Futuro do mercado e a inovação para reconstrução
Carlos Ferreirinha e Marcos Batista levaram informações relevantes e inspiradoras em suas palestras no 11º Congresso Nacional Moveleiro
Publicado em 1 de outubro de 2024 | 14:30 |Por: Thiago Rodrigo
Em duas palestras inspiradoras, Carlos Ferreirinha e Marcos Batista mostraram a realidade do mundo em que vivemos, abordando empresas e pessoas, tecnologias e inovação, humanização e futuro da sociedade na manhã do primeiro dia do 11º Congresso Nacional Moveleiro.
Carlos Ferreirinha, influencer e empresário da MCF Consultoria, empresa que movimenta atividade de luxo no Brasil e América Latina em diversos segmentos e atividades, como arquitetura, imobiliária e hotelaria, prestando consultoria focada em dar parâmetros que elevem e alavanquem os negócios de alto padrão. Em sua palestra “O que o futuro espera de nós”, ele mostrou inspirações e reflexões estratégicas do mercado.
“Estamos na era das experiências. É importante que tenhamos a clareza que quando se fala de experiências, isso não é um termo de marketing. É uma evolução natural de um mercado que foi educado nos últimos 50 anos a pensar em produto e serviço. A competitividade estava pela melhoria do produto e serviço. De forma geral, essas etapas foram preenchidas”, iniciou.
A MCF tem mais de duas décadas de história com levando informações, inspirações, insights e inquietações para o mercado de alto padrão em diferentes segmentos. “Minha vida é dedicada a entender a jornada do cliente. Entender do nosso mercado é obrigação. O desafio é o quão estamos entendendo a jornada do nosso cliente. O mesmo cliente que compra qualquer tipo de móvel solto ou planejado, é o mesmo cliente que compra carro, aluga um quarto de hotel e está em um avião. Somos tradutores da linguagem do luxo e do premium”, disse. Entretanto, ponderou e lembrou que o mundo não é feito de luxo, de Porsche ou restaurante estrelado, comentou Carlos, é de volume, massa e capilaridade.
Para contribuir com uma visão das dinâmicas profissionais, Carlos questionou em que momento de mercado estamos. “Fica claro que tudo aquilo que eu sei e fui educado a saber, as referências foram alteradas nos últimos anos. O que tem acontecido cada vez mais, é que ainda estamos no limite das incerteza. Fomos projetados a desenhar o futuro, mas cada vez mais essa é uma tarefa difícil”, destacou.
O circulo de mudanças acontecia a cada 10, 15 ou 20 anos, mas atualmente estamos em momento de mudanças aceleradas que geram muitas incertezas. A BYD, segundo Carlos, era uma marca desconhecida há três anos. A Nvidia, ninguém acompanhou que se tornou a primeira empresa e marca a ter o crescimento da Apple, tornando-se em três anos no mais alto patamar tecnológico. Outro caso trazido é o modelo de negócio foi da Shein se destacando também nos últimos três anos. “O ritmo da mudança de mercado tem sido alterado de mudança significativa”.
“A Índia vai pegar o mundo”, frisou sobre o crescimento do país que será de mais de 10% este ano, superando China e Estados Unidos. O mundo que estamos é onde a Volkswagen, pela primeira vez em 87 anos, começa a pensar em fechar fábrica na Alemanha. “Empresas como essa precisa acompanhar o ritmo das mudanças mercadológicas, mas isso leva tempo. Um dos países mais produtivos do mundo que é a Alemanha, tem dificuldade de ter pessoas trabalhando nas fábricas”.
Junto com o Japão, os dois são os países mais produtivos, mas tem tomado decisões de ter quatro dias de trabalho para tornar os trabalhadores mais produtivos. Do ano passado para este ano, a Novo Nordisk ultrapassou qualquer empresa da Europa com um produto, Ozempic, alcançando a liderança de faturamento no velho continente. “Entender dinâmicas de mercado é entender a CazéTV. Não importa o que a gente faça, a gente precisa existir na internet. Não precisa vender, mas gerar conteúdo na internet é inegociável”, enfatizou Carlos.
