Estudo de Oportunidades Estados Unidos é lançado pelo Brazilian Furniture

Mercado de US$ 42,3 bi em importações, boom de moradias compactas e novas tarifas globais, estudo do Brazilian Furniture traça riscos e oportunidades

Publicado em 3 de novembro de 2025 | 11:30 |Por: Thiago Rodrigo

Com um PIB de US$ 29,2 trilhões e uma população de 340 milhões de habitantes em 2024, sendo 83,5% urbana, os Estados Unidos mantêm-se como a maior economia do mundo e a 15ª mais complexa, segundo o Índice de Complexidade Econômica (ICE). No ano passado, o país cresceu +5,3% em termos nominais, consolidando um ambiente de negócios robusto, de alta sofisticação tecnológica e forte capacidade de consumo – fatores que o posicionam no topo do ranking de atratividade entre os países analisados pelo Projeto Brazilian Furniture.

Complementando o relatório “Do Brasil para o Mundo”, a Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos), lançou o “Estudo de Oportunidade para o Exportador Brasileiro de Móveis e Colchões – País-Alvo: Estados Unidos | Edição 2025”, primeiro de uma série de análises aprofundadas sobre os principais mercados-alvo para a indústria moveleira nacional.

O material, elaborado pelo Iemi – Inteligência de Mercado, apresenta dados atualizados, projeções e análises sobre o desempenho do Brasil como parceiro comercial dos Estados Unidos, maior importador mundial de móveis e colchões, e principal destino das exportações brasileiras do setor moveleiro – agora diante das questões do “tarifaço”.

Apesar da desaceleração da produção local de móveis (queda de -9,2% entre 2020 e 2024), o consumo interno dos Estados Unidos manteve-se elevado, atingindo US$ 93,2 bilhões em 2024. Desse total, 45,4% foram supridos por importações – a maior participação em mais de cinco anos. Outro indicador relevante é o boom imobiliário de pequenas residências, com aumento de +3% nas vendas de casas novas em 2024, impulsionando a demanda por móveis compactos, multifuncionais e sustentáveis.

Importações norte-americanas de móveis

Em 2024, os Estados Unidos importaram US$ 42,3 bilhões em móveis e colchões, alta de +10,4% frente a 2020 (ano-base de comparação do estudo). O Vietnã e a China lideraram o fornecimento, com 29,9% e 29,2% de participação em valores, respectivamente, seguidos pelo México (7,7%) e Canadá (7,6%).

O Brasil ocupou a 16ª posição, com 0,5% de participação em valores e 0,7% em volumes, perdendo ligeiramente espaço em relação a 2020. Indicador, aliás, que confirma um dos principais pontos da defesa brasileira contra o tarifaço imposto pelo governo americano, demonstrando que as importações de móveis brasileiros não representam risco à segurança nacional dos EUA.

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A China, contudo, foi o país que mais perdeu participação (-8,9 p.p.), enquanto o México ampliou significativamente sua presença (+67,3%), beneficiado por sua proximidade logística e acordos comerciais preferenciais. O Vietnã, por sua vez, consolidou-se como o maior exportador de móveis aos EUA em 2024, combinando custo competitivo e eficiência industrial.

Entre os fornecedores, a Malásia praticou o menor preço médio (US$ 3,95/kg), enquanto o Brasil apresentou US$ 4,03/kg, valor 20,4% abaixo da média geral das importações norte-americanas, o que indica posicionamento em produtos de menor valor agregado e, ao mesmo tempo, potencial de ascensão em segmentos de design e alto luxo.

Desempenho e potencial do Brasil

Entre 2020 e 2024, o Brasil exportou US$ 1,4 bilhão em móveis e colchões para o mercado americano, registrando queda de -9,9% no período. Em 2024, o valor exportado foi de US$ 225,9 milhões, retração de -3,6% frente a 2023. O volume exportado também diminuiu: 56 mil toneladas, queda de 40,4% em relação a 2020. A pauta exportadora manteve-se concentrada em móveis de madeira (90,4%), seguida por assentos (9,6%) e colchões (0,04%).

