Elevação nos custos produtivos da indústria afeta setor moveleiro

Entidades do ramo apontam problemas em logística e tributação como principais fatores de encarecimento

Publicado em 25 de setembro de 2018 | 17:00 |Por:

Um levantamento realizado pela Confederação Nacional das Indústrias (CNI) apontou que a produção industrial do Brasil encareceu 3,7% no segundo trimestre de 2018 comparado aos primeiros três meses do ano. Trata-se do maior aumento do indicador desde o quarto trimestre de 2015, quando a expansão chegou a 3,8%. A alta também refletiu nos custos do setor moveleiro, que já enfrenta desafios na segunda metade do ano como a queda no consumo de móveis (que acumula taxa negativa de -3,7% no ano) e as incertezas quanto à reoneração da folha de pagamento.

Conforme a pesquisa da CNI, o aumento nos custos industriais deriva de uma sequência de fatores. O primeiro foi a elevação de 6,4% no custo com bens intermediários (empregados na produção de outros itens), elevação em grande parte motivada pela depreciação do real no período – entre o primeiro e o segundo trimestres de 2018, a moeda se desvalorizou em 11,2%. Além disso, a greve dos caminhoneiros desencadeada em maio ocasionou escassez de produtos e influenciou o aumento dos custos com matérias-primas.

Produção do setor moveleiro desacelera e acumula menor taxa do ano

Houve também o aumento de 8,5% nos custos com energia composto pelas despesas com energia elétrica e óleo combustível: este último apresentou crescimento de 24,4% no segundo trimestre de 2018. O aumento no preço do óleo combustível, conforme a CNI, se dá pela conjunção da acentuada desvalorização cambial no trimestre e o aumento de cerca de 11% no preço internacional do petróleo no período.

Por outro lado, embora os custos industriais tenham crescido, os preços dos produtos manufaturados se elevaram em 3,8%. Para a CNI, esse é um indicativo de que a indústria, de modo geral, está conseguindo repassar o aumento de custos do trimestre aos consumidores, preservando a lucratividade.

Situação dos custos do setor moveleiro

Embora a pesquisa da CNI não aponte detalhes do encarecimento da produção de acordo com ramos produtivos, os custos do setor moveleiro acompanham a tendência industrial como um todo. Em Santa Catarina, estado que mais exporta móveis no Brasil, a infraestrutura precária e as tributações se somam na elevação dos preços.

“Todo o setor produtivo está sofrendo com a alta de custos e os principais fatores são o elevado custo de logística devido à falta de infraestrutura, os pesados encargos trabalhistas e as inúmeras Normas Regulamentadoras (NRs) impostas para o setor. Além da desvalorização cambial, a alta da energia elétrica, as incertezas políticas e a indefinição econômica do país aliada às altas taxas de juros que continuam, são fatores que elevam os custos de produção”, afirma o presidente do Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai (Simovale), Ilseo Rafaeli.

Fernando Aguiar

reunião em brasília sobre a desoneração do setor moveleiro

Lideranças do setor moveleiro em reunião com o ministro Eliseu Padilha, em Brasília

No Rio Grande do Sul, a produção de móveis evoluiu 3,4% no primeiro semestre. Mas, de acordo com a Associação das Indústrias de Móveis do estado (Movergs), mesmo com o número positivo é possível identificar altos e baixos no mercado interno e externo. “Sim estamos sofrendo com a alta do dólar. Muitos insumos aumentaram e não estamos conseguindo repassar. Também estamos sofrendo com relação ao aumento dos fretes e o setor como um todo não tem conseguido repassar nos preços”, comenta o presidente da entidade, Volnei Benini.

Grande parte dessas questões não são resolvidas no mercado em si, mas no plano político. A Associação Brasileira das Indústrias de Mobiliário (Abimóvel) tem sido demandada para buscar caminhos de reduzir os custos do setor moveleiro em Brasília. Seus últimos esforços, por exemplo, se concentraram em incluir os produtores de móveis no projeto de lei que prevê manter a desoneração da folha de pagamento até dezembro de 2020.

Entenda a trajetória da reoneração da folha de pagamento do setor moveleiro

Conta o presidente da entidade, Daniel Lutz, que, como resposta à greve dos caminhoneiros, em maio o governo federal vetou a isenção tributária às fabricantes de móveis (juntamente com outros setores), o que deve elevar os custos do setor moveleiro, sobretudo entre as empresas que mais empregam. As indústrias já começariam a ser tributadas sobre a folha de pagamento ainda em 2018 e não mais sobre o faturamento.

“Então, começamos uma maratona a Brasília. Conversamos com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e com parlamentares. Conseguimos costurar uma emenda que inclui o setor na desoneração até dezembro de 2020. O relatório foi aprovado e agora segue para votação da Câmara e do Senado”, diz Lutz.

Brasil precisa oferecer segurança jurídica a todos que querem investir, gerar empregos e riquezas.  Nosso país é privilegiado em riquezas naturais e culturais

Às vésperas das eleições presidenciais, lideranças do setor moveleiro aguardam com um misto de realismo e ceticismo os programas que serão propostos pelos próximos governantes. Para Benini, da Movergs, os eleitos poderiam contribuir para a desoneração da folha e a diminuição da carga tributária, mas assevera que a “política nos envergonha como empresários”.

Já Rafaeli espera que o próximo governo apresente um projeto amplo que revitalize a economia como um todo a fim de recuperar a credibilidade do país. “O Brasil precisa oferecer segurança jurídica a todos que querem investir, gerar empregos e riquezas. Nosso país é privilegiado em riquezas naturais e culturais. Tem um povo trabalhador que se reinventa a cada dia. Seja quem for o próximo presidente, o mais importante é que seja reconhecido como legítimo, que olhe para frente, que tenha um projeto de curto, médio e longo prazo e, principalmente, governe para toda a nação”, comenta.

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