A mulher do setor moveleiro de Minas Gerais

Iara Abade, presidente do Sindimov-MG e diretora executiva da Fiemg, fala em entrevista sobre desafios das mulheres em cargos de liderança

Publicado em 31 de março de 2018 | 08:00 |Por:

Uma sondagem da Grant Thornton divulgada em março, já tradicionalmente reconhecido como o Mês da Mulher, intitulada International Business Report (IBR) – Women in Business, apontou que o Brasil ultrapassou a média global de mulheres em cargos de liderança. De acordo com a empresa, os dados apontam para o crescimento, dentro das organizações, de uma mentalidade mais aberta e confiante em relação a gênero feminino.

A pesquisa foi publicada no dia 8, dia Internacional da Mulher, e revelou que 29% das empresas brasileiras possuem mulheres em cargos de liderança – crescimento de 10 pontos percentuais em relação ao mesmo período do ano anterior. Isso situa o país acima da média mundial de 24%. O estudo também indica que, no cenário global, houve queda de empresas que não possuem mulheres em cargos de liderança: de 53% em 2017 o número caiu para 39% em 2018. O levantamento consultou 4.995 empresas em 35 países.

– Luiza Trajano integra lista das principais lideranças do varejo mundial

O setor moveleiro é ainda predominantemente masculino. No entanto, lideranças femininas surgem e se estabelecem, seja no varejo, nas fabricantes ou na indústria fornecedora. Um exemplo de destaque é a presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário e de Artefatos de Madeira no Estado de Minas Gerais (Sindimov-MG), Iara Abade, que neste ano assume também o cargo de diretora executiva na Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Será a primeira vez que a Fiemg, desde seus 85 anos de fundação, terá uma mulher ocupando o posto.

Desafios das mulheres em cargos de liderança do setor moveleiro

Na entrevista abaixo, para encerrar o mês da mulher, Iara Abade fala sobre os desafios e as oportunidades que as lideranças femininas enfrentam no universo empresarial e especificamente no setor moveleiro.

Portal eMóbile | Do seu ponto de vista, as mulheres ainda enfrentam dificuldades para ascender na carreira por conta de estereótipos?
Iara Abade | Não mais. As mulheres já provaram que não tem nada de frágil e não há mais como negar isso. É o tipo de discurso que não convence a mais ninguém. A dificuldade está relacionada ao respeito em reconhecer que as mulheres têm o mesmo direito que os homens de ocupar cargos no alto escalão, que têm o direito de ser tão bem remuneradas quanto os homens quando realizam alguma função. O que a gente percebe é que as mulheres precisam dar prova, o tempo todo, de sua capacidade e que delas é exigido sempre mais. Basta ver que mulheres ocupando o mesmo cargo que homens, para fazer um mesmo trabalho, sempre precisam ter mais anos de estudo e se sujeitar a ganhar menos. É algo que só se explica pela aceitação dessa condição pelas próprias mulheres e que já gera, por parte de todas nós, um grande desconforto. Por isso acredito que estamos bem perto de vencer mais este obstáculo.

Ainda permanece a ideia equivocada de que (a família) é responsabilidade da mulher, ao passo que precisa ser entendido como responsabilidade do homem também

Portal eMóbile | O que acha dos movimentos que lutam por maior empoderamento feminino?
Iara Abade | Necessários, na medida que despertam a consciência para novos desafios que precisamos vencer na busca pelo reconhecimento dos nossos direitos. Na medida em que contribuem para lembrar que conquistamos muito nos últimos tempos, mas não conquistamos tudo e que precisamos continuar a nos mexer. Porém, não surtirão efeito se, de fato, as mulheres não entenderem que isso não virá de graça, que cabe a cada uma de nós se mover na direção das suas próprias conquistas.

Portal eMóbile | Acredita que especificamente no setor moveleiro há mais igualdade ou preconceito contra mulheres em cargos de liderança?
Iara Abade | Não há como negar que esse é um setor predominante masculino. Levou mais de 80 anos para que uma mulher assumisse, pela primeira vez, o posto máximo, na entidade que eu presido. Mas, por incrível que pareça, a minha liderança foi muito bem acolhida e, avaliando todo o percurso até aqui, não posso deixar de me perguntar se a demora não foi mais por falta de vontade das mulheres do que pela resistência dos homens. De novo: só chegamos em algum lugar se nos mexermos em direção a ele.

De nada adiantarão políticas públicas, lições ou exemplos de empoderamento, se a vontade não estiver dentro de cada uma de nós.

Portal eMóbile | O que pensa a respeito do desafio de conciliar vida profissional com a vida pessoal (cuidados com a família, filhos, entre outras tarefas e necessidades)?
Iara Abade | Difícil, principalmente porque, enquanto a mulher tentava quebrar o estigma de “sexo frágil”, ela precisou se desdobrar em 10. Mas ninguém é competente em tudo e é preciso ter em mente que, quando se tem muitos desafios, escolhas são necessárias e quando se escolhe uma coisa se abdica de outra. A verdade é que família é coisa séria, exige cuidado e tempo e, como tantas outras questões que envolvem esse universo da emancipação feminina, ainda permanece a ideia equivocada de que é responsabilidade da mulher, ao passo que precisa ser entendido como responsabilidade do homem também, para que assim se torne um desafio mais leve para as mulheres.

Portal eMóbile | Qual mensagem gostaria de transmitir para as mulheres que atuam no segmento moveleiro?
Iara Abade | Que tenham coragem de fazer suas escolhas e que se movam em direção a elas. Nada é mais fácil porque decidimos fazer, mas, indubitavelmente, é mais possível de ser realizado. De nada adiantarão políticas públicas, lições ou exemplos de empoderamento, se a vontade não estiver dentro de cada uma de nós. Então, que prestem atenção nas mudanças que acontecem a nossa volta e acreditem que é direito nosso escolher e realizar nossas escolhas, porque, antes de mais nada, essa é uma responsabilidade nossa.

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