Congresso Nacional Moveleiro tem 1º dia de muito conteúdo
12º Congresso Nacional Moveleiro integrou empresas, mostrou estratégias, além de gerar negócios em seu primeiro dia com cerca de 300 visitantes
Publicado em 1 de outubro de 2025 | 17:30 |Por: Thiago Rodrigo

O 12º Congresso Nacional Moveleiro iniciou hoje em Curitiba, capital do Paraná que é o ponto de encontro da indústria moveleira nacional até amanhã. O evento reúne lideranças da indústria, varejo, design e economia para debater os grandes temas que impactam o setor e projetar o mobiliário brasileiro para o futuro.
O primeiro dia de palestras, o 12º Congresso Nacional Moveleiro começou com o presidente da Abimóvel e vice-presidente da Fiep, Irineu Munhoz, destacou a importância do setor moveleiro na geração de empregos e promoção da inovação para além da fabricação dos produtos.
“Sabemos que desafios existem, crédito caro, consumo em retração, exigências cada vez maiores dos mercados, mas também sabemos que a indústria moveleira brasileira nunca fugiu de desafios. Pelo contrário, são nos momentos mais difíceis que mostramos nossa capacidade de se reinventar e crescer”.
– Projeto Comprador atrai importadores no CNM 2025
Para Irineu, o futuro do setor moveleiro se constrói com visão, união e coragem e é isso que este congresso representa. “Vamos juntos conectar empresas, gerar negócios e fortalecer ainda mais o nosso setor”, finalizou o presidente da Abimóvel em sua fala de abertura.
O chefe de gabinete do vice-presidente da República, Pedro Guerra, comentou em sua fala sobre o afogo que a indústria moveleira nacional está sofrendo com as taxas impostas pelos Estados Unidos. “Essas tarifas não têm base concorrencial nem comercial”, frisou e acrescentou:
“Afinal, oito dos principais produtos que os Estados Unidos exportam para o Brasil, estão zeradas. Os EUA, possuem com o Brasil, um raro superávit comercial. Fazer parte do governo ou da oposição são coisas da vida, mas fazer oposição com o Brasil é um atentado contra a pátria”.
Segundo ele, a indústria moveleira foi alvejada com essas tarifas: “mas estamos trabalhando para desfazer esse enorme ônus”. Nesse sentido, ele destacou seis frentes para ajudar nisso: o crédito por meio do Plano Brasil Soberano; flexibilização tributária, por meio do drawback e Reintegra.
Igualmente a diversificação de mercados, com busca de mercados para inserção dos móveis a partir da ApexBrasil e da Abimóvel (como se vê no projeto setorial Brazilian Furniture; reduções tarifárias junto ao governo americano; parceria privada; além de compras governamentais.
Transformando dados e informações em estratégia competitiva
O diretor do Iemi – Inteligência de Mercado, Marcelo Prado, mostrou que em 20 anos houve mais de 31 milhões de brasileiros, sendo 17% o crescimento de habitantes, com aumento de 65% do PIB,41% da renda per capita, com aumento no poder de compra das pessoas. “Porém, as medidas econômicas não foram favoráveis para a indústria. Se crescemos 65% o PIB, crescemos apenas 16% a indústria de transformação”, ponderou – em 20 anos, também houve 75% nos gastos das famílias, com 7,5 trilhões de reais consumidos em 2024.
Em 20 anos, houve aumento de 55% no número de indústrias e 35% no emprego, com 2015 sendo o pico da indústria moveleira em termos reais, com 35% de crescimento no período. A indústria de móveis é maior que a indústria de colchões, mas são os colchões que tiveram melhor desempenho no período de duas décadas, com crescimento de 68% na produção em peças, contra 36% de móveis.
A geração de valor nos produtos e ganho de produtividade também teve aumento com 9% no preço médio, 11% na produtividade e 21% na receita por funcionário na indústria. Os móveis para escritório e salas de estar lideram as prioridades de compra na decoração das casas.