Apesar da retração, o preço médio das exportações brasileiras aumentou +51,3% desde 2020, refletindo melhorias em valor agregado e posicionamento de mercado, especialmente nas linhas de assentos e móveis de madeira para dormitório, que já alcançam valores superiores à média das importações norte-americanas. Com base em análises do Iemi, o potencial adicional de crescimento do Brasil a curto e médio prazos (3 a 5 anos) é de US$ 45,6 milhões, o que elevaria as exportações anuais a US$ 271,3 milhões, um incremento de +20,2%.

As oportunidades concentram-se especialmente em:
– Móveis de madeira para dormitório, principal produto exportado;
– Móveis de plástico, com preço médio acima da concorrência;
– Outros móveis de madeira, com potencial de diversificação e design autoral.

Tarifas, barreiras e o novo cenário comercial

O relatório destaca que a legislação de importação norte-americana é complexa e fragmentada, exigindo do exportador brasileiro atenção a múltiplas normas federais e estaduais. Essa complexidade aumentou em 2025 com a adoção do chamado “tarifaço” dos EUA, que elevou as taxas de importação americana sobre móveis e madeira para até 50%, afetando diretamente os produtos brasileiros.

Segundo levantamento do Iemi, as exportações brasileiras de móveis e colchões caíram -14,5% em agosto de 2025, primeiro mês de vigência das novas tarifas. Especificamente no caso dos móveis prontos exportados aos EUA, a queda foi de -22% em relação a julho e -26% frente ao mesmo mês de 2024.

O impacto foi sentido principalmente em Santa Catarina, São Paulo e Minas Gerais, que viram redução nas vendas ao mercado norte-americano e redirecionamento para destinos alternativos na América Latina, Europa e Oriente Médio — com destaque para Uruguai, Argentina, França e Emirados Árabes Unidos. Agora, com uma nova rodada de tarifas em nível global tendo entrado em vigor no dia 14 de outubro de 2025, espera-se que a dinâmica de competição mundial do setor no mercado americano mude mais uma vez.

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A medida afeta em especial os principais fornecedores, estabelecendo taxas de 10% para madeira de construção e 25% para móveis e utensílios de cozinha. Os percentuais serão elevados a partir de 1º de janeiro de 2026, quando os móveis passarão a ter imposto de 30% e armários de cozinha de 50%.

As novas taxas aplicam-se a todos os produtos dessas categorias que entram no território norte-americano, independentemente da origem. Estas tarifas não se somam às já existentes para produtos importados, que variam entre 10% e 50%, dependendo do país de origem.

Apenas países com acordos comerciais específicos terão tratamento diferenciado, como Reino Unido (máximo de 10%), União Europeia e Japão (máximo de 15%). Dessa forma, reforçando a importância e a urgência da agenda bilateral entre Brasil e Estados Unidos. A Casa Branca justifica a implementação dessas novas tarifas como necessária para proteger a segurança nacional, seguindo argumento similar ao utilizado em impostos setoriais anteriores sobre aço, alumínio, automóveis e cobre.

Análise e perspectivas

Diante de tudo isso, apesar do cenário desafiador, o estudo reforça que o mercado norte-americano continua sendo estratégico para a indústria de móveis brasileira, tanto pela sua dimensão e poder de consumo quanto pela demanda crescente por produtos sustentáveis e de design original. A Abimóvel, em parceria com a BMJ Consultores Associados, segue atuando para monitorar, esclarecer e mitigar os impactos tarifários, buscando condições mais favoráveis por meio do diálogo diplomático e comercial.

A recente aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) e Donald Trump (EUA) também é vista com bons olhos, podendo abrir espaço para novas negociações e ajustes tarifários, com o objetivo de restabelecer o equilíbrio competitivo do setor. “Nosso foco é garantir que o Brasil não apenas mantenha sua presença no mercado norte-americano, mas avance em competitividade, valor agregado, sustentabilidade e identidade de design”, ressalta Irineu Munhoz, presidente da Abimóvel.

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