Especialista dá dicas para reter talentos no varejo
Encontrar e manter bons profissionais é um dos desafios das empresas do ramo, mas a resposta pode estar no processo de contratação
Publicado em 8 de junho de 2018 | 17:24 |Por:
Um dos grandes desafios no comércio varejista é contratar e reter bons funcionários, além de mantê-los motivados no trabalho e fornecedor boas condições para sua produtividade. O mercado vem percebendo que apenas a remuneração e a concessão de benefícios obrigatórios segundo as leis trabalhistas não estão sendo suficientes para preservar os talentos no varejo. Neste contexto é crescente a insatisfação tanto dos colaboradores quanto de empregadores.
– Rotatividade afeta as vendas no varejo de móveis
Segundo uma pesquisa feita pelo Ministério do Trabalho, o varejo fica em primeiro lugar no ranking de rotatividade, com pontuação de 6,17, sendo que a média nacional de turnover de mão de obra gira em torno de 3,8. A escala tem o mínimo de 0 e a máximo de 10 para calcular a movimentação de mão de obra no mercado de trabalho brasileiro.
Segundo a especialista em desenvolvimento de pessoas e negócios Andrea Deis, as condições de trabalho no varejo, especialmente na área de vendas, envolvem longas jornadas, disposição física (ficar em pé a maior parte do tempo), folgas reduzidas e salários incompatíveis com as pretensões do funcionário, o que leva o profissional a encarar a área apenas como uma paliativo enquanto não surge uma oportunidade “melhor”.
Entretanto, a baixa qualificação dos trabalhadores – que muitas vezes não ultrapassam o segundo grau – é também um fator que os varejistas deveriam ficar de olho na hora de encarar este problema.
“Eu acredito que para se reter talentos no varejo é preciso um processo de contratação diferente. Hoje um funcionário pouco qualificado consegue emprego no varejo. Com as empresas que atendo temos feito de um jeito diferente: uma das minhas clientes no mercado moveleiro é uma marca premium e ela não contrata vendedores tradicionais, mas designers de interiores ou arquitetos formados ou em formação. Esta pessoa não vende apenas um item, mas um projeto e um conceito de mobiliário. Este profissional provavelmente trabalha com o que gosta e tem uma escala de trabalho humanizada”, diz a consultora.
Essa ideia não necessariamente atende apenas as empresas de alto padrão. De acordo com Andrea, o desafio de manter os talentos no varejo moveleiro passa pelo problema da transformação do mercado como um todo. Além dos profissionais das novas gerações estarem mais exigentes quanto à qualidade de vida, os consumidores também estão valorizando mais a própria experiência de compra e não apenas a aquisição de produtos. Para atender essa demanda é preciso pessoas bem qualificadas na frente de vendas das lojas.
Manter talentos no varejo envolve o processo de contratação
“Varejistas que vendem móveis de nível intermediário também já trabalham com designers na parte de vendas, ou seja, com profissionais que possuem conhecimento sobre os produtos da loja e que oferecem uma experiência de compra. Estamos num momento de mudanças culturais. As empresas precisam se adaptar ao mercado de trabalho e ao mercado consumidor, e não o contrário. O que tenho visto é que o varejo quer se manter dentro do padrão que ele criou. Mas as coisas mudam”, diz a especialista.
Estamos num momento de mudanças culturais. As empresas precisam se adaptar ao mercado de trabalho e ao mercado consumidor, e não o contrário
Naturalmente, contratar profissionais mais qualificados e especializados e reter estes talentos no varejo de móveis demandam mais investimento por parte das empresas. Contudo, Andrea alerta que a alta rotatividade de funcionários mal remunerados e insatisfeitos afeta ainda mais a lucratividade das empresas.
“Demitir um vendedor tem seu custo também. Ademais, contratar novos funcionários exige outros investimentos em treinamento. Depois de, digamos, seis meses a pessoa está bem capacitada para atuar nas vendas, mas nada impede dela pedir desligamento e partir para outra área ou oportunidade. Neste processo o empresário vai pagando a conta e muitas vezes não percebe que seria mais econômico apostar em profissionais mais qualificados”, alerta.