Entidades do setor moveleiro apresentam opiniões diversas sobre a greve dos caminhoneiros
Associações e sindicatos moveleiros reconhecem a legitimidade da paralisação, mas com diferentes graus de apoio ao movimento
Publicado em 25 de maio de 2018 | 16:54 |Por:
A greve dos caminhoneiros chega nesta sexta-feira (25) ao quinto dia consecutivo, sem previsão de trégua nas estradas brasileiras. O acordo entre grevistas e o Governo Federal, que previa a suspensão da paralisação por 15 dias, não se firmou e a indústria nacional moveleira manifesta preocupação quanto a escassez de matérias-primas e complicações no escoamento dos produtos para os pontos de vendas e portos, o que pode comprometer a competitividade do segmento.
Prosseguem sem consenso as três principais demandas dos grevistas, que são o corte do PIS/Cofins sobre diesel em função das diretrizes estabelecidas pela Petrobrás; a aprovação do Projeto de Lei Complementar 121 que cria uma política de preços mínimos para o frete e a isenção de cobrança de pedágio pelas concessionárias sobre eixos erguidos do caminhão.
Entidades do setor moveleiro reconhecem as reivindicações em jogo na greve dos caminhoneiros, mas não sem ressalvas. O Sindicato da Indústria do Mobiliário de Mirassol (Simm), por exemplo, diz se solidarizar com a mobilização, mas é preciso cuidado para que não haja prejuízo para a sociedade e instituições.
Embora a paralisação seja por queixas do valor do diesel, do pedágio, das condições das estradas, etc., pontuamos que ações como essas devem ser pensadas de uma forma que não prejudique pessoas e instituições
“Embora a paralisação seja por queixas do valor do diesel, do pedágio, das condições das estradas, etc., pontuamos que ações como essas devem ser pensadas de uma forma que não prejudique pessoas e instituições, pois qualquer que seja o beneficiário o contribuinte sempre vai arcar com a conta em algum momento. Acreditamos que eles mostraram para o governo e para a nação sua real importância. Hoje, o país está à beira de um caos e esperamos que eles consigam obter as reivindicações desejadas, o mais breve possível, para que a conta que o contribuinte pagará no futuro não seja tão alta”, pronunciou-se a entidade em nota.
– Reflexos da greve dos caminhoneiros em 2015, quando grevistas lutavam pelas mesmas mudanças
O polo moveleiro do oeste catarinense, representados pela Associação dos Madeireiros e Moveleiros do Oeste de Santa Catarina (Amoesc) e o Sindicato da Indústria Madeireira e Moveleira do Vale do Uruguai (Simovale), entendem que a paralisação prejudica a reposição de matéria-prima e transporte de produtos, mas ainda assim reconhecem a legitimidade da greve dos caminhoneiros e reforçam o apoio ao movimento para “que haja uma resolução justa e efetiva, e que o mais breve possível haja a redução das cobranças tributárias excessivas para que a cadeia produtiva nacional possa voltar com seu potencial competitivo”, de acordo com comunicado expedido.
– Setor moveleiro do oeste catarinense prevê paralisação nas indústrias
Já as principais entidades moveleiras do Rio Grande do Sul, apesar de também reconhecerem as demandas dos grevistas, se pronunciarem contrárias as interdições nas rodovias, apontado para as consequências como falta de insumos para a produção moveleira, além de itens de primeira necessidade para a população.
Assim sendo, Movergs e Sindmóveis Bento Gonçalves endossam a pressão pela retomada imediata das condições de trafegabilidade nas rodovias
“As indústrias moveleiras gaúchas foram fortemente impactadas pela paralisação dos caminhoneiros, com falta de gás e escassez parcial de matérias-primas, obrigando muitas delas a suspenderem suas atividades. Nesse momento crucial de reivindicações, especialmente sendo Dia da Indústria, a Movergs e o Sindmóveis corroboram o posicionamento da Fiergs, publicado na manhã desta sexta-feira: o país não pode ficar refém da paralisação que traz graves consequências à sociedade. Assim sendo, Movergs e Sindmóveis Bento Gonçalves endossam a pressão pela retomada imediata das condições de trafegabilidade nas rodovias, o que ainda não aconteceu, apesar do acordo firmado na noite de quinta-feira”, comunicaram em nota as entidades.
Em sintonia com as entidades gaúchas, a Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário (Abimóvel) afirma reconhecer as exigências dos grevistas, mas entende que os bloqueios tem prejudicado as atividades em todos os polos moveleiros do país. Segundo o presidente da entidade, Daniel Lutz, “observa-se a falta de matérias primas, insumos, aumento dos custos fabris, entre outros, e por fim muitas empresas estão paralisando suas produções e parques fabris. Em função do exposto, a Abimóvel acompanha a posição da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), defendendo a suspensão dos bloqueios das estradas, pois a greve vem afetando seriamente a vida da população, a produção e a distribuição de bens”.
Greve dos caminhoneiros afeta faturamento das empresas
No polo moveleiro de Arapongas (PR), as empresas já estão apresentando baixas no faturamento por conta da greve dos caminhoneiros. Segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Móveis de Arapongas (Sima), Irineu Munhoz, desde o começo da paralisação, na segunda-feira, cerca de 20% do faturamento das indústrias da região está comprometido pela impossibilidade de escoar a produção e receber matéria-prima. O empresário também afirma que se a situação não se resolver até semana que vem, este percentual pode chegar a 40%.
“Normalmente é no fim do mês que se concentra a maior parte do volume de faturamento das fabricantes do setor. Nós do Sima entendemos a reivindicação como é justa (a carga de imposto e o valor de combustível é exacerbado, além da questão dos pedágio), porém estamos sofrendo muito com a greve. O município está desabastecido de combustível e alimento”, diz Munhoz.
Enquanto a situação não se resolve, as próprias empresas do setor começam a interromper seus trabalhos. A empresa de móveis planejados My Home, por exemplo, emitiu um informativo interno dizendo que, por falta de insumos para a área produtiva, a empresa não teve expediente nesta sexta-feira e possivelmente não terá na segunda-feira, caso as manifestações persistam.