil e tendo a oportunidade de rodar o mundo moveleiro, seja em feiras ou eventos do setor, estou mais que preparado para indicar um panorama para os empresários moveleiros. E foi este um dos pontos que nos estimulou a correr os polos como este projeto para ir ao encontro do nosso leitor e anunciante, e assim lhe atender nesta questão tão importante.

O setor moveleiro no Brasil mostra-se mais frágil do que a grande maioria dos países que conheço. Tanto por feiras como por intercâmbios extremamente produtivos que temos com as principais publicações moveleiras B2B no mundo (veja o site da IAFP Alliance de quem somos sócios ativos). Por mais que estejamos acostumados a estas coisas e posso afirmar que nenhum país do mundo é tão criativo para tratar com situações tão desfavoráveis na cadeia produtiva como os brasileiros.

Fomos formados a partir da colonização portuguesa, por um sistema que no primeiro momento favorecia a família real e seus aliados. Esta cultura (nociva) criou um comportamento padrão de frequente dependência da população. Até dos meios produtivos aos “favores” do governo. Criamos, como poucos (a maioria dos latinos são assim),uma referência de comportamento estranha aos países europeus, América do Norte e mesmo boa parte da Ásia de que o governo no faz um favor enorme. Senão em ajudar pelo menos em não “dinamitar” o nosso caminho. E assim temos sobrevivido desde sempre.

O posicionamento da marca na atual comunicação

Neste momento, em que nos defrontamos certamente com a maior crise da história deste país, temos um (ou mais) agravantes. Um exemplo? Perdemos os anos áureos em que as commodities desfrutavam de status no mercado externo. Exatamente no período que o mundo todo necessitava delas pelas altas demandas.

Ademais, experimentamos nos últimos anos um aumento expressivo do desemprego no nosso país. Causado muito pelo aumento do emprego na tecnologia. Lamentavelmente não qualificamos nossa mão de obra para assumir estas oportunidades que surgiram com estas novas frentes de trabalho. Além de outros fatores que poderia abordar, mas não o farei por falta de espaço.

Imaginar que o setor moveleiro ficaria “fora” das consequências causadas pelos momentos de transformação que o mundo está vivendo seria, no mínimo, de uma visão ao melhor estilo “Polyana”. E de fato, não só não ficamos “livres” de tudo isto. Aliás, não é nenhum exagero afirmar que se não fomos o setor mais afetado estamos entre os principais, seguramente.

Como lidamos com isto tudo até agora? Da forma como sempre o fizemos até aqui. Reduziu-se custo (qualidade de produto inevitavelmente também), reduziu-se mão de obra. Ouve-se falar de aumento de sonegação, uma pressão enorme sobre as equipes comerciais, afim de ao menos garantir a manutenção do mercado já estabelecido. Entre outras tantas medidas, que você que está lendo este artigo agora deve estar pensando e associando à sua rotina, ou mesmo de amigos, vizinhos e concorrentes.

Todas estas medidas muito provavelmente sejam necessárias sim para manter a saúde do negócio. No entanto, a principal medida a ser tomada em tempos como este talvez seja a mudança de paradigmas, de comportamento, de cultura empresarial. Em suma: a forma de olhar para o mercado do presente sem deixar de antecipar o mercado de amanhã, de depois de amanhã, e assim sucessivamente.

Este é um movimento difícil de fazer (mas não impossível) pois é a mesma coisa que trocar os pneus do carro com ele em movimento, afinal a necessidade de vender garante o hoje, e sabemos que sem hoje não haverá amanhã (pelo menos de maneira saudável).

A saída clássica para isto indica a necessidade de os empresários moveleiros investirem em planos estratégicos simultaneamente aos esforços de sobrevivência. É muito provável que estas áreas (sobrevivência e estratégico) precisem funcionar no mínimo com comandos distintos dentro das empresas, e talvez até com estruturas de apoio diferentes.

Contudo, não adotar estas medidas de ajuste e correção na gestão pode colocar em risco tanto a travessia para o período que ainda resta para sobreviver a este (longo) período negativo da economia, como comprometer de forma decisiva a maneira com que lidaremos na próxima crise. Ou você dúvida que ela virá?

Li uma postagem no Instagram publicada pelo @freudoficial que diz o seguinte:

“Quando decidimos mudar, só podemos ir em uma direção. Pode ser difícil no começo, bagunçado no meio, mas é lindo no fim”

Que seja este o nosso “mantra” neste momento de decisões (ou de necessidade delas) em que vivemos.

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