Consumidor reage, mas mercado segue cauteloso

Indicadores de julho mostram melhora moderada na percepção das famílias, mas queda na confiança do comércio e das empresas reforça cenário de incertezas

Publicado em 28 de agosto de 2025 | 16:03 |Por: Julia Magalhães

Após um breve recuo em junho, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) retoma, em julho, a trajetória de alta iniciada em março deste ano, segundo dados do FGV IBRE. A alta foi de 0,8 ponto, elevando o indicador para 86,7 pontos – o maior nível desde março. Apesar da recuperação, o movimento é descrito como “gradual e ainda limitado por incertezas futuras”, conforme avaliação da economista da FGV, Anna Carolina Gouveia.

A melhora na percepção das famílias foi puxada principalmente pelo aumento no ímpeto de compra de bens duráveis, que avançou 10,8 pontos, atingindo 86,9 pontos – o maior patamar desde dezembro de 2024. O resultado é especialmente positivo para o varejo moveleiro, já que esse segmento está diretamente enquadrado na categoria de bens duráveis e pode se beneficiar desse movimento de recuperação.

Houve ainda avanço nos índices que medem a situação atual da economia e das finanças domésticas, com destaque para as faixas de renda mais baixa e mais alta. Já os indicadores de expectativa com relação ao futuro recuaram, especialmente na avaliação da situação financeira futura, que caiu 6,2 pontos.

“O aumento modesto do ICC refletiu uma melhora também moderada das avaliações sobre o presente e o futuro, motivada principalmente pelos consumidores da faixa de renda mais baixa. Entre os quesitos, os indicadores que avaliam a economia e a situação financeira das famílias apresentaram alta em julho, enquanto os indicadores relacionados às expectativas futuras mostraram sinais divergentes”, explica Anna Carolina.

De acordo com ela, o avanço no ímpeto de compra de duráveis foi o principal motor do ICC em julho, ainda que os indicadores de expectativas futuras tenham recuado. “Esse quadro sugere que a retomada da confiança é gradativa e sustentada por uma melhora nas condições atuais, mas ainda limitada por incertezas com relação ao futuro”, afirma.

O Índice de Situação Atual subiu 0,5 ponto e o Índice de Expectativas, 0,7 ponto – variações discretas que mantêm o cenário de cautela.

Apesar da intenção de consumo mais elevada, o ambiente inflacionário traz um alerta. O IPC-S da quarta quadrissemana de julho subiu 0,37%, acumulando alta de 4,05% nos últimos 12 meses. Quatro das sete capitais analisadas apresentaram aceleração da inflação.

Esse cenário pode pressionar o orçamento familiar nos próximos meses, influenciando diretamente a decisão de compra de bens duráveis e o desempenho do varejo.

Comércio volta a perder fôlego

Enquanto o consumidor mostra alguma retomada, o comércio registra perda de ritmo. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) caiu 2,2 pontos em julho, para 87,1 pontos, interrompendo uma sequência de três meses de alta. O recuo foi disseminado e afetou três dos seis principais segmentos monitorados.

Segundo a economista do FGV IBRE, Geórgia Veloso, mesmo com um cenário mais favorável de renda e emprego, a percepção dos varejistas é de que a recuperação do consumo ainda não é consistente. “A confiança do comércio vinha registrando altas nos últimos três meses, aproximando-se dos níveis observados em 2024. No entanto, essa trajetória já dava sinais de desaceleração e agora apresenta queda generalizada em todos os indicadores avaliados. Todos os componentes do índice apresentam resultados abaixo dos 90 pontos. Isso indica que, apesar do cenário favorável de renda e emprego, o setor ainda não observa uma recuperação consistente do consumo”, explica. “A confiança baixa e disseminada entre todos os tipos de consumo evidencia que a retomada do setor depende de uma melhora ampla e sustentada do cenário macroeconômico, que segue desafiador”, complementa.

