Agenda ESG e IA devem guiar o mercado em 2024
Os dois importantes movimentos remodelam comportamento de consumo, gestão, produção e varejo no Brasil; veja análise da Abimóvel
Publicado em 21 de dezembro de 2023 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo
A sociedade vem passando por mudanças consideráveis nos últimos anos, com novas necessidades, assim como novos adventos, impactando diretamente às demandas de consumo. Nesse cenário, o setor moveleiro tem tanto absorvido como inspirado essas transformações, seja no design e na produção de novas peças como na forma de comercializá-las e conceituá-las no mercado.
À medida que nos aproximamos de um novo ano e assuntos como “as próximas tendências para a indústria de móveis” começam a tomar conta do setor, dois importantes movimentos parecem estar mesmo remodelando o comportamento de consumo, a gestão, a produção e o varejo no Brasil e no mundo: a Agenda ESG e a Inteligência Artificial (IA).
A conscientização ambiental já não é mais uma pauta negociável. A sustentabilidade não é só uma expressão da moda, ela é agora uma urgência. Com grande parte dos consumidores tornando-se cada vez mais conscientes sobre o impacto do que consomem, eles passam a buscar, portanto, móveis fabricados de maneira ética e ecologicamente mais adequada.
Ponto muito levantado pela Abimóvel, especialmente por meio do SIMB: Programa de Sustentabilidade da Indústria do Mobiliário, que faz parte do escopo do Projeto Setorial Brazilian Furniture, em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
A iniciativa tem sido estrategicamente aderida pela indústria moveleira nacional, com 98% das empresas exportadoras no setor contando com algum selo ou certificação ambiental que atestam práticas sustentáveis, sendo estas normas padrões para exportação.
A União Europeia, um dos principais mercados-alvo da indústria brasileira de móveis, por exemplo, adotou uma nova lei proibindo a importação de produtos oriundos de desmatamento, incluindo o mobiliário. Seguindo na mesma direção, a partir de março de 2024, qualquer exportação de produtos laminados (móveis, pisos, forros etc.) para o Canadá e os Estados Unidos (principal mercado importador de móveis brasileiros) demandará a Certificação Carb/EPA.
A Abimóvel, aliás, firmou Acordo de Colaboração com escritório de Certificação de Qualidade, tendo como objetivo facilitar e orientar a jornada de fabricantes de produtos laminados rumo à aderência à Normativa EPA TSCA VI, CFR Part. 730, de emissão de formaldeído.
Entre outras certificações importantes para o setor estão o selo Carbono Zero e o FSC (Conselho de Manejo Florestal), que asseguram a neutralidade de emissão de carbono, a procedência da madeira utilizada nos móveis e o impacto ambiental dos processos de produção.
A eficiência energética, a logística reversa e a reciclagem de materiais e embalagens, assim como a incorporação de matérias-primas sustentáveis e o desenvolvimento de produtos de maior durabilidade são também questões prioritárias para reduzir ainda mais os possíveis impactos ambientais das fábricas, que também devem estar alinhadas com causas sociais e a garantia de um ambiente de trabalho ético e seguro, bem como a geração de impacto positivo nas comunidades em que estão inseridas.
ESG: a nova bússola corporativa
No centro desse movimento, a Agenda ESG se destaca como um pilar fundamental para as empresas moveleiras. Os princípios Ambientais, Sociais e de Governança são agora prioridade na mente de uma parcela significativa dos consumidores. Empresas que alinham suas práticas à essa agenda, não apenas atendem a essas demandas, mas também fortalecem sua reputação e competitividade no mercado, demonstrando compromisso real com um futuro mais sustentável e responsável.
Dessa forma, o acrônimo, antes confinado a relatórios corporativos, hoje ecoa nas decisões de compra dos consumidores e mais da metade dos empresários brasileiros já colocam os princípios de ESG no topo da lista de prioridades. Entendendo, portanto, que sua implementação é sinônimo de inovação e vantagem competitiva.
Tal indicador faz parte dos resultados levantados pelo estudo realizado pela Amcham-Brasil (Câmara Americana de Comércio) em parceria com a Humanizadas, que ouviu quase 700 empresários brasileiros, os resultados apontam duas grandes tendências para 2024: a Agenda ESG, na segunda posição, sendo assinalada por 51% dos entrevistados, e em primeiro lugar a Inteligência Artificial (IA), citada por 60% deles.