Segundo ele, a exportação diminuiu de 11% para 5% em 20 anos porque o Brasil deixou de ser exportador de móveis competitivos – papel que segundo ele se deve aos asiáticos e, futuramente, africanos – para a venda de produtos com design e brasilidade, principalmente para Europa e Estados Unidos, em ambos os casos.
“As dificuldades do poder de compra passa pelo custo de vida das pessoas. O aumento de gasto das famílias aumentou, mas o custo para viver também e isso atrapalha em muitos sentidos”, também pontuou o diretor do Iemi. A idade média da população brasileira aumentou de 29 para 36 anos de idade, sendo que pessoas com 45 anos ou mais aumentou de 23% para 38%. “O Brasil começou a ter um declínio da população jovem”, frisou.
Houve um bônus demográfico e de domicílios, que passou de 60 para 78 milhões (+29%), sendo que teve oito vezes aumento médio dos gastos com a segunda casa. Também passou de 290 mil para 574 mil quartos de hotel no Brasil. Segundo Prado, muitas cidades do interior estão com alto crescimento, há muitas pessoas mais velhas que viajam, além de muitos imóveis decorados para alugar em Airbnb.
O móvel não perdeu em participação relativa no consumo das famílias. “De 2019 para 2024, o consumo de móveis cresceu 4,1% em dólares, enquanto o mundo caiu 0,4% no período. Isto tem a ver com o grau de maturidade que o mercado moveleiro brasileiro tem em relação ao restante do mundo”, apontou e acrescentou: “Com juros baixos e maior poder de compra, as pessoas conseguem consumir mais bens duráveis”.
Na pesquisa com consumidores que o Iemi fez com o Brasil todo, o produto não encantar e serem caros pela qualidade ofertada estão entre os mais votados como motivos. Entretanto, entre a terceira e quinta posição, estão questões de sustentabilidade como atividades que agridem o meio ambiente, emprego de trabalhadores em condições degradantes e empresas não serem responsáveis socialmente. “É um recado que os consumidores nos dão, que a sustentabilidade sendo um desafio enorme”.
Este ano teremos um crescimento fraco da indústria moveleira brasileira, mas em 2014 teve o maior ano em 15 anos da indústria de móveis, com 91,6 bilhões de produção, crescimento de mais de 10% em relação a 2023. A evolução da produção de móveis é de 0,5% acima do pré-pandemia.
A porcentagem da produção por estado se concentrou em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Minas Gerais e Santa Catarina, que representam mais de 80% da produção moveleira do Brasil. Os três estados do Sul do Brasil representam 83% das exportações, sendo que os Estados Unidos têm 30% de participação, mas com uma estimativa de queda de 30% em 2025 sobre 2024, afetando em 2% a exportação total de móveis pelo Brasil.
No que tange ao varejo de móveis, o consumo foi de 127,7 bilhões de reais em 2024, crescimento de 10,6% sobre 2023. O varejo está estruturado principalmente com lojas independentes (44,4%), lojas de departamento (26,9%), lojas especializadas (19,6%) e móveis planejados (16,2%) em valores – sendo que em móveis planejados essa porcentagem dobra em relação a volume, o inverso das lojas de departamento que tem maior venda de volume. O e-commerce cresceu 40,4% de 2019 para 2024.
“O Brasil é um país de renda média. É isso mesmo. Nós somos um grande mercado B/C. E como grande mercado B/C, as maiores marcas tendem a se concentrar nesse mercado que é 70% da população e 68% do consumo de móveis”, explicou Prado sobre as classes de consumo de móveis, que teve maior consumo pelas classes A e B2.
O cenário para 2025, de acordo com o diretor do Iemi, é de queda de 2,5% no número de peças no varejo de móveis, por causa dos juros, mas alta de 1,8% na expansão das vendas. “O mercado foi travado por conta dos juros muito altos. Estão falando da volta do consignado, mas é quase 6% de juros ao mês no consignado, isso ajuda a quebrar as famílias”, opina. Na produção de móveis, o crescimento será de 2,6% no número de peças, com 5,8% de expansão nas vendas em reais. “A indústria ainda não sentiu a queda do varejo”, disse, ainda que a estimativa é de ter uma redução nas exportações (1,9% em dólares).
