Design para competitividade da marcenaria

Como sua marcenaria pode aplicar o design, indo além do desenho do produto, como estratégia para melhorar o negócio

Publicado em 16 de outubro de 2018 | 08:00 |Por:

Design Thinking na marcenaria é importante para aumentar a competitividade da mesma. A mudança nas atitudes, expectativas e comportamento dos consumidores tem gerado uma quebra de paradigmas. Agora, as pessoas não se encaixam no universo da mesma forma e definir o público somente por renda, gênero e região não faz mais sentido. Por isso, o consumo deixa de ser apenas materialista e passa a ter mais significado por meio dos valores que cada produto representa e no mobiliário isso é ainda mais intenso.

Assim, em busca em atender esses anseios, é comum as indústrias focarem na inovação e criatividade. Segundo a analista de negócios do Senai Paraná, Cláudia Lens, o resultado disso é a criação de ótimos produtos do ponto de vista técnico e econômico. “Porém, não basta para o sucesso do produto ou projeto, pois se deve incorporar necessidade e desejos dos consumidores”, pondera.

Arquivo Pessoal

Design Thinking na marcenaria

“Uma das etapas de fundamental importância é a criação do projeto que conta com os desejos e anseios do consumidor. E dar significado por meio dos valores será concentrado nessa etapa”, assinala Claudia Lens

A solução atual para trabalhar de forma que atenda a real carência dos usuários passa pela aplicação do design. Segundo o consultor em design estratégico, Marcos Batista, muitas empresas almejam a diferenciação para criar valor ao produto ou serviço, o que elevou o design. “Isto para que seja o escolhido ou preferido por meio de atributos, símbolos e valores relevantes e percebidos pelo consumidor”, aponta.

Design Thinking na marcenaria

Para alcançar resultados expressivos, o design não é mais implantado apenas com valores estéticos, mas sim de forma estratégica, chamada de Design Thinking. “Isso abrange aspectos além do processo criativo e inovador, e oferece soluções a nível produtivo, tecnológico e econômico e, também, social e cultural”, salienta Claudia, do Senai.

Esse modelo de pensar também foca na inovação que gera negócios. “O desenvolvimento do projeto envolve alto grau de criatividade, de maneira controlada e direcionada pelo processo. Assim, ela é canalizada de modo a produzir uma solução prática e viável para o problema de design que atenda ou supere os objetivos estabelecidos”, assinala a designer e proprietária da Intervento Design, Juliana Desconsi.

O Design Thinking na marcenaria, desta forma, tem ganhado adeptos por levar tratar tudo sob a perspectiva do usuário, com uma proposta mais empática que coloca as pessoas no centro do desenvolvimento do projeto, gerando resultados mais desejáveis a elas.

“Diferencia-se por lidar bem com problemas indefinidos e, em geral, envolvem o dia a dia das pessoas na utilização e no relacionamento emocional com produtos e serviços. Assim, colabora para o entendimento profundo dos problemas e necessidades das pessoas para as quais são projetados, gerando desejo e satisfação”, explica Batista. “O Design Thinking tem etapas que contam com processo de pensamento divergente e convergente. Há muitos modos de aplicabilidade, pois tem uma visão sistêmica, não linear e de aprendizado experiencial”, destaca.

Em ação com Design Thinking na marcenaria

No cotidiano de trabalho do marceneiro, Claudia observa que os móveis produzidos pela marcenaria são desenvolvidos, mesmo que inconscientemente, com base em Design Thinking, justamente por serem feitos sob medida e personalizados. No entanto, por ser de forma inconsciente, não existe método de coleta, leitura e interpretação dos dados para se ter uma absorção e aplicação melhor dos resultados.

Tudo em dia no contas a receber da marcenaria

“Por meio do Design Thinking, pode-se ter esse levantamento das necessidades do projeto embasado na carência do consumidor. Esses dados auxiliam para maior assertividade e o método de trabalho proporciona a redução do lead time de todo o projeto”, aponta Claudia, que acrescenta: “A maioria da responsabilidade fica centrada no início do ciclo e todas as informações saem dessa etapa otimizando o trabalho do marceneiro”.

Etapas de execução do Design Thiking

1 – Imersão (empatia)
Equipe se aproxima do problema sob diferentes pontos de vista, conhecendo as pessoas, entendendo necessidades e problemas e colocando-se no lugar
2 – Análise e síntese (interpretação)
Análise e organização das informações, obtendo padrões e enquadramento do problema real
3 – Ideação (criação)
Gerar ideias inovadoras utilizando brainstorming e co-criação, com foco em desafios pré-definidos
4 – Prototipagem (experimentação)
Tirar ideias do papel com protótipo que ajudará na validação das ideias e testando com as pessoas
Fonte: MJV Press e Marcos Batista

Para implementar o conceito de Design Thinking na marcenaria, Juliana, da Intervento, sugere que marcenarias de grande porte devem contratar um escritório de design ou um profissional. “Um designer thinking tem como objetivo maior a inovação e a disseminação de seu modo de pensar a resolução de problemas. Este contexto pode ser muito oportuno para as marcenarias redesenharem seus negócios, além dos produtos”, declara.

