Os desafios e resultados do setor moveleiro em 2018

Abimóvel comenta o percurso do segmento no ano e se prepara para a transição de gestões

Publicado em 19 de dezembro de 2018 | 14:25 |Por:

No princípio do ano circulavam estimativas de que o setor moveleiro em 2018 retomaria um ciclo de crescimento lento e gradual. O que se testemunha agora na última curva da temporada é de fato um avanço vagaroso do segmento em relação a 2017. Contrário, porém, à ideia de continuidade, marcado por instabilidades, incertezas e abruptas quedas nos indicadores que começaram bastante positivos em janeiro e se deterioraram rumo ao último trimestre.

A produção industrial do setor moveleiro em 2018, por exemplo, sustentava um crescimento robusto de 9,7% até abril, mas emagreceu a 1% em outubro, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Restam ainda as pesquisas de novembro e dezembro, a serem divulgadas pelo instituto apenas em 2019, podendo este resultado oscilar.

Embora ainda positiva, o declínio da fabricação moveleira insere-se numa cadeia com gargalo na ponta do mercado, no setor varejista: o consumo de mobiliário em 2018 já atinge taxa negativa de -3,3% entre janeiro e outubro no comparativo com o mesmo período do ano passado. A receita nominal também registra queda de 2,8% nos produtos do ramo. Entre janeiro e abril a inflação de móveis estava praticamente no 0%, mas chegou em novembro acumulada em 2,81%.

Vale frisar que 2018 tem como base de comparação um ano de recuperação, sendo previsível variações menores nas taxas de agora. Em 2017, o comércio varejista de móveis aumentou 1,4% no volume de vendas e 2,1% nas receitas. A produção industrial moveleira acumulou alta de 4,5% naquele ano e a deflação do setor moveleiro chegava a -0,9%, evidenciando uma situação de pós-crise.

Desafios do setor moveleiro em 2018

Contudo, o setor moveleiro em 2018 não seguiu ileso a trajetória ascendente e foi atravessado também por eventos de importância econômica e política, alguns imprevisíveis. Maio, mês da greve dos caminhoneiros, foi o marco decisório na queda dos indicadores dos meses subsequentes e expôs a vulnerabilidade logística do país. A Associação Brasileira das Indústria de Mobiliário (Abimóvel) elencou a paralisação e incerteza do pleito eleitoral como as principais trepidações do ano.

“De fato, no início deste ano, o setor apontava para um desempenho bem superior para a produção e o consumo de móveis no país em 2018, o que acabou não acontecendo devido a uma série de fatores, a começar pela greve de caminhoneiros e o abalo na confiança do varejo e dos consumidores, com as incertezas geradas pelo período eleitoral, um dos mais virulentos que já vivemos no país, nos últimos anos”, disse o presidente da Abimóvel, Daniel Lutz.

Fernando Aguiar

desoneração da folha de pagamento

Representantes da Abimóvel e lideranças empresariais do setor moveleiro em reunião com o ministro Eliseu Padilha, na época das negociações pela desoneração da folha

Outro ponto que pesou no fraco desempenho da indústria e do varejo de móveis, segundo ele, foi o aumento dos custos de produção, com a elevação das commodities, energia e outros serviços, que não puderam ser repassados no varejo para os consumidores, impactando nos volumes produzidos.

No começo do ano, a entidade previa um cenário otimista para o setor moveleiro, com crescimento industrial a 2%, volume de vendas no varejo em 1,7% e inflação de móveis a 1,7%, o que não correspondeu à realidade dos indicadores. Mesmo assim, Lutz antevê um 2019 com condições mais favoráveis para o avanço do setor moveleiro.

“A mudança de agenda com a entrada do novo governo, em 2019, a evolução positiva dos indicadores econômicos em 2018 (inflação e juros baixos, expansão do crédito para as famílias, leve melhoria nos níveis de emprego e na massa salarial) e a recuperação gradual da construção civil, com retomada paulatina dos lançamentos imobiliários, traz boas perspectivas para o setor moveleiro 2019 e deverá estimular o crescimento no ano que vem, em um ritmo bem acima do que os dados preliminares estão apontando para este ano”, afirmou.

Um balanço de gestão

O encerramento do setor moveleiro em 2018 demarca também o fim da gestão de Daniel Lutz à frente da Abimóvel, empresário no comando da entidade há dois triênios desde 2013. Segundo o próprio, “o associativismo” foi o conceito norteador destes últimos anos de uma associação.

A Abimóvel é cobrada especialmente no âmbito político, nas negociações em Brasília e por representar o empresariado na esfera do Estado. Em 2018, foi testada mais uma vez em função do risco do setor moveleiro perder a vantagem da desoneração da folha de pagamento. A entidade conquistou a permanência do benefício ao setor moveleiro até 2020 após série de reuniões com parlamentares e ministros do alto escalão federal.

Abimóvel e Indústria Moveleira

Presidente da Abimóvel, Daniel Lutz

“Representar e promover o crescimento sustentado do setor moveleiro foi a nossa pauta diária, promovendo ações e soluções para o seu desenvolvimento. Acreditamos que o sucesso do setor moveleiro, depende das iniciativas das suas indústrias, unidas com uma entidade forte. Essa foi a missão empreendida”, diz.

O foco do primeiro triênio (2013-2015) esteve na implementação de um “choque de gestão” e de uma agenda de melhoria na competitividade do setor. Isso se traduziu na manutenção da alíquota do IPI para móveis, na desoneração da folha de pagamento e na assinatura do Convênio com a Apex-Brasil para coordenação e execução do Brazilian Furniture.

Já na segunda gestão (2016-2018) o trabalho foi organizado com foco na ampliação do reposicionamento da entidade junto a organizações de classe, parceiros governamentais e não governamentais e na implementação de projetos estratégicos de sustentabilidade, de design e moda, de exportação, de tecnologia e integração setorial.

Maristela Cusin Longhi assume presidência da Abimóvel a partir de 2019

Destacam-se nesta época o projeto da regulamentação da terceirização e da reforma trabalhista, o programa de sustentabilidade da indústria do mobiliário e o projeto da melhoria da competitividade e valorização da indústria brasileira do móvel.

Em 2019, Lutz deixa o cargo. Assumem a empresária Maristela Longhi como presidente e Irineu Munhoz como vice-presidente, dupla que deve dar continuidade às gestões anteriores. A nova equipe deve herdar as velhas questões: elevada carga tributária, dificuldades em logística, investimentos, inovação, melhoria da competitividade, entre outras.

“A Abimóvel seguirá ampliando sua presença no cenário nacional, com propostas concretas e de forma assertiva no fortalecimento e desenvolvimento sustentável do setor. Vamos dar sequência ao projeto iniciado pelo presidente Daniel Lutz, permitindo com isso consolidar os avanços conquistados nos últimos anos e dessa forma ampliando o papel e relevância do nosso setor e entidade”, disse Maristela.

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