A evolução dos painéis de madeira no mobiliário
Painéis de madeira passaram por diversas mudanças ao longo dos anos e contam com características para aplicações especiais
Publicado em 3 de janeiro de 2022 | 10:00 |Por: Thiago Rodrigo
A madeira sempre foi o principal material aplicado para a fabricação de móveis. Ao longo dos anos em que é empregado no mobiliário das casas, se transformou até atingir a configuração encontrada atualmente de painéis de madeira reconstituída. Oriundas de madeiras de reflorestamento, os painéis de MDF e MDP, formam no presente o último nível do material.
Os painéis de madeira utilizam fibras, partículas ou lâminas de madeira natural aglutinada por resina e que sofrem o efeito de temperatura e pressão. Desde sua criação, evoluíram em qualidade propiciando maior facilidade de uso e aplicação, homogeneidade de cor, boa estabilidade dimensional, resistência físico-mecânica e redução das operações durante a produção do material.
Novas e modernas tecnologias surgiram para alcançar este nível, sendo a principal delas a fabricação do produto em prensas contínuas que reduziram o consumo de matéria-prima e de energia. “Novas tecnologias de linhas contínuas, modernos classificadores e equipamentos de última geração permitiram desenvolver painéis com qualidade superior e superfície mais homogênea para revestimentos e pintura”, destaca a gerente de marketing de construção civil da Eucatex, Andrea Krause.
Para a gerente de marketing e produtos da Duratex, Renata Braga, esta evolução também foi provocada por uma necessidade de mercado que cada vez mais exige novas tecnologias e versatilidade nas linhas de produtos. “Os novos usos e aplicações impostos pelos clientes também impulsionaram esta evolução”, frisa. Atualmente, o desenvolvimento de padrões de acabamentos trouxe novas oportunidades, pois reproduzem as características naturais da madeira e agregam valor. Além disso, há soluções com qualidades específicas como resistência à umidade, bactérias, cupim e fogo.
Entretanto, até alcançar o patamar atual, o mercado era dominado por painéis de compensado, aglomerado e madeira maciça. Esse último, também chamado de madeira de lei, é considerado um material nobre para o mobiliário, por suas possibilidades de confecção do móvel, resistência e durabilidade.
Hoje, porém, as formas irregulares de extração provocam uma escassez da matéria-prima, tornando o móvel de madeira bruta um produto caro e escasso, pouco acessível à maior parte dos consumidores – mas sem deixar de marcar presença em marcenarias e na linha de produção de algumas empresas.
O surgimento do painel de madeira reconstituída teve início com o compensado. Posteriormente, apareceram as chapas de fibras de madeira construídas pelo processo de fabricação úmido, em seguida, o aglomerado que foi aperfeiçoado para o MDP e o MDF, além do OSB.
Primeiro passo: compensado
O compensado foi o primeiro painel produzido industrialmente no mundo em 1913 – no Brasil ocorreu em 1940. É fabricado com a colagem de lâminas de madeira em camadas somada à adição de resina. As lâminas eram produzidas por meio de serras verticais circulares. Em seguida foram empregues serras fitas, e posteriormente laminadoras, que diminuíram o desperdício de madeira. Todavia, foi com o torno desfolhador que a produção em grande escala tornou-se viável e economicamente sustentável.
Claydson de Sousa Duraes, coordenador de produção da Floraplac, conta que inicialmente a madeira de Araucária, nativa do sul do país, era a matéria-prima beneficiada. “Na região amazônica a fabricação de compensado iniciou-se na década de 1960 e também se utilizavam madeiras nativas do local”, acrescenta. A Berneck, em 1956, iniciou a produção de compensados de Pinho. Hoje o compensado é produzido com madeira tropical e proveniente de florestas plantadas como o Pinus.
Pouco investimento em tecnologia, baixa estrutura de produção e desenvolvimento de novas soluções, colocam o compensado, sob o ponto de vista do ciclo de vida, como um produto em fim de linha, com sua produção e consumo em frequente redução.
Duraes, da Floraplac, define que no mercado interno isto ocorre em decorrência da redução da oferta de madeira nativa, ações contra o desmatamento e a substituição por painéis de MDF e MDP no setor de móveis e pelo OSB na construção civil. Enquanto que no mercado externo, a retração começou a ocorrer pela queda do setor imobiliário nos estados Unidos, valorização da moeda nacional e pela concorrência dos produtos de origem chinesa.
