Taxação dos EUA já causa 4 mil demissões no setor madeireiro, afirma Abimci
Ineficiência nas tratativas por parte do governo brasileiro levará a mais demissões no setor madeireiro, alerta Abimci
Publicado em 24 de setembro de 2025 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo

Passados pouco mais de 30 dias do início da taxação de 50% imposta pelos Estados Unidos sobre os produtos do Brasil, um levantamento da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), realizado junto às empresas associadas, apurou que a aplicação da medida levou à demissão de milhares de trabalhadores no setor madeireiro.
Desde o anúncio da taxação, em 9 de julho, até 15 de setembro, somente na amostragem da Abimci, foram registradas em torno de 4 mil demissões; cerca de 5,5 mil trabalhadores estão em férias coletivas e 1,1 mil em layoff. E para piorar ainda mais o cenário, caso a situação tarifária persista, projeta-se a perda de aproximadamente mais 4,5 mil postos de trabalho nos próximos 60 dias.
Esse resultado reflete a retração do mercado, que começou em julho com o cancelamento de contratos e embarques. Desde então, houve redução, também, no fechamento de novos contratos devido à imprevisibilidade tarifária gerada após o anúncio da taxação. O cenário é confirmado, também, pelas exportações de agosto que, em comparação com julho, apontam quedas de 35% a 50% no volume embarcado para os Estados Unidos de alguns dos principais produtos de madeira processada.
Ao longo dos últimos meses, a Abimci, como entidade nacional, participou de reuniões com o MDIC, apresentou números e mostrou a importância, capilaridade e abrangência do setor de madeira processada. Em todas as agendas, solicitou às autoridades brasileiras que fosse aberto um canal de diálogo diplomático com o governo norte-americano e que as negociações fossem baseadas em argumentações técnicas e comerciais, isentas de componentes políticos ou ideológicos.
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A associação reforçou, ainda, ao governo federal sobre a representatividade do setor na balança comercial brasileira, demonstrando a significativa participação no mercado norte-americano, conquistada e consolidada ao longo de décadas com o desenvolvimento de parcerias comerciais, investimentos em tecnologia no parque fabril das nossas indústrias, atendimento às certificações e exigências técnicas específicas da construção civil, principal segmento de destino dos produtos madeireiros brasileiros nos Estados Unidos.
Também temos defendido o setor de forma técnica frente às investigações que estão em curso dos processos das Seções 232 e 301, abertos pelos Estados Unidos e que também poderão atingir ainda mais o setor, caso as negociações entre os dois países não avancem.
Os números levantados pela Abimci não deixam dúvidas: a manutenção das atuais tarifas agravará ainda mais a situação em toda a cadeia produtiva de madeira processada, resultando em mais demissões. No nosso entendimento, a única solução é a negociação direta entre os governos do Brasil e dos Estados Unidos para uma adequação das tarifas e o restabelecimento do comércio bilateral. E essa competência é exclusiva do governo federal que, até o momento, não foi exercida com o necessário bom senso.
Enquanto isso, nossos governantes assistem, de forma passiva, milhares de trabalhadores perderem sua fonte de renda. A nós resta testemunhar, com consternação, a desestruturação de cadeias produtivas inteiras consolidadas há anos, que sustentam inúmeras famílias em diferentes regiões do país.
Números do setor madeireiro
Em 2024, o setor madeireiro brasileiro exportou US$ 1,6 bilhão em produtos para os Estados Unidos, destino que concentra, em média, 50% da produção nacional. Em alguns segmentos, a dependência é ainda maior, com 100% das vendas voltadas exclusivamente ao mercado norte-americano. A aplicação das novas taxas impostas pelos EUA traz impactos diretos nos cerca de 180 mil empregos formais em todo o Brasil, comprometendo a sustentabilidade econômica e social da cadeia produtiva.