Tanto a avaliação sobre o momento presente, quanto às expectativas futuras pioraram. O Índice de Situação Atual (ISA-COM) caiu 2,4 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE-COM) recuou 1,8 pontos. Os varejistas estão menos otimistas com as vendas nos próximos três meses e com a tendência dos negócios no horizonte de seis meses, indicando cautela nas decisões comerciais.

Setor empresarial também mostra sinais de enfraquecimento

O Índice de Confiança Empresarial (ICE) também apresentou queda, de 0,8 ponto, marcando 91,3 pontos em julho. Essa é a segunda retração mensal consecutiva, refletindo a piora nas expectativas entre os setores, sobretudo na Indústria de Transformação.

A avaliação atual sobre os negócios recuou levemente, mas a tendência de queda é mais acentuada no horizonte de médio prazo. O IE-E caiu 1,1 ponto, atingindo 89,1 – o menor nível desde outubro de 2023. Entre os fatores que preocupam, está o aumento das alíquotas de importação pelos EUA, que pode impactar negativamente a indústria brasileira.

“A queda da confiança em julho reflete principalmente a piora das expectativas, que ocorre de forma bastante disseminada e intensa entre os setores. Um destaque negativo é a Indústria de Transformação, com piores avaliações sobre o momento presente e intensificação da tendência de aumento do pessimismo em relação aos meses seguintes, um possível reflexo do anúncio de aumento das alíquotas de importação pelos EUA, anunciado em 9 de julho”, avalia o pesquisador do FGV IBRE, Aloisio Campelo Jr.

Além disso, o levantamento do FGV IBRE aponta uma ampliação da diferença entre os índices de expectativas e os de percepção atual nos setores monitorados, o que revela um descolamento entre o que se espera e o que se observa na prática. Essa distância crescente reforça a leitura de um ambiente ainda instável, no qual a confiança se apoia mais na esperança do que em resultados concretos.

Reflexos no varejo moveleiro

Para o varejo de móveis, o cenário de julho reforça a necessidade de planejamento cauteloso e ações direcionadas. A leve recuperação na confiança dos consumidores indica um ambiente propício à reativação do consumo de bens duráveis, especialmente entre públicos sensíveis ao crédito e à renda. Ao mesmo tempo, a inflação crescente e a baixa confiança do comércio e da indústria acendem o alerta para estratégias mais acertadas no ponto de venda, mix de produtos ajustado e foco em diferenciação.

Setores como serviços e construção civil também apresentaram queda em seus índices de confiança, indicando menor expectativa de investimentos e arrefecimento nas obras e reformas. Para o varejo moveleiro, isso significa um possível impacto indireto nas vendas, exigindo ainda mais atenção à conjuntura e ao comportamento do consumidor final.

Diante de um segundo semestre que tende a ser marcado por instabilidades políticas e econômicas, o lojista moveleiro precisará equilibrar expectativas com realidade, investindo em relacionamento com o cliente, gestão de estoque e leitura constante dos indicadores do mercado.

Crédito: Adobe Stock

Planejamento comercial

Com o último trimestre do ano se aproximando, é hora de acionar o radar para duas datas importantes do varejo: a Semana do Brasil, no início de setembro, e a Black Friday, no fim de novembro. Ambas exigem preparo logístico, ações promocionais bem estruturadas e equipe treinada. Além disso, o Natal também merece atenção especial – mesmo parecendo distante, campanhas e estoques precisam começar a ser planejados agora.

Mesmo em um cenário de cautela, os dados mostram uma leve retomada da confiança do consumidor, o que pode indicar boas oportunidades para quem estiver preparado. Confira alguns pontos de atenção:

  • Antecipe a reposição do mix: priorize produtos com giro rápido e linhas promocionais.
  • Organize campanhas por perfil de cliente: públicos sensíveis a preço podem responder melhor com combos e descontos diretos. Já quem busca valor agregado pode ser atraído por design e funcionalidade.
  • Treine a equipe: atendimento consultivo, que entende o momento de cada cliente, pode ser decisivo na conversão.
  • Acompanhe os indicadores econômicos: entender o contexto ajuda a ajustar expectativas e tomar decisões mais acertadas.

Planejamento agora é sinônimo de competitividade no fim do ano.

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