Painéis de madeira como alternativa
A criação do aglomerado visava aproveitar os resíduos de madeira da produção de lâminas da fabricação de compensados. Surgiu na Alemanha, no início da década de 1940, porém, a falta de resina acarretou na paralisação, retomada a partir da década de 1960 com expansão de novas instalações industriais e avanços tecnológicos.
Também denominado de particleboard, a produção do aglomerado no Brasil começou em 1966, obtido em prensas estáticas com a formação de colchão dos particulados em camadas distintas. De acordo com o gerente de engenharia de processos da Berneck, José Antônio Bernardo, foi um sucesso e começou a ser amplamente empregado pelos fabricantes de móveis.
“Sua superfície plana e facilidade de acabamento permitiram aumento de produtividade e consequente redução de custo, popularizando a aquisição de móveis pela população brasileira”, lembra. Ainda assim, o engenheiro aponta que a pouca informação de aplicação para fabricantes e usuários, gerou usos indevidos. “Especialmente no segmento de marcenaria, trouxe uma imagem ruim. No entanto, na indústria, com o desenvolvimento das ferramentas e acessórios, foi bem aceito”, diz.
Evolução na produção dos painéis de madeira
Em 1994, houve a introdução do MDF no mercado brasileiro e o início de produção em 1997. Em vista disso, Solon Cassal, considera que a entrada deste produto em solo nacional, revolucionou o mercado de móveis. “Provocou evolução do aglomerado existente, com considerável melhoria de qualidade e características técnicas”, relata.
Desta forma, por volta do ano 2000, com investimento em tecnologia o aglomerado, pode-se dizer que “evoluiu” para o MDP (Medium Density Particleboard). “É uma versão muito melhorada do aglomerado. Toda a tecnologia de fabricação do painel teve evolução no painel de MDP”, assinala José Antônio Bernardo, da Berneck.
A tecnologia que Bernardo se refere é das matérias-primas (madeira e resina), dos equipamentos (prensa e encoladeiras) e dos controles do processo de fabricação “online”, como controladores de umidade, densidade dos colchões de partículas, detectores de metais, detectores de bolhas, medidores de espessura online na saída da prensa, entre outros.
Já a prensa contínua foi o principal norte de evolução. O gerente de administração de vendas da Arauco, Tom Dulei Demetrio, acrescenta que as produtoras ganharam em produtividade, principalmente com a diminuição de tempos perdidos, estabilidade do painel e qualidade. “Além disso, sempre aparecem novidades tecnológicas. É um mercado que evoluiu bastante e sempre haverá melhorias”, especula.
Solon Cassal acredita que já houve o momento de grande transformação. “Agora, por enquanto, o que temos visto são pequenas novidades que aparecem como inovações pontuais”, considera.
Opção à madeira maciça
Foi nos Estados Unidos na década de 60 que o MDF (Medium Density Fiberboard) começou a ser fabricado, sendo desenvolvido na Alemanha na década de 70 e chegando ao Brasil em 1994. Segundo o gerente comercial da Lopar, Wilmar Trindade, várias revendas começaram a colocar o MDF no mercado nacional proveniente do Chile.
Apenas em 1997, iniciou a primeira planta produtiva do produto na cidade de Agudos (SP) e sob domínio da Duratex. Desenvolvido como uma alternativa para as aplicações que utilizam madeira maciça, o MDF vingou por ser homogêneo em toda sua espessura.
Segundo Andrea Krause, da Eucatex, a produção do MDF no Brasil abriu novas oportunidades de produtos para construção civil, indústria moveleira e marcenaria. “O marceneiro passou a usar o MDF, painel mais estável que o compensado. Ambos, MDF e MDP, são amplamente usados na fabricação de móveis com excelente desempenho, o que torna a escolha feita de acordo com o projeto do produto e estratégias de marketing”, diz.
As características do MDF fazem com que seja um substituto da madeira maciça no que se refere às possibilidades de usinagem. “Muitos países usam o MDF torneado e usinado, mas no Brasil a tendência de design retilíneo não explora essas possibilidades”, observa Andrea.
Ideal para usinagens como relevo, arredondamento de bordas e peças torneadas, o MDF proporciona excelente qualidade neste processo. “Ao contrário do MDP, foi introduzido adequadamente no mercado brasileiro. Isso fez com que fosse muito bem aceito pela indústria moveleira e marcenaria, passando a ser utilizado também em partes planas dos móveis, em que se obtém melhor custo-benefício com o MDP”, analisa José Antônio Bernardo, da Berneck.