Para as indústrias crescerem na visão de Prado, a taxa de crescimento é uma média de resultados do grupo de empresas que cresce mais que o mercado mais o grupo de empresas que cresce menos que o mercado. “Estar no grupo de empresas que cresce mais depende das ações que são tomadas no plano estratégico que são tornados em práticas”, destacou.
Para isso, é preciso criar estratégias para crescer dentro do cliente, é uma estratégia específica de criar relacionamento, bem como ocupar novos espaços na mente do cliente. Também é preciso saber os mercados regionais que vou atuar, pois tem potencial; novas formas de atuação, pois há muitas formas de comercializar móveis; novos canais de distribuição com multicanalidades; novos segmentos consumidores e novos produtos e serviços.
Em conclusão, Prado destacou que o mobiliário perdeu participação nos gastos dos consumidores frente a outros bens de consumo, os consumidores possuem mais renda, são mais velhos e tem menos filhos, o aumento do número de domicílios e a segunda casa favoreceu a demanda dos móveis, a sustentabilidade e responsabilidade social são demandas do consumidor e são vantagens competitivas para a cadeia do mobiliário, bem como o potencial de consumo é muito maior do que há 20 anos, mas cabe às empresas criarem suas próprias estratégias para poder crescer mais que o mercado.
Radar de tendências e tecnologias na indústria moveleira
Gerente Sênior do Observatório do Sistema Fiep, Sidarta de Lima começou falando sobre como uma empresa age, colocando isso em quadrantes, com empresas sendo passivas com nível de planejamento e esforço baixo em frente às muitas mudanças no mundo corporativo; empresas reativas com comportamento de buscar trabalhar as situações na medida que as coisas vão acontecendo; empresas pré-ativas que tem nível de planejamento mais elevado enquanto as pró-ativas criam mercados e desenvolvem novos produtos,
Um ponto importante apontado por ele é que as empresas devem se perguntar o que podem fazer para mudar seu statuo quo. “É preciso olhar toda hora para o negócio, revisitar isso de uma maneira muito mais significativa. Uma última provocação é a teoria da curva de valor, como a gente se apropria das tendências. Olhando para as tendências, o que posso reduzir, eliminar, ampliar ou criar para o valor percebido pelos clientes”, destaca – o radar está disponível em rotas.obs.ind.br.
Em seguida, ele passou para Laila Wildauer, que mostrou o radar de tendências e tecnologias do Observatório da Fiep. São 196 tendências e tecnologias. Na primeira dimensão, Negócios e Mercado, há tecnologias habilitadores como plataformas de marketplace global; big data para inteligência de mercado e CRM potencializado pela Inteligência Artificial; hipersegmentação por meio de IA preditiva, big data e analytics; novas configurações familiares e carbono como moeda verde.
Em Gestão e Pessoas, a primeira tendência é a gestão 5.0 que coloca o ser humano no centro do processo. “No Employee Experience precisa ter um ambiente mais acolhedor e estimulante”, diz Laila. A aprendizagem infinita, arquitetura da inclusão e organizações líquidas com empresas que se adaptam às novas tendências de mercado, são outras tendências enxergadas. Um case existente é a integração de um novo funcionário feita em um ambiente digital dentro da nova empresa.
Na dimensão Fornecedores e Materiais, há como tendência uma diversificação de materiais; circularidade de materiais com ressignificação dos resíduos, por exemplo; embalagens invisíveis com tecnologias como polímeros de base renovável e compósitos de fibra vegetal; a cadeia antifrágil com plataforma de sourcing com IA e IoT para eficiência logística como tecnologias habilitadoras; por fim, a hiperconexão da cadeia com blockchain para rastreabilidade e RFID para rastreamento.
Na Produção, as unidades autônomas de fabricação são uma das tendências, com redes IoT, IA e robótica como tecnologias; o estoque inteligente tem robôs atuando com AGVs na intralogística, por exemplo; o direct to production tem pedidos feito pelos consumidores diretamente para as fábricas através de IA, CAD/CAM; cibersegurança de ponta a ponta e descarbonização industrial são outras tendências apontadas pela coordenadora de prospectiva e planejamento no Observatório do Sistema Fiep. Neste sentido, ela apresentou a Marcena, primeira marcenaria online do Brasil com diferencial de fazer o pedido online e receber o orçamento na hora.