Arquivo Pessoal

Design Thinking na marcenaria

“O processo de empatia e descoberta gera promessas mais efetivas e verdadeiras capazes de melhorar a comunicação interna e externa, atraindo as pessoas pela sua autenticidade”, declara Marcos Batista

Para pequenas e médias marcenarias em que a contratação pode comprometer as finanças da empresa, Juliana salienta ser preciso ir além, pois ouvir os que as pessoas querem não é mais suficiente. Nesse sentido, entra a co-criação.

“O marceneiro tem relação muito próxima ao cliente e fica mais fácil engajá-lo a co-criar seu próprio produto. Deve-se convidar as pessoas a fazer parte dos projetos, conhecerem a fábrica, experimentar toque, peso e textura dos materiais, e testarem nos ambientes dos clientes. Precisamos desenvolver relações intimistas com os clientes e eles com os produtos”, define a designer.

Superando obstáculos

Entre as dificuldades, Marcos Batista argumenta que a cultura empresarial do setor não valoriza a inovação, além de faltar informação sobre o que é design. “O risco é utilizar por modismo, sem adoção criteriosa e com pouco esforço de gestores na aplicação e implantação. O marceneiro e a equipe precisam ser capacitados no direcionamento e aplicação, entender limitações e potencialidades da ferramenta e não esperar que seja a solução para todos os problemas”, considera o designer.

Claudia, do Senai, aponta que a maior delas está relacionada a questões culturais, mas a abertura ao novo é importante para que o Design Thinking na marcenaria tenha resultado. “Esse processo exige integração entre os setores. As etapas não podem ocorrer de forma separada, pois uma dependerá das informações oferecidas pela outra e o sucesso do projeto depende do trabalho em equipe”, enfatiza a analista.

Indo mais além

Além da execução nas estratégias e processos do negócio com o Design Thinking na marcenaria, e de inspiração e embasamento para criação dos desenhos dos produtos, a aplicação do design também é importante na comunicação e nos serviços, e conspira positivamente para que as indústrias tenham resultados assertivos no mercado.

Na comunicação, Marcos Batista diz que o design se destaca por mudar os modelos mentais para reaprender a olhar o problema com curiosidade. “O marceneiro deve utilizar o conceito de design by branding, ou seja, buscar seu propósito, vocação, história, saberes, verdade e essência para determinar quais são suas promessas afetivas e de utilidade e, assim, transmitir visualmente esses símbolos em um projeto de identidade visual e de marca”, avalia o consultor.

Arquivo Pessoal

Design Thinking na marcenaria

“A competitividade é mais lançar um produto inovador que rapidamente fica velho. É preciso pensar além e introduzir atenções ao serviço, transporte, economia de materiais e processos e fator ecológico. Estamos em um momento econômico em que tudo precisa ser redesenhado”, destaca Juliana Desconsi

Já o design de serviços tem o objetivo de tornar o serviço prestado consistente, fácil de usar do ponto de vista cliente, diferenciado da ótica do fornecedor e coerente com a estratégia da empresa. Batista elucida que a marcenaria é um serviço e não um produto.

“Antes de pensar no produto entregue, as marcenarias devem passar por um processo de capacitação em design de serviços. Já atuei com pelo menos doze Arranjos Produtivos Locais (APL) de marcenaria e móveis pelo Brasil e entrei em contato com toda a cadeia de valor e especificadores. Diante disso, realizei um diagnóstico no setor e constatei que as maiores insatisfações tanto dos especificadores quanto dos consumidores são os serviços prestados pelo marceneiro”, afirma.

Neste caso entra o design de serviço, que presta ajuda na utilização de um serviço, estuda as interações entre todas as pessoas envolvidas no serviço e não apenas o consumidor e, assim, melhora a interação entre a empresa provedora do serviço e os usuários.

“Diante do entendimento da jornada do usuário na utilização de um serviço (seus momentos e situações, atividades executadas, pontos de contato, barreiras e oportunidades), visualizamos um gráfico que aponta se a experiência foi satisfatória ou não e quais são os desafios para melhoria”, declara o consultor.

Contratando

– Sebraetec: indústrias que faturam até R$ 3,6 milhões anuais podem solicitar ao Sebrae um projeto de design em que dispensará apenas 20% do total – o programa identifica a necessidade e indica uma consultoria para auxílio.
– Instituto Senai de Tecnologia: o Senai de Arapongas por meio do IST na área da madeira e mobiliário (há outros dois no Brasil, no Acre e no Rio Grande do Sul) aplica o conceito com a prestação de serviços de consultoria e assessoria, para grandes indústrias seriadas e pequenas indústrias, como as marcenarias.

Reportagem originalmente publicada na edição 98 da Móbile Sob Medida

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