Não basta ser bonito, tem que ser bom para a postura

Usar um móvel de maneira inadequada pode causar lesões. No entanto, nem sempre os vendedores conseguem ajudar o cliente a adquirir o produto mais adequado

Publicado em 20 de agosto de 2019 | 11:30 |Por: Everton Lima

Em 2017, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) revelou que a dorsalgia, popularmente conhecida como “dor nas costas”, foi a doença que mais afastou os brasileiros dos seus postos de trabalho naquele ano. Esse resultado revela, entre outras coisas, que o brasileiro não se preocupa com impacto que uma postura inadequada pode ter na sua saúde.

No entanto, o Fisioterapeuta do Trabalho, João Eduardo de Azevedo Vieira, esclarece que os móveis que as pessoas utilizam no seu dia a dia podem, sim, contribuir para que elas sintam dores relacionadas à má postura. “Na hora de comprar um móvel para a casa, deve-se levar em consideração o conforto que o móvel traz. Contudo, sem esquecer a questão da postura na hora de usar essa peça”, esclarece.

Comprando móveis bons para a postura

Todavia, o profissional dá algumas dicas para que o varejo instrua o consumidor na compra do móvel mais adequado para o conforto. “Em um sofá, por exemplo, o indivíduo deve ser questionado sobre a finalidade do móvel. Ele servirá para ver tevê? Nesse caso, esse sofá tem que proporcionar uma postura para que o consumidor assista sem ficar cansado ou dolorido”, revela.

Postura

Fisioterapeuta do trabalho alerta para a necessidade de comprar móveis que não prejudiquem a postura.

Fisioterapeuta do trabalho alerta para a necessidade de comprar móveis que não prejudiquem a postura. (ilustração)

Para ele, é fundamental que as costas estejam bem apoiadas. Além disso, se possível, que exista um apoio para a cabeça. Quando o móvel for usado sentado, o apoio de braço pode ser um diferencial positivo.

Dores mudaram a forma como consumidora compra seus móveis

Antes de tudo, segundo o especialista, é necessário respeitar o objetivo para o qual o móvel foi produzido. Ignorar essa regra pode causar sérios problemas de saúde ao usuário.

A redatora autônoma, Natália Fernandes (22), mora em Belo Horizonte (MG). Ela trabalha em casa. No começo de sua jornada home office, ela confessa que não usava os móveis adequados para desenvolver as suas atividades. “Eu tinha uma cadeira no meu quarto, mas ela era uma cadeira antiga. Às vezes eu trabalhava na cama, às vezes na cadeira da cozinha ou sofá. Porém, sabia que precisava de algo melhor”, conta.

Ela revela que o uso inadequado dos móveis ocasionou um grande susto: “Apareceu um carocinho no meu pulso direito”. Depois dessa situação, revela que “o conforto se tornou um fator determinante” na hora de comprar sua mobília.

 

Postura

Os móveis para o trabalho devem obedecer a NR 17. Isso evita problemas de postura.

Os móveis para o trabalho devem obedecer a NR 17. Isso evita problemas de postura

Para trabalhar de uma forma que não prejudique a sua postura, ela comprou pela internet uma cadeira com foco na ergonomia. Entretanto, Natália é uma raridade. Um levantamento realizado pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC, 2017) mostrou que para 60% dos consumidores de lojas online o mais importante é o preço do produto.

Entendendo a postura das lojas

O fisioterapeuta informa que os vendedores têm papel fundamental na escolha dos móveis. Afinal, os clientes nem sempre se preocupam com o impacto que a compra terá na saúde do seu corpo. “Alguns conceitos costumam ficar em segunda análise. Principalmente quando o vendedor não fala das possibilidades que o uso do móvel terá na rotina do cliente”, opina.

Embora exista uma gama de informações que o vendedor deve saber sobre o produto que vende, o impacto que a mercadoria terá na saúde do cliente não é uma delas. “Todas as informações que devem ser dadas ao consumidor devem ser claras e transparentes. Sonegar informações é uma prática abusiva. Todavia, existe um limite para as informações que o consumidor pode questionar do vendedor”, explica a professora da Escola de Direito da Universidade Positivo, Alexsandra Marilac Belnoski.

Então, como o lojista saberá qual é esse limite? A professora demonstra com um exemplo: “Se eu for comprar uma cadeira que precisa ser ergonômica, qual é a informação que eu preciso ter? Que ela atende às Normas Regulamentadoras (NR). Essa é uma informação que tem que ser passada. Entretanto, o desconforto que a cadeira pode gerar, os riscos de uma doença ocupacional etc. não precisam ser esclarecidas pelo lojista.”

Na prática

A consumidora Natália, entretanto, não ficou satisfeita com o trabalho dos vendedores quando foi comprar um sofá. “Acho que falta instrução sobre a parte técnica. Você vai ficar muito tempo sentado e não pode levantar de lá com a coluna toda torta. A única coisa que o vendedor fala é que o sofá é bonito”, reclama.

Kika Fazollo, Marketing da Revista Móbile, diz que “quando o vendedor não conhece as características de determinado produto, ele deixa de oferecer a peça ao cliente por medo”. Nesse caso, isso pode ser ruim para o lojista, pois um produto que tem valor agregado maior deixa de ser vendido. Ademais, “ao induzir o consumidor a comprar algo que não irá satisfazê-lo, possivelmente fará com que ele fique com uma imagem ruim da loja”.

“quando o vendedor não conhece as características de determinado produto, ele deixa de oferecer a peça ao cliente por medo”

A fim de resolver esse problema, ela sugere uma parceria entre lojista e fabricante. “Para o fabricante é interessante ter uma equipe que vá ao estabelecimento e treine o vendedor. Assim, ele terá uma visão privilegiada do produto. Essa ação pode ser mais eficiente do que treinar o vendedor fora do ambiente da loja. Desta forma, o vendedor nunca terá medo de apresentar um catálogo”, aconselha.

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