Desafios em cadeia para a Indústria 4.0
Com mais automação e sistemas inteligentes, indústria começa a seguir outros rumos em busca de produção integrada e eficiente
Publicado em 22 de dezembro de 2022 | 08:00 |Por: Portal eMóbile
A Revolução Industrial mudou a forma como as fábricas se comportam. A possibilidade de utilizar máquinas no dia a dia e substituir o trabalho do homem por processos automatizados foi crucial para o desenvolvimento da indústria e a busca por tecnologias modernas, como a Indústria 4.0.
Muito mais do que produção em série e máquinas modernas, integração é a palavra-chave. “Os grandes avanços na automação moderna tornaram possíveis a convergência de todos os estágios da cadeia de produção moveleira”, afirma o diretor da Ligna, Christian Pfeiffer.
Iniciativas em países como a Alemanha – muito disso por conta da Ligna, feira internacional de máquinas e equipamentos realizada em Hannover – começaram a moldar uma realidade palpável para a situação.
De acordo com informações da Ligna 2015, a ideia era levar aos visitantes a possibilidade de vivenciar o funcionamento dessas criações, não apenas por meio da observação dos expositores, mas também com a participação em visitas guiadas, palestras e ações paralelas.
Essa mudança de cultura refletiu na organização da feira que, em sua próxima edição, será repaginada para oferecer uma experiência mais integrada aos visitantes.
– Todas as notícias da indústria moveleira
“O novo layout reflete a convergência de vários setores da indústria da madeira historicamente ou culturalmente separados. Hoje não há mais uma divisão clara entre os tipos de operação”, define Pfeiffer.
Iniciativas assim são os primeiros passos para uma nova revolução industrial na qual não haja separação entre os níveis. Da manufatura ao consumidor, a integração deve ser total. Mas, para isso, é preciso investir em estrutura.
Segundo o gerente executivo de inovação e tecnologia do Senai Nacional, Marcelo Prim, ainda não existem desenvolvimentos específicos para a indústria brasileira, porém, pode haver iniciativas pontuais baseadas principalmente no conceito da Indústria 4.0 – nome dado pelo governo alemão para o programa que busca a integração industrial por lá.
“A Indústria 4.0 é uma tendência que veio para ficar. É uma combinação de tecnologias já existentes, mas com arquitetura complexa. O grande papel da indústria do futuro é tornar simples uma cadeia cada vez mais complexa utilizando elementos básicos da tecnologia”, diz.
Nessa equação entram diversos aspectos conhecidos como automação, robótica e internet. A combinação desses fatores, integrados a sistemas de gestão, pode gerar não apenas ganhos de produtividade, como controles mais eficientes e informação em tempo real.
Internet das coisas
O nome é autoexplicativo: uma coisa com internet. Imagine controlar objetos do dia a dia por meio da rede mundial de computadores. Em resumo, isso é a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês). E como a comunicação eficiente é fundamental para o sucesso de uma empreitada como essa, estar conectado é absolutamente necessário.
Especialista e estudioso sobre o tema, Dana Blouin conceitualiza a IoT como a integração de objetos do cotidiano que permitem interações para geração de pontos de dados. Essas informações são então utilizadas para promover contexto e experiências mais ricas para o que cada pessoa faz. “Esses dados realmente ganharão poder quando conseguirmos realizar análises preditivas que nos ajudarão a economizar tempo e dinheiro”, prevê.
Com máquinas e objetos atuando de maneira mais inteligente, a agilidade de processos torna-se tangível. Em uma indústria moveleira, por exemplo, um sistema interligado consegue informar ao setor de matéria-prima se algum material está em falta na produção, ou prever quando será necessário realizar uma parada técnica.
Tudo isso depende de infraestrutura preparada para receber as inovações. No Brasil, ainda existe um longo caminho a ser percorrido nesse sentido. Com empresas seguindo modelos mais tradicionais, a inovação é um campo menos explorado. Características culturais da sociedade brasileira atravancam um pouco a evolução de alguns processos.