Ascensão da Inteligência Artificial
Paralelamente, a IA surge, então, como uma força transformadora, apontada pela maior parte dos empresários como a grande aposta para 2024. A Inteligência Artificial de fato emerge como uma poderosa ferramenta, que mais do que temida deve ser domada para que possamos tirar o máximo de proveito dessa tecnologia que veio para ficar, tendo o potencial de revolucionar a forma como os móveis são projetados, fabricados e comercializados, permitindo uma maior personalização e eficiência.
Estudo “Back to Business”, realizado pela Visa, também aponta que nove em dez empresários brasileiros consideram usar Inteligência Artificial e automação para crescer seus negócios. Entre os pontos altos do levantamento, tal inclinação demonstra que a mentalidade das pequenas e médias empresas está migrando do modo sobrevivência para o modo de crescimento, acompanhando a tendência de digitalização da experiência de compra do consumidor.
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A perspectiva de líderes tecnológicos é que a IA seja a maior mudança desde a eletricidade e a Internet, e isso se reflete claramente no setor moveleiro. Ferramentas como ChatGPT e DALL-E já são temas de discussão entre executivos e criativos que buscam reimaginar o design e a interação com o cliente.
Olhando para o futuro, enquanto a IA generativa começa a criar novas possibilidades de personalização de produtos e da jornada de compra, a indústria se prepara para um salto em inovação. Empresas moveleiras estão cada vez mais posicionadas como laboratórios de ideias, onde a criatividade e a tecnologia se encontram para fornecer não apenas móveis, mas soluções de vida sustentáveis, funcionais e inteligentes.
Digitalização do consumo
Do ponto de vista do comércio, o estudo da Visa ainda ressalta que os pagamentos digitais estão se tornando cada vez mais integrados à vida cotidiana, especialmente no Brasil, onde quase metade dos compradores brasileiros (47%) prevê que irão utilizar somente transações sem dinheiro físico nos próximos dois anos, em comparação com 40% globalmente. Também, mais de dois terços dos compradores brasileiros (67%) preveem que usarão pagamentos digitais com mais frequência no próximo ano, em comparação com 55% na média global.
No Brasil, 58% das pequenas empresas já fizeram ou farão a transição para operarem sem dinheiro físico nos próximos dois anos (em relação a 51% globalmente). Além disso, 92% dos empresários brasileiros entrevistados afirmam que farão a transição para operar totalmente digital eventualmente.
Ou seja, em um país onde quase metade dos consumidores prevê um futuro sem cédulas ou moedas, o setor moveleiro não pode ignorar a necessidade de se adaptar aos pagamentos digitais, que se alinham à conveniência e segurança desejadas pelos clientes. Tudo isso apontando para uma transformação digital cada vez mais estruturada e amadurecida.
Digitalização pós-pandemia
A pandemia e o isolamento social foram catalisadores de uma transição digital que já não pode ser revertida. Transição, esta, que vem cada vez mais se solidificando também no setor moveleiro. Em 2024, é provável que muitos consumidores continuem optando por pesquisar e comprar móveis on-line, buscando conveniência, variedade e a capacidade de comparar preços e estilos com facilidade.
Nesse sentido, outro projeto idealizado pela Abimóvel, o PDCIMob (Projeto de Desenvolvimento, Competitividade e Integração da Indústria do Mobiliário), desta vez em parceria com o Sebrae Nacional (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), tem como uma de suas trilhas estratégicas justamente a Jornada Digital, que visa acessar e desenvolver a maturidade de micro e pequenas empresas moveleiras — maioria do setor — no universo digital.
“O setor moveleiro, historicamente enraizado em tradições, hoje abraça um futuro em que a sustentabilidade e a Inteligência Artificial não são apenas tendências, mas pilares de um novo paradigma de consumo e produção. À medida que esses movimentos ganham força, a indústria moveleira não apenas se adapta, mas também busca caminhos para ser uma referência nessa jornada para um amanhã mais social e ambientalmente responsável, além de tecnologicamente conveniente para todos”, analisa a diretora-executiva da Abimóvel, Cândida Cervieri.