Exportações da indústria brasileira moveleira recuou em 2023
Indústria brasileira enfrentou desafios no mercado internacional no ano passado. No entanto, as perspectivas para 2024 são mais otimistas
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 | 13:22 |Por: Júlia Magalhães
O período de 2023 apresentou desafios significativos para a indústria brasileira de móveis e colchões. Essa situação teve repercussões no cenário internacional, com as exportações sendo afetadas pela instabilidade econômica global, resultando em uma queda de 11,4% no faturamento em comparação com 2022.
Os pormenores dessa dinâmica são elucidados no estudo “Conjuntura de Móveis”, elaborado exclusivamente pelo IEMI para a ABIMÓVEL (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), abrangendo tanto a produção e as vendas no mercado interno quanto as exportações e importações no setor.
O relatório mostra que as exportações brasileiras de móveis e colchões registraram um aumento significativo no último mês de novembro, com crescimento de 10,4% em relação ao mês anterior. No entanto, em dezembro, um período atípico com apenas 15 dias úteis no comércio exterior, houve uma queda de 10,3% na receita. Mesmo assim, esse resultado contribuiu para atenuar a retração acumulada ao longo do ano.
Exportação indústria brasileira: acumulado ano
Nesse cenário, o desempenho acumulado de 2023 (de janeiro a dezembro), conforme mencionado, registrou uma queda total de 11,4% na receita das exportações de móveis, totalizando US$ 735,3 milhões em vendas para o mercado externo ao longo do ano. Isso equivale aproximadamente a R$ 3,7 bilhões, considerando a taxa de câmbio atual (primeira semana de fevereiro de 2024), em comparação aos US$ 830,7 milhões obtidos em 2022. Importante notar que, apesar desse recuo, a balança comercial do setor manteve-se positiva no ano, com um superávit superior a US$ 500,9 milhões.
Cenário global e suas repercussões nas exportações do Brasil
A dinâmica de altos e baixos foi principalmente impulsionada pela diminuição da demanda em alguns dos principais mercados acessados pelo Brasil, notadamente nos Estados Unidos, onde as políticas locais de aumento das taxas de juros para combater a inflação e outros desafios do consumo pós-pandemia tiveram impacto.
No entanto, os Estados Unidos permanecem como o principal destino dos móveis brasileiros, representando 31,9% do total exportado pela indústria moveleira nacional em 2023.
Apesar das adversidades, com a aparente retomada econômica evidenciada pelo crescimento acima do esperado do Produto Interno Bruto (PIB) americano no último trimestre do ano anterior, a ABIMÓVEL e a ApexBrasil, colaboradoras no desenvolvimento do Projeto Setorial Brazilian Furniture, mantêm a confiança no potencial da região como um parceiro comercial sólido e maduro.
Elas estão organizando ações estratégicas, com foco especial no mercado norte-americano, incluindo a participação na ICFF (International Contemporary Furniture Fair) em Nova York. As equipes do projeto já se preparam para a edição deste ano, agendada entre 19 e 21 de maio de 2024, com a confirmação da participação de 25 empresas brasileiras associadas ao projeto.
No ano de 2023, 26 marcas brasileiras participaram da Missão Comercial ICFF, promovida pelo Brazilian Furniture. A exposição de produtos e as rodadas de negócios com compradores internacionais resultaram em 3.358 contatos, sendo que 87,3% deles representaram novos parceiros comerciais. Essa iniciativa gerou aproximadamente US$ 106,8 milhões em negócios imediatos ou prospectados para os 12 meses subsequentes.
Destinos das exportações brasileiras de móveis e colchões em 2023
Falando sobre parcerias estratégicas, entre os países que mais ampliaram suas importações de móveis e colchões brasileiros em 2023, destaca-se o Uruguai, com um aumento de 16% em relação a 2022 e uma participação total de 10,9% ao longo do ano.
A diversificação de mercado é evidente, pois países de diferentes regiões e continentes figuram entre os dez principais destinos das exportações de móveis e colchões brasileiros. Isso ressalta a importância dessa abordagem para a sustentação do comércio exterior no setor.
A diretora-executiva da ABIMÓVEL e gerente do Projeto Brazilian Furniture, Cândida Cervieri, destaca o papel estratégico do setor moveleiro nacional para o país. Ela enfatiza que, apesar dos desafios enfrentados em 2023, a indústria está analisando estratégias para superar essas adversidades, buscando inovações que diferenciem e aumentem a competitividade. Cervieri reitera o compromisso em promover o design, a sustentabilidade, a diversidade e a qualidade dos móveis brasileiros em mercados globais.
Embora o ano anterior tenha sido marcado por ajustes e aprendizados para a indústria, as perspectivas para o novo ano são mais otimistas, alinhadas às análises de mercado realizadas durante a pandemia, que previam uma restabilização e retomada mais significativa a partir de 2024.
No entanto, essas projeções estão condicionadas ao cenário econômico e geopolítico no Brasil e no mundo, incluindo o controle inflacionário na cadeia produtiva de móveis e colchões. Diversos fatores, como a Guerra na Ucrânia, os conflitos entre Hamas e Israel, as tensões no Mar Vermelho, e o comportamento da economia e da produção industrial na China, são variáveis que influenciam diretamente nos preços das commodities internacionais, desempenhando um papel crucial nas projeções e desempenho da indústria.
Geração de valor como estratégia de diferenciação no mercado internacional
“A competitividade do Brasil na produção de móveis, especialmente de madeira, é incontestável e as empresas brasileiras devem apostar no crescimento da sua veia exportadora, no longo prazo, tomando o cuidado de se posicionarem como fornecedoras de produtos com alta diferenciação e design, não apenas orientados por preço”, aconselha Marcelo Prado, diretor do IEMI, empresa de pesquisa de mercado parceira da ABIMÓVEL.
“O setor possui estrutura produtiva e know-how para criar produtos capazes de gerar muito mais valor para os produtores nacionais e de grande atratividade para os consumidores internacionais. Algumas empresas, apoiadas pelo Projeto Brazilian Furniture, por exemplo, já mostraram o caminho e os prêmios de design alcançados lá fora, comprovando o potencial e a eficácia dessa estratégia”.
O Brazilian Furniture, realizado em parceria pela ABIMÓVEL e ApexBrasil, é uma iniciativa chave para aumentar a competitividade do setor moveleiro, tanto no mercado interno quanto no exterior. O projeto concentra-se na otimização de processos, no desenvolvimento de produtos de maior valor agregado que combinem qualidade, gestão sustentável e design integrado à indústria, além de buscar melhorias no ambiente de negócios ao longo da cadeia produtiva.
Participar de feiras internacionais, missões comerciais, projetos de imagem junto à imprensa internacional, projetos compradores com contatos comerciais em mercados-alvo, bem como promover o Design Brasil + Indústria e o programa de sustentabilidade SIMB, são algumas das iniciativas do projeto.
Cândida destaca que em 2024 continuarão participando de eventos globais importantes, como as Semanas de Design de Milão e Nova York, além de outras ações planejadas para fortalecer a presença do móvel brasileiro no cenário internacional. Essas iniciativas são consideradas fundamentais para promover as marcas brasileiras, aumentar a participação do Brasil no mercado global e, consequentemente, melhorar as margens de produção e vendas das empresas associadas, incentivando a inovação e o constante desenvolvimento.
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