Como funciona reciclagem de colchões nos EUA

Ryan Trainer, presidente da Ispa, contou no Encontro Internacional da Indústria de Colchões como funciona reciclagem de colchões nos EUA

Publicado em 18 de junho de 2024 | 10:45 |Por: Thiago Rodrigo

Na última sexta-feira, foi realizado no Hotel Rio Othon, no Rio de Janeiro, o primeiro Encontro Internacional da Indústria de Colchões. Organizado pela Abicol (Associação Brasileira da Indústria de Colchões), teve a participação de líderes do setor colchoeiro de todo o mundo para discutir “O Futuro Sustentável dos Colchões” – leia tudo a respeito na edição 338 da Móbile Fornecedores.

Na palestra do presidente da Ispa (International Sleep Products Association), Ryan Trainer, e responsável por um dos programas mais importantes de reciclagem de colchão, o Mattress Recycling Council, nos Estados Unidos, o profissional falou sobre o mercado de colchões no país e explicou como funciona a reciclagem de colchões nos EUA.

As vendas de colchões nos Estados Unidos chegaram a 40 milhões de unidades em 2023, mas o valor de compra caiu em 7%, algo que não vai se alterar em 2024, mas Ryan espera que em 2025 isso melhore. “A faixa menor de preço foi afetada, significa que a parte menos abastada da classe tem menor poder de compra”, disse. Nos EUA, a inflação permanece alta, prejudicando o poder de compra das pessoas.

De acordo com ele, nos Estados Unidos, quando as pessoas se mudam elas compram um colchão, sendo o mercado imobiliário um gatilho para o setor colchoeiro do país. Antes da Covid-19, a confiança do consumidor era mais de 90%, caiu para 50% depois, mas aumentando ano a ano.

Desse modo, um pouso suave pode estar sendo vivida na economia estadunidense de acordo com Ryan. “As perspectivas para a economia norte-americana o mercado imobiliário ruim em 2024 e com leve melhora para 2025. O nosso Banco Central anunciou que as taxas de juros vão cair no fim do ano, o que é bom para o setor imobiliário e consequentemente o setor de móveis e colchões”, disse.

Também informou que desde a Covid, muitos consumidores estadunidenses deixaram de comprar produtos para comprar serviços, sendo que nos últimos cinco anos, houve uma considerável queda de consumo de colchões no país. Os Estados Unidos também têm sido bem agressivos contra produtores estrangeiros, com medidas antidumping contra China desde 2018 e, em 2023, contra mais de dez países.

Com isso, outros países entraram no mercado estadunidense, com crescimento principalmente do México. Na dinâmica do mercado atual, muitos varejistas de colchões procuram ser multicanais com a compra online. Outra dinâmica é que a cadeia de suprimentos teve disrupções moderadas por conta da China estar importando menos.

Abicol

reciclagem de colchões nos EUA

Ryan Trainer, presidente da Ispa: “Sustentabilidade não é um problema que uma única empresa ou segmento pode resolver, precisa uma cidade inteira para resolver isso, desde a origem dos produtos químicos até o final da cadeia”

Reciclagem de colchões nos EUA

Acerca das questões regulatórias de colchões, Ryan Trainer pontou que os Estados Unidos não possui um sistema parecido com o que o Brasil tem do Inmetro. Lá, existem dois padrões de segurança, um para tornar os produtos mais resistentes e outro uma etiqueta de composição do produto de acordo com algumas regras.

Sobre sustentabilidade, a maior questão que surgiu nos Estados Unidos esteve baseada na reciclagem, com vários estados requerendo isso, como Califórnia e Oregon, e criando um conselho de reciclagem de colchões com métricas e cobrando uma pequena taxa para reciclar.

Uma questão está no fato de quem paga a conta, se é a indústria ou o consumidor. “Quem vai pagar pela reciclagem, o consumidor ou o produtor? Agora é o consumidor que paga, é recorrente esta luta, mas é preciso ter um design que considere também a reciclagem”, afirma e acrescenta: “Buscamos entender quais os processos para a melhor reciclagem dos produtos e como as pessoas podem fazer mais dinheiro com o material reciclado”.

Desde que o programa de reciclagem começou em 2015, foram reciclados mais de 3 milhões de unidades, evitando a ida de de 13,3 milhões de m³ de material para lixões. “A indústria sofre pressões para ser mais sustentáveis, não é algo que uma indústria empresa ou associação vai resolver, mas uma cadeia toda para tornar os produtos mais sustentáveis, um entendimento global”, pontua.

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Aas matérias-primas são, a maior parte, aço, espuma, madeira é difícil de reciclar, assim como o tecido. “Fizemos pesquisas e buscamos ver o impacto ambiental do processo de reciclagem, para cada colchão reciclado evitamos o gasto de 500 galões de água”, diz.

Os desafios operacionais que a indústria de colchões dos Estados Unidos tem no quesito reciclagem são automatizar os problemas, achar novos usos para a espuma que é reciclada, estudar novas maneiras para as molas ensacadas que são difíceis de desmontar. “Os adesivos utilizados para juntar os diferentes produtos podem criar problemas grandes para separação no momento da reciclagem, desagregar ele é muito complicado. Também estão sendo examinados os tecidos e fibras e suas reciclagens”, explica.

O programa MRC – Mattress Recycling Council conduz pesquisas para encontrar os melhores mercados para os produtos reciclados, sendo utilizados na parte central dos colchões, uso em móveis e superfícies de assentos. “Procuramos ver se podemos mudar outros materiais usados no colchão, como por exemplo o tecido, do qual trabalhamos em um material para veículos elétricos e baterias”, diz

Alguns dos produtos reciclados pelo programa MRC tem a divulgação restrita aos poucos clientes, mas Ryan salienta que a entidade busca maior expandir suas ações e produtos.Encontro Internacional da Indústria de Colchões

Consumidor estadunidense

A entidade também faz pesquisas para saber com os consumidores e vendedores de colchões para saber como pode tornar a indústria de colchões mais sustentável. “Se o vendedor não sabe ou entende a questão da sustentabilidade, pensando que o consumidor não se importa e só procura preço, isso não vai funcionar. Precisamos envolver o consumidor e o varejista nessa estratégia de sustentabilidade”, destaca. A entidade também quer ajudar os fabricantes a serem mais sustentáveis e Ryan também mostrou como as leis federais atuam no país norte-americano.

Ele ainda explicou que o consumidor estadunidense médio quer um produto mais sustentável se não custar mais caro. Somente 10% a 15% dos consumidores pagariam mais caro por um produto sustentável, reciclável e com menos emissão de carbono. “Mas mais da maioria não se importa e por isso temos um esforço grande na educação dos consumidores. Sustentabilidade inclui materiais naturais, mas existem outros aspectos que vão além disso”, afirmou.

Segundo o presidente da Ispa, há uma tendência de não utilizar alguns materiais, com alguns sendo banidos pelo governo. “Temos de fazer nossas escolhas sem poder estar limitados na relação de materiais que podemos utilizar”, disse Ryan sobre os produtos de composição de colchões. “Há uma pressão para a reciclagem nos EUA”, frisou. Para finalizar, Ryan fez convite para a Ispa Sustainability Conference que será realizada em setembro na cidade de Charlotte.

Playlist com vídeo de boas práticas das empresas homenageadas no Encontro Internacional da Indústria de Colchões

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