Decisões que vêm dos dados
Entender os 5 V’s do Big Data é o primeiro passo para aplicar essas tecnologias com segurança e obter melhores resultados
Publicado em 14 de novembro de 2025 | 08:45 |Por: Julia Magalhães

O varejo moveleiro vive um novo ciclo de transformação. O uso de dados se tornou um diferencial competitivo e, cada vez mais, pequenas e médias lojas têm acesso a ferramentas que antes eram exclusividade de grandes redes. Nesse cenário, os chamados 5 V’s do Big Data – volume, velocidade, variedade, veracidade e valor – ganham destaque como pilares para transformar informações dispersas em decisões mais acertadas.
O ponto de partida é claro: tudo e todos estão gerando dados o tempo inteiro, dos consumidores em redes sociais aos sistemas internos das empresas. Esse volume crescente de informações permite automatizar decisões, personalizar ofertas e estruturar vitrines digitais com base no comportamento do público.
Embora o termo Big Data esteja em uso há anos, o especialista em transformação digital e experiência do cliente, Fernando Moulin, ressalta que seu entendimento ainda é limitado em muitas empresas, apesar de sua influência crescente nas decisões de consumo.
Ele observa que vivemos em um ambiente digital que produz, a cada segundo, uma quantidade massiva de dados – muitas vezes em formatos não estruturados – oriundos de ações comuns como cliques no celular, navegação em redes sociais, e-mails e compras on-line.
Esse impacto, segundo o especialista, já é sentido em situações cotidianas, como o recebimento de ofertas personalizadas durante a navegação. “Às vezes você fala sobre um produto e logo aparece um anúncio relacionado. Isso acontece porque tudo e todos estão sempre gerando dados, desde consumidores até empresas”, explica.
Essas informações, captadas em tempo real, são processadas por algoritmos capazes de cruzar navegação, cliques, preferências e histórico de compras para gerar comunicações personalizadas.
“Hoje existem soluções acessíveis, até com inteligência artificial embarcada, que ajudam desde o pequeno lojista a capturar os dados das transações com clientes e aplicar esse conhecimento para vender mais, gerir melhor o estoque e melhorar a experiência de atendimento”, afirma.
Segundo Moulin, esse conjunto de dados sustenta uma nova lógica de mercado: o comportamento físico e digital das pessoas passa a ser traduzido de forma estatística. Quando multiplicadas por milhões de usuários, essas informações ultrapassam a capacidade de análise humana e exigem ferramentas robustas como softwares especializados, dashboards e sistemas de inteligência artificial.
O ponto de atenção, no entanto, está em transformar dados em decisões que gerem valor. “A gestão tradicional equilibra razão e emoção. Já os dados são objetivos, mas exigem interpretação cuidadosa. O sucesso está em integrar esses dois mundos: o poder analítico dos dados com a sensibilidade da gestão humana”, salienta.
Entendendo os 5 V’s na prática
Para os lojistas, o desafio está em entender como os dados se aplicam à sua realidade. O primeiro ponto é compreender que o volume de informações geradas – seja via transações no PDV, acessos ao site, interações nas redes sociais ou relatórios de estoque – é um recurso valioso, mas muitas vezes subutilizado. Moulin reforça que o mais importante é reconhecer que os dados só geram resultado quando são bem utilizados.
“É fundamental conhecer as fontes de dados, entender sua veracidade e só então pensar em aplicações que melhorem a experiência do cliente”, afirma. Ele destaca que trabalhar com um CRM eficiente e manter canais digitais integrados (além do WhatsApp ou site) são passos importantes para capturar, organizar e usar informações que já estão disponíveis nas transações com os clientes.
Apesar do potencial, muitos lojistas ainda não aproveitam as oportunidades que esses dados oferecem. “Eu mesmo reformei meu apartamento recentemente, comprei móveis em diferentes lojas, e nenhuma delas me procurou depois. Ninguém perguntou se eu precisava de um sofá novo, se tinha filhos ou se já tinha comprado uma cama”, relata.