Em Produtos e Serviços, o mobiliário inteligente, o design generativo (IA generativa para design de produto), a personalização escalável (com IA generativa, manufatura aditiva, sistemas CAD/CAM parametrizados), o luxo silencioso e a identidade cultural no design são tendências desta dimensão averiguada pelo Observatório do Sistema Fiep. Laila convidou os presentes para ajudarem na construção da “Rota Estratégica da Indústria Moveleira Paranaense” que se trata de um grande planejamento estratégico de longo prazo para o setor moveleiro do estado.
Impactos da transformação digital no varejo e na indústria
O painel com moderação de Marcele Poiani, fundadora da MPoiani, teve a presença de Luiza Helena Trajano, presidente do conselho Magazine Luiza, e Esther Schattan, sócia-fundadora da Ornare. Luiza falou que em 1991, quando assumiu a empresa, lembra que uma mudança levava um ou dois anos, enquanto atualmente leva uma semana, algo que tende a diminuir com a inteligência artificial. “Este ambiente de transformação é uma coisa muito séria”, frisou.
Uma pergunta que sempre fazem para Luiza é se a loja física vai acabar. “As lojas físicas têm de mudar, é preciso se modernizar e não dá pra não entrar no mundo digital. Nós optamos por continuar com a loja física mesmo que nosso pessoal trabalhe no mobile”, contou. Preço e qualidade sempre foram importantes, mas de repente o prazo passou a ser tão importante quanto. “Compramos uma empresa para aprender a mexer com prazo”, disse.
Para mostrar que a loja física vai seguir de forma diferente, agora está lançando um espaço que é o encontro do físico com o digital, que une Netshoes, Kabum, Época, Estante Virtual e Magalu em um espaço com experiências, a Galeria Magalu, localizada na Avenida Paulista, que será inaugurada em dezembro. Sobre a “Lu”, persona da Magalu que conversa com o público, Luiza também destacou a evolução dela ao longo deste século e no contato com os consumidores.
Esther entrou no ChatGPT e colocou: “como eu poderia definir a digitalização da Ornare. Ele me escreveu: o digital é um reflexo da essência da Ornare que consegue transformar cada encontro em uma representação de sua cultura. A presença digital é ativa e estratégica, amplia a voz da Ornare e mostra a força de uma marca brasileira global”, começou abordando – a empresa tem showrooms em 12 cidades nos EUA, uma no EAU, outra em Milão, abrindo novos em Portugal e Arábia Saudita.
Conforme aponta Esther, a transformação digital vai além da tecnologia, ela redefine modelos de negócio, conecta varejo e indústria e coloca as pessoas no centro da mudança. Adotar uma nova mentalidade faz parte da transformação digital, usando dados, processos e canais integrados para criar valor e gerar impacto. Passa pelo redesenho de negócios e experiência, sendo uma cultura e mentalidade.
“Nosso público quer ver pessoalmente, ter o toque, mas também quer ver a imagem. O consumidor que é digital vai olhar nosso site, Instagram, vê filmes, fala com arquitetos e ao mesmo tempo visita nosso showroom, quer estar lá dentro, tendo um relacionamento em tempo real, mas também digital”, aponta Esther. Sobre tendência, Luiza destacou no painel que as pessoas querem, principalmente, conforto.
Aplicações de IA na indústria moveleira
Anderson Rios, CEO da Anderson Rios Consultoria, e Luiz Antonio Valentim, líder de desenvolvimento de negócios em inteligência artificial da Dell Technologies, que apontou que a IA é uma onda que é uma enorme oportunidade para todos. “A gente acredita muito no conceito da IA soberana. O que o ChatGPT tem ou o que não tem que faz muito sentido para o seu negócio: ele não tem os seus dados, os dados da sua empresa. Ele tem os dados genéricos, dados públicos”, diz.