Carlos afirmou que muitas empresas moveleiras terão linhas permanentes de mobiliário para pet ao trazer o dado que na Coreia do Sul, em 2023, foram vendidos mais carrinhos para pet do que para bebês. “O futuro espera de nós traduzir mais rápido o que está acontecendo. Bertrand Russell dizia algo brutal: ‘nós precisamos colocar um ponto de interrogação nas nossas certezas’.
Segundo ele, a competitividade ganha estará em empresas que conseguirão reagir rapidamente, entender as novas dinâmicas de mercado e as janelas de oportunidades que estão sendo aberta diante de nós. “Tenho falado que deveríamos nos tornarmos cada vez mais tradutores simultâneos para interpretar e estar mais atento aos sinais da vida. Além disso, ele mostrou que a casa se tornou protagonista para as pessoas, destacando que muitos dos visitantes moveleiros tiveram o maior faturamento e crescimento produtivo nos últimos quatro anos.
“O Brasil das oportunidades é infinitamente maior que o Brasil das dificuldades”, destacou Carlos Ferreirinha
O palestrante também lembrou do público idoso que representa uma grande faixa de consumo em diferentes segmentos, sendo uma dinâmica de mercado chamada por ele de “jovialidade na longevidade”. O profissional não está preocupado com a geração Z que não tem grande poder de consumo e apenas influência. Diante de uma série de oportunidades, Carlos disse que há imensos novos desafios, com a maior taxa de inflação desde a segunda guerra e grandes conflitos políticos.
Entre eles, estão apagão de mão de obra: “não se engane que as pessoas não querem trabalhar, elas querem trabalhar em locais inspiradores”. Desafio climático e a dramática revolução digital (que demanda novas competências) e “no meio desse caos aparece as ‘bets’ e no meio disso tudo há o desafio da fragilidade mental e emocional, no qual a doença mental assume a primeira causa de morte no mundo”, disse Carlos, acrescentando as guerras ao vivo e custos elevados.
“A mesma energia que colocamos na angústia e no desespero também deve ser a mesma energia canalizada para adaptação”, apontou Carlos, lembrando a frase de Isaac Newton no qual toda ação tem uma reação e, no mundo atual, tudo o que falar com experiência será turbinado. Hotéis, aeroportos, restaurantes e shows estão lotados, isso porque no mundo caos, segundo Carlos, é preciso escapismo e distrações. “Dito isso, todas as empresas, marcas e profissionais verão que diante do caos há oportunidades”.
Carlos enfatizou que estamos na era das experiências, que é a janela de oportunidade diante do mundo caótico e diz que não basta competir apenas com produtos e serviços, mas tocar o coração das pessoas. “Seremos cada vez mais impactados pelas experiências. Serão as experiências que farão com que tenhamos vontade de acessar produtos e serviços. Devemos convidar os clientes para viverem através de nós uma experiência, somos nós os decodificadores, tradutores e levamos isso a um novo patamar”.
Quatro características da gestão do luxo segundo Carlos Ferreirinha: modelos de negócios deixam claro seus elementos de escassez; obstinadas pelo relacionamento e se manter presente na vida das pessoas; obstinadas pelo legado; e obstinadas pelo original. “As empresas de luxo são obcecadas em não copiar e ter autenticidade”, disse antes de frisar os quatros E’s do luxo: emoção, exclusividade, engajamento e experiências. “Mudar é a única constante. Somos a geração de transição. Agora é momento de surpreender, seja obstinado pela diferenciação. Desejabilidade é o combustível e assume um papel fundamental”.
Após passar 13 passos essenciais para as empresas, ele perguntou o que o futuro deseja de nós. “Atitude é o que nos coloca no jogo, não faz ganhar, mas coloca para entender as dinâmicas. Duas palavras-chave para o final de 2024 e início de 2025, a primeira delas é actioning e está associada à possibilidade de entender e agir mais. A segunda é preferência e tem a ver com a tomada de decisão e ser a força competitiva, sendo o diálogo emocional. Desejo é o combustível”.
Inovação para reconstrução no Congresso Nacional Moveleiro
Com o tema inovação para reconstrução, Marcos Batista é designer e palestrante e falou que não vê nada diferente da reconstrução como um ato de amor. Em uma amostra da realidade brasileira, no mundo em que vivemos, Marcos disse que se vive no lado direito da equação apresentada na imagem abaixo.