Chapa de fibra
Após o início da fabricação em 1955 até meados dos anos 90, a chapa de fibra teve ampla utilização no mercado moveleiro. Hoje em dia o produto é empregado no fundo do móvel, como gavetas, racks e dormitórios, e em outras funções como faces de portas com miolo de colmeia de papelão, divisórias e revestimento de ônibus móveis, por exemplo.
A chapa de fibra usa processo úmido. “É utilizada em inúmeros mercados devido à alta densidade do material. No mobiliário o diferencial sempre foi alta resistência mecânica principalmente para uso em dormitórios, observando que muitas vezes o fundo é estrutural. É um produto muito resistente e de espessuras finas”, explica a gerente de marketing da construção civil da Eucatex, Andrea Krause.
Desenvolvido por processo seco, o HDF (High Density Fiberboard), pode ser considerado um substituto. “Este produto, em função do seu custo-benefício, tem crescido fortemente no mercado moveleiro e de fabricação de portas”, assinala Bernardo, da Berneck.
Qualidades especiais dos painéis de madeira
Além dos materiais já citados em painéis de madeira, há ainda a fabricação de painéis de madeira com características singulares como, por exemplo, mais resistentes à umidade e intempéries, resistência à bactérias e cupins e até mesmo ao fogo. Confira alguns painéis com estes diferenciais:
Arauco: o MDF Hidrófugo é ideal para cozinhas, banheiros e regiões litorâneas, sendo resistente à umidade e disponível nas opções crua e branco texturizado
Berneck: o MDF Plus tem mais proteção contra umidade e cupins. Possui coloração esverdeada por convenção internacional para este tipo de produto e pode ser encontrado na opção natural ou branca.
Duratex: o MaDeFibra Ultra garante proteção contra umidade e cupins, e conta com a versão revestida que proporciona combate à bactérias. Já o MaDeFibra Fire, de tingimento vermelho, retarda e evita a propagação de chamas
Floraplac: a empresa fabrica o MDF resistente à umidade com maior proteção ao mofo e ataque de cupins
Evolução dos painéis de madeira
1913 – início da produção de compensado no mundo
1932 – instalação da primeira fábrica de chapas de fibra na Alemanha
1940 – compensado começa a ser fabricado no Brasil
1954 – Duratex passa a produzir chapas de fibra no Brasil
1966 – aglomerado começa a ser fabricado no Brasil pela Placas do Paraná
1967 – criação da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Aglomerada
1968 – início da produção de aglomerado pela Freudenberg, em Agudos (SP)*
1970 – Eucatex passa a produzir chapas de fibra
1970 – início da produção de MDF no mundo
1972 – início da segunda linha de produção de aglomerado pela Freudenber, em Agudos (SP)*
1975 – início de produção de OSB no mundo
1980 – nesta década a Duratex adquire fábricas de aglomerados de outros grupos**
1985 – Berneck começa a produzir aglomerado
1994 – Abima se torna Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira
1996 – Eucatex passa a fabricar aglomerado
1997 – MDF é fabricado no Brasil pela Duratex na fábrica de Agudos (SP)
1998 – Tafisa começa a fabricar MDF em Piên (PR)
2000 – ao longo desta década surge o MDP, superior ao aglomerado
2001 – Masisa passa a produzir MDF em Ponta Grossa (PR)
2001 – Placas do Paraná começa a fabricar MDF em Jaguariaíva (PR)
2002 – início da produção de OSB no Brasil
2005 – Berneck encerra fabricação de compensados
2005 – Arauco adquire instalações da Placas do Paraná
2006 – Berneck lança o MDP
2008 – Berneck inaugura fábrica de MDF
2009 – Tafisa com fábrica em Piên (PR) é comprada pela Arauco
2009 – Duratex e Satipel anunciam fusão
2010 – Eucatex começa a produzir MDF em Salto (SP)
2010 – Floraplac inicia produção de MDF no norte do Brasil
2010 – Masisa inicia fabricação de MDP
2014 – englobando toda a cadeia produtiva de árvores plantadas é criada a Indústria Brasileira de Árvores
Reportagem publicada originalmente na Móbile Fornecedores 274
* Fonte: “100 anos de história, 1989-1998”, autora Profª Maria de Rosa
** Em 1984 a Duratex assumiu o controle das unidades de madeira do Grupo Peixoto de
Castro, que operava fábricas de aglomerado em Itapetininga/SP e Gravataí/RS. Em 1988
a Duratex adquiriu a fábrica de aglomerado da Freudenberg e de sua área florestal a
CAFMA. Relevante observar que a Freudenberg produzia laminados, faqueados e
aglomerado revestido de laminado, produtos amplamente demandados pelo mercado