Polo moveleiro de Bento Gonçalves tem desempenho positivo em 2021
Mesmo com economia instável, indústrias do polo moveleiro de Bento Gonçalves tiveram alta nas exportações e geração de empregos
Publicado em 14 de janeiro de 2022 | 10:00 |Por: Thiago Rodrigo
O polo moveleiro de Bento Gonçalves apresentou crescimento de faturamento em 2021. Com base nos dados oficiais da Sefaz Rio Grande do Sul, o incremento nos primeiros dez meses do ano foi de 49% em relação ao mesmo período de 2020. A partir dessa média, o Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) projeta que o ano encerre com faturamento 45% maior na comparação com o ano anterior.
Os dados, porém, não refletem a realidade, visto que a cadeia de madeira e móveis vem enfrentando diversos efeitos da instabilidade econômica – como aumento de impostos e alto preço dos insumos, ou seja, não significa maior lucro líquido aos empresários, aponta a entidade.
Polo moveleiro de Bento Gonçalves
A participação do polo moveleiro de Bento Gonçalves (composto pelos municípios de Bento Gonçalves, Monte Belo do Sul, Pinto Bandeira e Santa Tereza) torna-se cada vez mais expressiva no total faturado pelo setor moveleiro gaúcho. Passou de 26,7%, em 2019, para 27,2%, em 2020, atingindo 29% até outubro de 2021 (patamar que não deve se modificar até o final deste ano).
O referido crescimento deve-se em parte à baixa base de comparação, principalmente do primeiro semestre deste ano com o mesmo período de 2020, tendo em vista que, naquela época, a pandemia estagnou o setor moveleiro.
– Inflação de móveis tem alta em 2021
Além disso, com a retomada da economia, muitos mercados, dentre eles o de móveis, passaram a ter problemas de escassez de matérias-primas, com alta dos preços e forte impacto nos custos de produção, elevando o preço final dos produtos e, consequentemente, o faturamento bruto. Essa elevação, no entanto, não foi acompanhada na mesma proporção pelo aumento da produção, das vendas físicas e da lucratividade.
Exportações de móveis
Nas exportações, em Bento o faturamento de móveis exportados cresceu 42,4%. Estima-se que o ano encerre com incremento de 40% nas exportações de móveis produzidos na região.
Com pequena alteração no ranking, Estados Unidos, Chile, Uruguai, Reino Unido e Peru estão entre os cinco maiores importadores de móveis tanto do Rio Grande do Sul quanto do polo de Bento Gonçalves. Somados, esses países correspondem a cerca de dois terços das exportações.
Empregos no polo moveleiro de Bento Gonçalves
No que diz respeito à geração de empregos no segmento moveleiro, já considerando os ajustes feitos em informações históricas de 2020 pelo Governo, no ano passado a evolução do número de empregados no segmento ficou positiva em 3,2% no RS (versus 2019). Em 2021, até outubro, a evolução foi de 9,4%.
No polo moveleiro de Bento Gonçalves, a geração de empregos cresceu 4,5% em 2020 e 10,9% em 2021. Dessa forma, mesmo no ano passado houve geração positiva de empregos e tal fato está ocorrendo de modo mais expressivo em 2021. O segmento emprega mais de 38 mil trabalhadores no Rio Grande do Sul e quase 7 mil no polo de Bento, considerando os dados mais atualizados do Caged.
Perspectivas para 2022
Há, no Brasil, assim como em diversos outros países, um foco inflacionário que tem como base principalmente o aumento geral dos custos de produção. Segundo o Sindmóveis, o aumento dos juros está sendo utilizado para combater tal processo, sendo que a Selic já está em 9,25% ao ano após diversos reajustes, permanecendo com tendência de alta no curto prazo.
Juros altos costumam atrair capital especulativo e tendem a impactar no câmbio, propiciando sua estabilidade ou mesmo baixa. Infelizmente, tal cenário não incentiva a produção, inibe a concessão de financiamentos e reduz o poder de compra da população. As projeções do PIB vêm caindo, devendo fechar abaixo dos 5% em 2021 e em 0,5% em 2022, segundo o Boletim Focus do Banco Central emitido em dezembro último.
– Produção de móveis cai em novembro
Considerando esse cenário e as peculiaridades do setor moveleiro, que consegue se reinventar em meio às dificuldades econômicas, tanto o Sindmóveis quanto a Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs) projetam crescimento nominal de 5% a 6% no faturamento do setor moveleiro em 2022.
Isso em um cenário semelhante ao vivenciado em 2021, sem que a produção física acompanhe tal aumento e considerando que a base de comparação dessa vez será mais expressiva (todo o ano de 2021). Esse cenário pode ser alterado, mas para o Sindmóveis Bento Gonçalves dependerá de muitos fatores, como controle da inflação, geração de empregos, nível dos gastos públicos e foco em ações que gerem a retomada do crescimento brasileiro.
Palavra do presidente
De acordo com o presidente do Sindmóveis, Vinicius Benini, prever 2022 ainda é algo incerto, pois já é possível perceber algumas mudanças no comportamento dos consumidores. “De fato, as pessoas não estão mais tão focadas em comprar itens para equipar suas casas, refletindo em certa retração no mercado interno. Além disso, diversas questões econômicas, como impostos, preço dos insumos e redução do poder de compra, dificultam o cenário para as indústrias moveleiras”, explica.
Ele ressalta, ainda, que o faturamento das exportações se mantém em linha crescente. “Isso não significa que não vale a pena vender no Brasil, mas que diversificar as frentes de atuação pode ser uma boa estratégia para manter o fluxo dos negócios”, pondera.