Em meio a indicadores de produtividade, capacidade e qualidade, falta indicador da virtude humana de acordo com o palestrante. O mundo vivido até os anos 1990 deixou de existir por conta do impacto da revolução digital. “Uma nova economia apareceu. No passado, colocávamos valor nas coisas, com briefing substantivo de desenvolver uma linha de móveis. De repente aparece internet e smartphone e saímos das coisas e saímos para serviço e acesso. O acesso às experiências”.
Segundo Marcos, o briefing não é desenvolver um novo produto, não é o substantivo como autoridade. Pouco importa uma nova linha de carros, é como as pessoas irão se locomover, como vão morar. “O que não percebemos é que antes consumíamos coisas, mas hoje consumimos nós mesmos. A maior economia do planeta é a economia da atenção e nela o que vale é dado. Somos ‘datificados’. Hoje as empresas mais valiosas são as que tem dados de vocês e elas querem nossa atenção e nosso tempo”, destaca o designer.
Na era da informação criamos expectativas, que gera ansiedade, diferente da era industrial que o capital era para ter coisas. “Quando ocupamos com essas informações, deixamos de enxergar a vida”, frisou Marcos antes de abordar as ondas da inovação: “Será que percebemos que passamos pela revolução da informação? E agora, o que queremos, a revolução artificial ou da humanização?”, questionou, destacando que existe uma onda da desumanização.
“Estamos produzindo pessoas impacientes, narcisistas digitais e estamos entregando nossos propósitos para os editores da nossa vida, coachs, gurus, influencers e algoritmos. A superficialidade é muita no mundo atual. Estamos olhando para essa enxurrada de informações, desamparados sem olhar o nosso pensamento porque é algo que protege. Eu passo por isso várias vezes, com o sucesso medido pela casa, pelo carro, pelo ganho material”, diz Marcos, ponderando a evolução espiritual, com um ganho de elevação pessoal.
De acordo com Marcos, enquanto os sábios estão cheio de dúvidas, tem um monte de idiota vendendo certezas. “Em vez de fazer o que ama, faça o que tem de ser feito”, comentou ele antes de trazer o MVP, que não é o mínimo produto viável que é o produto para atender as principais necessidades, mas sim a mínima pessoa viável, que sabe usar a inteligência racional e espiritual. Isso para depois achar a máxima pessoa valiosa, no qual o foco são os outros.
Quando se fala de tecnologia, de inovação e de futuro, imagina-se a alta tecnologia, carro autônomo, inteligência artificial generativa. Carlos diz que se deve parar de entender tendência e entender cultura. “É preciso ter três amores: desejo, que é preciso para gerar desejo nas pessoas. Nossa economia é o desejo platônico, desejo pela falta; além da amizade e a compaixão”, disse.
Em consonância com a palestra de Carlos Ferreirinha, Marcos destacou como desafio a saúde mental, o meio ambiente, a desigualdade social, a sociedade descartável, egoísmo humano e educação ensino. Segundo o palestrante, a inovação para reconstrução é mais do que construir coisas tangíveis. “Vivemos uma crise moral ou de caráter? O que precisamos é formar líderes, pois enquanto os seres humanos estão sendo robotizados, os robôs estão se humanizando”, apontou.
A inovação humanizada é quando a meta vira propósito, é quando tem vontade, amor e comprometimento, de acordo com Marcos, que destaca não o desejo, mas o significado. “Quem são fios condutores de um propósito: pessoas. Quando ela sabe o que está fazendo, aí sim ela é um fio condutor para a transformação que aconteça”. Marcos tem trabalhado a inovação como cultura humanizada dentro das empresas e lembra que o tempo é o mais importante para as pessoas e por isso se disputa esse tempo na sociedade atual.
“Não adianta nada desenvolver coisas fantásticas, primeiro é preciso desenvolver o ser humano. Todo dia quero viver o hoje como o último dia. A morte é uma conselheira de vida, a filosofia é uma experiência disso e a espiritualidade mostra o que é real e não é real. Quero que saia daqui se perguntando: por que essa pressa?”.