Agora, se você treina ele com seus dados, ele pode dar uma resposta muito mais precisa, e é isso que o líder da Dell abordou: “toda empresa é uma empresa de dados, toda empresa é uma IA, e se a sua não for, será substituída por uma que é”. Com o avanço tecnológico, houve uma evolução na IA até chegar na IA generativa e física.
Contudo, 95% dos projetos de IA generativa, segundo artigo publicado, falham na geração de valor. “Nós vivemos o frenesi do hype e não está errado, mas a questão está onde agir, com quem ir. É como energia, você pode pagar para distribuidora, mas pode gerar sua própria energia com placas solares”, afirma. O caminho para a adoção de IA generativa no mundo corporativo é aplicar IA aos processos mais impactantes em suas áreas mais importantes para melhorar sua organização e gerar resultado de forma segura e eficiente.
Valentin mostrou como a Dell se focou em resolver problemas da empresa com a inteligência artificial. Também mostrou como ocorre a união do mundo físico ao mundo digital, chamado gêmeos digitais, seja em ativo físico, processo e gêmeo biológico. “Na manufatura, em particular, pode-se ter operações autônomas, gerenciamento de segurança, qualidade do produto, melhoria da cadeia de suprimentos, manutenção preditiva”, apontou.
A fábrica da Dell no Brasil aumentou em 30% a qualidade dos produtos, a taxa de devolução despencou e a qualidade da imagem da Dell melhorou bastante após incorporações de conceitos da Indústria 4.0. Um projeto de visão computacional tem câmera que observa diversos aspectos que a empresa quer controlar como eficiência e ergonomia durante os processos, com resultados de 6% a 8% de eficiência. “Isso parece pouco, mas faz diferença no final de um ano”, conta. A inspeção de qualidade na Dell era visual, agora tem uso de scanner 3D.
Anderson Rios é consultor moveleiro desde 2006, começou fazendo uma pergunta: Qual sentimento a frase mão de obra traz. “Vemos os programas sociais, a uberização, o jovem querer ser influencier e trabalhar na internet prejudicando isto e muitas empresas vão quebrar porque vão deixar a onda da IA passar”, apontou. Anderson mostrou um exemplo claro de como uma marcenaria pode usar o ChatGPT para elaborar um projeto e até passar um orçamento do mesmo.
“Hoje, a ferramenta de IA, que parece tão longe, tão caro, tão difícil, já está na palma da nossa mão. Quem consegue contratar um design de produto? A IA pode utilizar ela como analista jurídico para fazer contratos. A tecnologia que vai vingar, que a grande massa vai usar, é aquela tecnologia que facilita a vida das pessoas, que é fácil”, disse.
Brasil e EUA: o papel da Amcham nas relações comerciais
Fabrizio Panzini, diretor de políticas públicas e relações governamentais da Amcham, iniciou sua palestra mostrando a linha do tempo das tarifas dos Estados Unidos, com quatro fases, a terceira dela com a aplicação adicional de 40% após 10% aplicados na fase dois. “A quarta fase é a que estamos entrando agora, após os elogios do encontro na ONU, de negociações, que esperamos que realmente chegue”, aponta.
A Amcham nasceu para aproximar as empresas de Brasil e Estados Unidos e Fabrizio mostrou que a tarifa média aplicada pelo Brasil para os EUA é de 2,7%, enquanto para o resto do mundo é de 5,2%. “Tem muitos produtos que o Brasil optou por não optar tarifa como todo setor de aviação e medicamentos, 74% dos bens que importamos não tem tarifas”, contou. No momento, com o atual tarifaço, 74% do exportado pelo Brasil aos EUA tem sobretaxa (31,3 bilhões).
O comércio de Brasil-EUA em 2025 vinha muito forte neste ano, até julho. Com a entrada do tarifaço, isso começou a ser sentido e a balança comercial brasileira continuou menor. “Um dado que mostra que o tarifaço foi sentido em agosto é que nos demais produtos houve queda de 33%”, assinala. Segundo ele, é que até meados de novembro se tenha uma resolução da questão tarifária com as negociações caminhando.