O exemplo mostra como informações simples, muitas vezes já disponíveis, poderiam gerar ações de relacionamento e novas vendas, mas acabam sendo desperdiçadas.
A velocidade com que esses dados são captados e processados é igualmente importante. Não basta ter informações: é preciso transformá-las em respostas rápidas e úteis. Mesmo pequenas lojas podem usar o histórico de vendas e o comportamento de compra para embasar decisões mais estratégicas em relação a campanhas sazonais, precificação e composição do mix.
O especialista lembra que existem ferramentas simples e acessíveis que permitem filtrar e visualizar esses dados com clareza, como planilhas automatizadas, dashboards integrados e softwares de CRM com relatórios prontos. O essencial é dar o primeiro passo: mesmo soluções básicas já podem gerar valor quando bem aplicadas, e a curva de aprendizado tende a ser rápida.
A variedade diz respeito à capacidade de cruzar diferentes fontes de dados – algo que pode parecer distante da realidade do pequeno lojista, mas não precisa ser. Já é possível, com ferramentas acessíveis, analisar o comportamento de compra dos clientes, o desempenho de cada categoria e comparar preços com plataformas como Google, Buscapé e Zoom.
Um exemplo prático é observar os produtos mais buscados no Google por região, comparar com os itens mais vendidos na loja e verificar se há sinergia entre oferta e demanda. Isso permite ajustar o sortimento com mais precisão, otimizando espaço e margem de lucro.
Entre os 5 V’s, Moulin destaca a veracidade como o maior desafio. “Muitos lojistas sequer sabem quais são suas fontes de dados, ou não validam essas informações antes de usá-las. Dados incorretos ou incompletos podem levar a decisões ruins”, alerta. Para minimizar esse risco, é essencial aplicar rotinas de verificação, como atualizações periódicas do cadastro de clientes e revisão de métricas antes de lançar campanhas.
Por fim, o valor está diretamente ligado à capacidade de transformar dados em benefícios reais para o cliente ou para o negócio. “Já que o consumidor está fornecendo dados, o mínimo é usar isso para entregar algo relevante, como uma promoção, uma sugestão personalizada ou um atendimento mais assertivo”, completa. Nesse sentido, a personalização se torna não apenas uma vantagem competitiva, mas uma expectativa crescente do consumidor.

Fernando Moulin, especialista em transformação digital e experiência do cliente / Crédito: Divulgação
Da teoria à prática: o papel da IA
A Inteligência Artificial (IA) tem ampliado exponencialmente o uso dos dados. Assistentes virtuais, automação de atendimento, CRMs inteligentes e sugestões de compra personalizadas já estão ao alcance de empresas de todos os portes. Muitas dessas soluções são acessíveis e podem ser implementadas de forma gradual, inclusive por lojistas menores, sem necessidade de grandes equipes ou investimentos.
Moulin reforça que essas tecnologias devem ser vistas como aliadas, e não substitutas da inteligência humana. Ele lembra que a qualidade das respostas depende muito de como a pergunta é formulada: quanto mais claras e direcionadas, maior a chance de a IA convergir para uma resposta útil.
A recomendação do especialista é simples: testar, praticar e usar as soluções já disponíveis no mercado, sem a necessidade de buscar sempre novidades. ChatGPT, Gemini e Copilot, da Microsoft, são alguns exemplos que podem apoiar o dia a dia do lojista.
Outro ponto importante, segundo Moulin, é que o lojista deve dominar o conhecimento do próprio negócio para avaliar o que a tecnologia entrega. “Nesse contexto, cabe ao lojista fazer a curadoria das informações, identificar o que está certo ou não e, sempre que possível, solicitar as fontes de onde os dados foram retirados para verificar sua confiabilidade.”
Ele reforça ainda que a IA não precisa ser a única base de consulta: ferramentas de busca como o Google podem complementar e enriquecer a análise, tornando o processo de decisão mais seguro e consistente.