“Por conta dos altos preços, com muitos impostos de importação embutidos, as soluções acabam chegando no País com valores maiores”, destaca o gerente de marketing da Wisidea – empresa especializada em IoT –, Bruno Costa.
Entraves para a Indústria 4.0
No Brasil, o cenário 4.0 ainda é algo distante. De acordo com o coordenador de sistemas fabris inteligentes da Fundação Certir, Jefferson Luiz Ramos Melo, a maior parte da indústria do País ainda está entre 2 e 2.5.
O coordenador explica que hoje é preciso pensar em maneiras de traçar caminhos para que as empresas formem planos de ação pensando em alcançar esse novo patamar. “É necessário primeiro arrumar a casa para depois fazer o avanço tecnológico”, enfatiza.
Um dos grandes obstáculos é a falta de produtividade da indústria nacional. A indústria do futuro tem como base otimizar processos que já são eficientes. A tentativa de fazer isso com processos que ainda não estão preparados para receber aplicações inovadoras pode não gerar resultados.
– Indústria 4.0 no setor moveleiro
É preciso elevar a qualidade de produção das indústrias, pensando em sistemas de automação, fabricação limpa e poucos estoques, além de promover a renovação do parque fabril, visto que máquinas ultrapassadas não são capazes de trabalhar em sistemas conectados.
“É preciso pensar em uma atualização tecnológica para depois implantar os sistemas”, reforça Melo. Além disso, outro aspecto inerente à indústria do futuro é o empoderamento das pessoas envolvidas no processo. Treinamentos voltados à recepção e atuação de acordo com as informações disponíveis permitem que haja autonomia para a tomada de decisão.
O diretor de tecnologia da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), João Alfredo Delgado, salienta que um dos maiores impedimentos é a infraestrutura deficitária de internet do País. “Quando se tem esse tipo de defeito, há diversos problemas que podem surgir. Se não há segurança na infraestrutura, não dá para deixar tudo online.”
A falta disso também complica um dos elos da cadeia: a comunicação com o consumidor. Espera-se que uma indústria moderna consiga adaptar sua linha de produção para um modelo altamente flexível, possibilitando a fabricação de produtos customizados dentro do processo fabril. Isso somente é possível com linhas modernas e conectadas.
Discussões para a Indústria 4.0
A Abimaq já vem falando do assunto há algum tempo. No ano passado, a indústria do futuro foi tema do seminário Abimaq Inova, que envolveu especialistas sobre o assunto para tratar da evolução do parque nacional.
Dados apresentados durante o evento reforçaram a estrada que ainda existe pela frente: estima-se que países em desenvolvimento há uma média de 60 robôs no chão de fábrica para cada 10 mil trabalhadores. No Brasil, esse número cai para oito.
Iniciativas como o Laboratório de Comissionamento Virtual, parceria da Abimaq com o Instituto Mauá de Tecnologia, Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também vieram para apoiar a busca por inovação industrial.
Delgado, da Abimaq, acrescenta que as conversas caminham para diversas vertentes além das máquinas. Softwares, nanotecnologia, internet, treinamentos e como integrar todos esses aspectos precisam ser abordados. “É fundamental que a máquina interaja com o software, é um espaço ciber-físico. E isso está sendo trazido cada vez mais para o mundo real.”
Revoluções industriais
Entenda quais as são mudanças na produção industrial até a criação da Indústria 4.0
– Indústria 1.0: produção mecânica e motores a vapor
– Indústria 2.0: divisão de trabalho, produção em massa e energia elétrica
– Indústria 3.0: sistemas eletrônicos e de TI, com foco em produção automatizada
– Indústria 4.0: utilização de sistemas ciber-físicos, integração fabril e conectividade
O que é a Indústria 4.0?
– Máquinas inteligentes
– Sistemas conectados entre si
– Fluxo constante de informação
– Algoritmos para tomada de decisão automática
– Controle em tempo real
– Internet segura
– Fábricas flexíveis
– Pessoal altamente qualificado
– Produção eficiente
Reportagem publicada originalmente na Móbile Fornecedores 277