Panorama do comércio internacional: desafios e oportunidades
Welber Barral, especialista em comércio internacional e advogado da Abimóvel em questões tarifárias na América do Sul, mostrou o motivo de Donald Trump criar as tarifas: “a primeira delas é para atrair investimento aos EUA, em outros para a reindustrializar a o país, em outros para a política comercial, além de mesclado com motivos políticos. Na realidade, temos uma mescla de temas, como o caso do Brasil que envolve política interna brasileira”, explicou.
Além disso, há também o uso de imprevisibilidade como tática de negociação, forçar o reshoring (retorno da produção aos EUA), além de rebalancear o comércio com a China. O Reino Unido tem as tarifas mais baixas, com base nas tarifas recíprocas, junto com União Europeia, Japão, Coreia do Sul e Austrália. Na outra ponta estão concorrentes estratégicos com tarifas acima de 30% como os países do Brics.
No processo dos EUA contra o Brasil, a seção 301 há uma investigação de que há práticas comerciais injustas, que no caso do Brasil seria o desmatamento. “Além da questão do desmatamento, envolve várias outras questões, esperamos que leve até o fim do ano, mas também há o etanol, o PIX, entre outros”, conta.
A seção 232 inclui aço, alumínio, cobre com 50% aplicado para o mundo inteiro, enquanto há investigações sobre madeira, partes automotivas e aeronáutica. “O que é interessante nela é a ameaça à segurança nacional dos EUA. E você pode até entender que alumínio, cobre e aço pode estar relacionado com a indústria da defesa”, apontou.
Segundo Welber, as tarifas não baixarão menos de 15% após todo o caso, com os EUA utilizando outros mecanismos jurídicos para isso. “Com relação às tarifas específicas do Brasil, espera-se uma negociação bilateral, bastante complexa, envolvendo não apenas de tarifas, mas outros interesses americanos como terras raras e regulamentação digital”.
O que pode mudar o cenário totalmente, são movimentos dentro dos EUA, como mudança abrupta de inflação. “A inflação americana vem aumentando, mas não houve um repasse do custo total do aumento tarifário como muitos esperavam. Se isso acontecer, pode ter uma mudança política no ano que vem e mudar o cenário dos dois últimos anos do governo Trump”, avaliou.
O que o Brasil tem feito como estratégia de defesa, conforme Welber apresentou, é a narrativa proativa em destacar o Brasil como parceiro confiável, além de ter articulação parlamentar e midiática nos EUA. “Poucas entidades brasileiras têm representação nos EUA”, disse. Para isso, é importante ter também coordenação com associações empresariais como CNI, CNA e Amcham.
Um exercício de realismo feito pelo especialista é que a seção 301 é um instrumento de pressão política, já utilizado contra o Brasil nos anos 1980 em questões de informática. Há riscos reais para exportações e setor financeiro, a estratégia tem de ser articulada e multissetorial. “O Brasil precisa defender seus interesses de forma técnica e diplomática”, frisou.
Além de toda essa questão, algumas coisas precisam ser incorporadas na gestão das empresas na visão de Welber, com esse “novo normal” preparando as empresas para uma gestão de riscos, além de otimizar custos. Em estratégia global de suprimentos, alguns fatores chaves apontados pelo especialista estão a diversificação de mercados, novos mercados (como o acordo Mercosul-Europa e países como Suíça e Noruega), formação de estoques, reshoring e nearshoring.
12º Congresso Nacional Moveleiro
Além de conteúdo, o evento também contou com o Projeto Comprador, que conecta 57 indústrias brasileiras a compradores de 11 países. O Prêmio Design da Movelaria Nacional tem o anúncio dos vencedores amanhã, 2 de outubro, às 18h, e conta com mostra exclusiva com mais de 50 peças finalistas abertas ao público até 6 de outubro.
Outras atrações são a Casa Conceito e o Prêmio Sesi, experiências que ampliam o diálogo entre bem-estar, inovação e produtividade. O encontro dos sindicatos regionais de móveis busca reforçar a integração e a representatividade do setor em nível nacional. Deste modo, o congresso se torna um espaço de conteúdo, negócios e conexão, que reafirma a relevância da indústria moveleira para a economia nacional.