Captura de dados e LGPD
No ponto de venda físico, a coleta de dados ainda costuma se limitar ao CPF e a alguns cadastros básicos. Mas o processo pode ser enriquecido. Perguntas simples, feitas de forma transparente, ajudam a compreender preferências e hábitos do consumidor. O essencial é oferecer uma contrapartida clara: benefícios reais como descontos, ofertas exclusivas ou conteúdos personalizados.
Moulin exemplifica: o lojista pode solicitar e-mail ou celular do cliente já no ato da compra, deixando claro o objetivo do uso. “Podemos enviar promoções direcionadas?” ou “Gostaria de responder uma pesquisa rápida para que possamos atendê-lo melhor?” são abordagens possíveis, desde que agreguem valor para o consumidor.
Para o especialista, esses processos pedem criatividade e empatia. “É preciso pensar sempre com a visão do cliente: o que me faria, como consumidor, compartilhar meus dados pessoais?”, questiona. Essa lógica, segundo ele, é o que garante cadastros mais completos e úteis para futuras ações de relacionamento.
Todo esse cuidado precisa estar alinhado à Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Moulin recomenda que o lojista acompanhe as práticas do setor e busque orientação jurídica sempre que houver dúvida. Entre as boas práticas estão: explicitar como as informações serão usadas, pedir consentimento expresso e oferecer a opção de descadastramento a qualquer momento.
Primeiros passos
Para quem quer começar, Moulin sugere procurar apoio de especialistas ou agências que já trabalham com CRM e marketing de dados. Ele também recomenda pesquisar soluções já consolidadas no mercado, como HubSpot, RD Station ou Zorro, e seguir as rotinas de automatização que essas ferramentas oferecem.
“Se você trabalhar de acordo com a parametrização que essas soluções sugerem, pouco a pouco já conseguirá fazer algo bem estruturado”, explica. Nesse processo, contar com o acompanhamento de um profissional especializado em marketing de dados pode acelerar os resultados e evitar erros iniciais.
Outra orientação é dar o primeiro passo mesmo com recursos simples. O lojista pode organizar sua base de clientes em categorias como: novos, recorrentes e inativos. A partir disso, elaborar campanhas direcionadas por WhatsApp ou e-mail com ofertas específicas para cada grupo. A prática, embora básica, costuma aumentar a taxa de retorno e o engajamento.
Mais do que uma tendência, a gestão inteligente de dados é uma necessidade crescente para o varejo de móveis, que lida com margens apertadas, ciclos de venda longos e um consumidor cada vez mais exigente.
“Estamos construindo um futuro no qual os dados e a inteligência artificial não apenas transformam o modo que as empresas operam, mas também a maneira como vivemos e tomamos decisões em nosso dia a dia, tornando a compreensão e a adaptação a essas tecnologias um fator essencial para o sucesso e a competitividade. E, muitas vezes, compreender o que está acontecendo exige um retorno a conceitos de base, como Big Data e seus 5Vs”, finaliza Moulin.
Os 5 V’s do Big Data: pilares para a geração de valor
Para que as empresas extraiam maior valor dos dados, o especialista em transformação digital e experiência do cliente, Fernando Moulin, destaca que o conceito dos “cinco V’s do Big Data” continua sendo um guia essencial a ser seguido. São eles:
- Volume: a necessidade de técnicas estatísticas específicas para lidar com a quantidade brutal de informações disponíveis e não estruturadas, de forma aplicável;
- Velocidade: a capacidade de processar dados em tempo real e extrair conclusões objetivas rapidamente, como ocorre em análises esportivas na Fórmula 1 ou na NBA durante suas transmissões;
- Variedade: a importância de cruzar diferentes fontes de informação para obter uma visão abrangente, indo além das bases isoladas.
- Veracidade: a garantia de que as fontes de dados são confiáveis e de alta qualidade, evitando conclusões equivocadas a partir de informações corrompidas ou imprecisas.
- Valor: a aplicabilidade real dos dados, sempre vinculada à geração de benefícios concretos para usuários ou acionistas, em estudos de casos práticos que tragam ganhos imediatos.
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