Suprir demanda de móveis multifuncionais não atendida em forma de desafio
De acordo com especialistas, por diversos motivos, fabricantes seriados não estão suprindo consumidores com móveis deste padrão
Publicado em 1 de novembro de 2018 | 08:00 |Por: Luis Antonio Hangai
Encontrar um nicho de atuação com boa demanda é o sonho de todo empreendedor. Fato que se potencializa atualmente devido a crise econômica. Segundo arquitetos e designers que possuem experiência de mercado com móveis multifuncionais, esse é um segmento que, atualmente, os marceneiros são os mais aptos a atender. Esse tipo específico de mobiliário é tendência devido as metragens cada vez menores das residências. Além disso, fabricantes seriados, não estão suprindo os consumidores com móveis deste padrão.
A designer de produtos, arquiteta e consultora da indústria moveleira, Adélia Aparecida Covre, crava que hoje encontram-se apartamentos com área útil menor e não há mobiliário produzido em larga escala que atenda a esse público.
“As grandes fabricantes não conseguem enxergar esse fato e as que visualizam, ainda sofrem para adequar sua linha de produção para fabricar tais móveis. O que acontece é que acabamos ficando com uma vala enorme de mercado. Isso é bom para marceneiros que vão ‘nadar de braçada’ porque conseguem entender que isso é uma tendência e também podem, facilmente, flexibilizar a sua linha de produção”, opina.
Segundo a profissional, que possui muitos anos de trabalho junto ao setor moveleiro auxiliando no desenvolvimento de móveis, antes de criar uma peça é preciso entender quem é o novo cliente e também, como ele vive. “Nós tivemos no Brasil, uma explosão de uma filosofia americana, em que a valorização da área comum virou foco, então, consequentemente, a área útil dos apartamentos reduziu drasticamente. Isso porque as pessoas passaram a dar mais valor para a qualidade de vida no âmbito social”, aponta Adélia.
O designer de produtos e interiores e também consultor, Fabio Galeazzo, complementa. “Percebo que existe um movimento em ascensão de morar em ambientes menores e multifuncionais. Resultado do custo crescente dos imóveis e da mão de obra civil, aliados a um desejo de morar em espaços práticos e próximos de centros urbanos”, observa.
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Essa nova realidade, tanto de filosofia de vida quanto de espaços físicos, impacta diretamente na forma de se mobiliar a casa. O grande desafio enfrentado é conseguir conciliar tantos pontos distintos e convergentes em uma mesma mobília. Desta forma, os caminhos apontam para os móveis multifuncionais pois, com eles, é possível fundir otimização de espaços, funcionalidade, estética, facilidade e personalização. “O cliente está ávido por novidades, por ter um móvel diferenciado que minimize espaço, seja funcional e inteligente”, justifica Adélia.
Panorama dos móveis multifuncionais
Apesar que a necessidade de tais mobílias se voltem para os marceneiros, é preciso tomar alguns cuidados. Galeazzo alerta que, atualmente, a produção sob medida é uma alternativa dominante no setor, porém, ele enxerga que isso pode ser algo a curto prazo. “É um mercado crescente e carente, um oceano de oportunidades. Agora, se ficará exclusivo dos trabalhos artesanais, não sei dizer. Afinal, tudo muda muito rápido e o mercado deve se reorganizar para atender essa demanda”, observa o designer.
“Projetei um home theather unindo conceitos da multifuncionalidade e do Smart Design, mas fizeram tudo errado na hora de lançar e queimaram o produto. Por isso digo que marceneiros têm mais visão e aproveitarão bastante esse mercado de móveis multifuncionais”, declara Adélia.
Um ponto levantado por Fabio Galeazzo no qual os marceneiros pecam, é o de não pensar na rotina do cliente. “É preciso entender que este perfil de consumidor busca por soluções móveis e portáteis que possam caminhar pela casa se adequando nos ambientes.”
“Se por um lado a produção sob medida é uma alternativa real que soluciona a demanda deste mercado, por outro lado, engessa os espaços não evoluindo e se adequando as novas demandas no dia a dia do usuário”, explica Galeazzo.
A dica do especialista, para que os profissionais artesanais melhorem seus projetos e conquistem mais clientes, é buscar escolas de design, arquitetos e demais profissionais para realizar trabalhos em co-autoria, atingindo esse mercado de móveis multifuncionais.
Lado negativo dos multifuncionais
O lado negativo, que é um dos motivos para as fabricantes de móveis não investirem em móveis multifuncionais, é que as fornecedoras de ferragens acabam deixando de focar nesse nicho, o que encarece e limita as opções do mercado. Na grande maioria, por serem importadas, torna o produto final mais caro.
“Esse é o tipo de móvel que se ganha em alta rentabilidade e não em larga escala. Infelizmente os fornecedores, por não terem grande demanda, acabam não oferecendo muitas soluções. Atualmente, o que se tem no mercado de ferragens para o multifuncional é o trivial, é para aquele guarda-roupa que a cama está embutida e desce, para um sofá que vira estante, etc. Qualquer coisa que você desenvolva mais específica, que fuja disso, não encontrará ferragens”, lamenta Adélia.
Contudo, é preciso sair do básico e propor novas soluções, aconselham os especialistas. Segundo eles, o trabalho artesanal, grande característica dos marceneiros, é repleto de criatividade e inovação. “Vejo por mim, que atuo como arquiteta e estou ciente do que está acontecendo no mercado. Já tive que procurar vários marceneiros para produzir móveis específicos. Não tinha ferragens? Vamos desenvolver um sistema de encaixe, vamos procurar outra solução”, conta Adélia.
– Trabalho conjunto como diferencial competitivo para marcenarias
Para o caso do Home, citado anteriormente, ela informa que foi necessário improvisar uma ferragem específica, tendo como base, quatro tipos disponíveis no mercado. “Nós temos um bloqueio por parte da indústria de ferragens, porque eles estão preocupados em vender em volume”, conta Adélia.
Mesmo que as principais soluções em matéria-prima, principalmente as ferragens, tornem os móveis multifuncionais mais caros, os entrevistados apostam que os clientes estão abertos para a inovação e soluções, não se importando em investir em produtos de qualidade e que atendam suas reais necessidades. Desta forma, o grande desafio para os marceneiros é inovar para atender esse espaço de mercado, afinal, no efeito em cadeia, havendo maior demanda por ferragens específicas os fornecedores podem aumentar a oferta.
Reportagem originalmente publicada na edição 99 da Móbile Sob Medida