Reforma Tributária redesenha margens e incentivos

Entenda o porquê a Reforma Tributária ela pode ser o maior choque competitivo para empresas brasileiras

Publicado em 12 de novembro de 2025 | 08:29 |Por: Julia Magalhães

Aprovada sob o argumento da simplificação e neutralidade, a Reforma Tributária começa a redesenhar as bases fiscais e competitivas do Brasil. Mais do que uma reorganização técnica, o novo sistema de impostos – centrado na criação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e da CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços) – tem potencial para reconfigurar cadeias produtivas, alterar margens operacionais e afetar o posicionamento estratégico das empresas brasileiras no cenário global.

A análise é do diretor da consultoria All Tax, Roberto de Lázari, que alerta para o risco de subestimar os impactos dessa transição. Em um ambiente global cada vez mais fragmentado do ponto de vista regulatório – com tensões geopolíticas, disputas por bases tributárias e políticas industriais ambiciosas como o Inflation Reduction Act (EUA) e o friendshoring europeu – o Brasil entra em uma nova etapa que exigirá mais do que simples compliance fiscal.

Impactos para setores produtivos

A nova estrutura promete maior racionalização, mas redistribui silenciosamente vantagens fiscais entre setores. Modelos de negócios baseados em cadeias curtas e digitalizadas tendem a se beneficiar da padronização, enquanto indústrias com múltiplas etapas e informalidade nas operações enfrentam riscos concretos, como dificuldade na recuperação de créditos e compressão de margens.

Setores com alta complexidade operacional – como energia, agronegócio, logística e varejo – devem observar mudanças profundas nos incentivos. No caso da indústria de base, por exemplo, a verticalização pode perder atratividade diante da regionalização produtiva e da fricção na devolução de créditos. Já no varejo, a gestão eficiente dos créditos passará a ser um diferencial estratégico. No agro, práticas informais que antes eram toleradas podem se tornar um entrave ao acesso a mercados que exigem rastreabilidade e aderência a padrões ESG.

Um novo cenário fiscal

Ao adotar uma estrutura híbrida que se aproxima de um “IVA seletivo”, o Brasil se afasta da lógica europeia de devolução automatizada de créditos. Em vez disso, institucionaliza um modelo de fricção fiscal que exigirá inteligência estratégica para ser interpretado e gerido de forma eficiente.

De acordo com a All Tax, a neutralidade fiscal prometida tende a variar conforme o nível de formalização e digitalização das empresas. Essa assimetria cria um ambiente com ganhadores e perdedores – o que exige das lideranças empresariais um novo tipo de preparo: mais analítico, mais estratégico e conectado às dinâmicas globais.

Geopolítica dos impostos

A Reforma Tributária de 2025 não ocorre em um vácuo. Ela se conecta a um movimento internacional mais amplo de disputa por receitas fiscais e redefinição de incentivos econômicos. O avanço de políticas como o Pillar Two, da OCDE, indica que empresas multinacionais precisarão rever estratégias de alocação de capital, operações de M&A e narrativa para investidores.

Para empresas brasileiras com atuação internacional ou inseridas em cadeias globais, entender como o novo sistema se articula com práticas e políticas estrangeiras será fundamental. A capacidade de antecipar riscos e se adaptar a esse novo tabuleiro pode determinar quem se fortalece e quem perde espaço.

Neste contexto, compliance deixa de ser um fim e passa a ser um meio. O diferencial competitivo estará na capacidade de transformar obrigações fiscais em vantagem estratégica. Isso implica mapear impactos por setor, revisar modelos operacionais, integrar inteligência fiscal à governança e reposicionar a comunicação com stakeholders e investidores.

Roberto de Lázari – Diretor Comercial e de Parcerias Estratégicas da All Tax / Crédito: Divulgação

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