Indústrias de móveis brasileiras sentem tarifaço dos EUA
Queda nas exportações de móveis e colchões foi de -14,5% em agosto, primeiro mês de vigência das tarifas de 50%
Publicado em 14 de outubro de 2025 | 09:10 |Por: Thiago Rodrigo

As exportações brasileiras de móveis e colchões registraram queda de -14,5% em agosto frente a julho de 2025, com US$ 60,8 milhões em produtos exportados no mês. O resultado representa uma desaceleração que reflete os efeitos diretos do “tarifaço” imposto pelos Estados Unidos, principal destino das vendas externas do setor. Com isso, o acumulado do ano, que até julho apontava alta de +7,0%, recuou para +5,7% (somando US$ 506,03 milhões em oito meses) em agosto, enquanto a variação em 12 meses se manteve positiva em +7,8%.
Exclusivamente para os Estados Unidos, as exportações brasileiras do setor caíram -22% na passagem de julho para agosto e -26% em comparação com igual mês em 2024.
Os dados são da Secex (Secretaria do Comércio Exterior) do Ministério da Economia, levantados pelo Iemi com exclusividade para o Projeto Brazilian Furniture, iniciativa da Abimóvel (Associação brasileira das Indústrias do Mobiliário) em parceria com a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).
Cenário nos principais estados exportadores
Em Santa Catarina, principal estado exportador de móveis e colchões no período, o indicador registrou forte recuo de -33,4% na passagem de julho para agosto. No acumulado do ano, 41,5% do total exportado pelo estado teve como destino os Estados Unidos – percentual inferior ao verificado entre janeiro e agosto de 2024 (44,3%). O dado reforça a perda de fôlego nas vendas ao principal parceiro comercial do setor.
No Rio Grande do Sul, as exportações cresceram +10,2% frente a julho, impulsionadas, contudo, por novos mercados regionais. O Uruguai passou a ser o maior destino dos móveis gaúchos em 2025, com 15,2% de participação, acima dos 13,5% registrados no mesmo período de 2024. Já os Estados Unidos caíram de 15,7% para 12,6%, passando da primeira para a segunda posição no ranking.
O Paraná apresentou queda de -1,0% em agosto, mantendo os EUA como principal destino (12,9%). Porém, destaca-se a expansão das exportações à Argentina, que saltaram de 0,7% no período de janeiro a agosto de 2024 para 6,4% em 2025 – agora na sexta posição entre os principais compradores.
Em São Paulo, houve recuo de -8,0% nas exportações em relação a julho. No acumulado do ano, os Estados Unidos seguem na liderança, com 42,9% de participação (queda frente aos 52,3% de 2024), seguidos por Chile (11,0%) e Uruguai (6,8%). O movimento confirma uma readequação geográfica das vendas externas paulistas, com maior diversificação de destinos.
Minas Gerais também registrou retração, de -14,9% em agosto. A participação americana nas exportações mineiras caiu de 19% para 11,7% no comparativo anual. Em contrapartida, a Argentina subiu de 1,8% para 11,5%, tornando-se o segundo principal mercado, seguida de Porto Rico, que passou de 6,5% para 9,3% de participação. Outros destinos na Europa (como a França) e no Oriente Médio (como os Emirados Árabes Unidos) também vêm ganhando projeção, indicando movimentos de reposicionamento comercial.
Exportações dos fornecedores também são afetadas
As exportações de componentes, fornecedores e máquinas para a fabricação de móveis – segmentos também impactados pelas medidas tarifárias dos EUA – apresentaram queda de -3,51% entre janeiro e agosto de 2025, frente ao mesmo período de 2024. Os Estados Unidos seguem como principal destino (38,1%), seguidos de Argentina (12,8%) e Chile (5,1%).
Na esteira do tarifaço que culminou na taxação de 50%, tendo entrado em vigência no último dia 6 de agosto, o governo dos Estados Unidos formalizou ao final de setembro a aplicação de novas tarifas sobre madeira e móveis, com entrada em vigor em 14 de outubro de 2025, por meio de Proclamação assinada pelo presidente Donald Trump, com base na Seção 232 do Trade Expansion Act, que visa investigar “a ameaça dessas importações à segurança nacional americana”.
O pacote abrange produtos como softwood, móveis de madeira estofados, armários de cozinha, gabinetes de banheiro e painéis de madeira, com alíquotas que variam entre 10% e 50%, e reajustes adicionais previstos para 1º de janeiro de 2026.
As medidas não serão cumulativas às tarifas já existentes (como a sobretaxa de 40% sobre produtos brasileiros e as tarifas recíprocas de 10%), mas incidirão sobre a tarifa básica (Nação Mais Favorecida – NMF), alterando a estrutura de preços e a competitividade dos produtos no mercado americano.
Países com acordos comerciais ativos – como Reino Unido (10%), União Europeia e Japão (15%) – receberam tratamento tarifário preferencial, enquanto o Brasil e outros países sem pactos específicos de madeira e mobiliário foram afetados.
Vale ressaltar que todos os produtos do capítulo 44 (Madeira e seus derivados) foram excluídos do Anexo II da Ordem Executiva 14257, que define a lista de isenções das tarifas recíprocas (10%). No caso brasileiro, os produtos do capítulo 44 terão as tarifas elevadas de 40% para 50%, com exceção de produtos softwood, cuja tarifa foi fixada em 10% para o mundo todo.
Análise e perspectivas do tarifaço dos EUA
A nova medida, portanto, tem o poder de mudar mais uma vez a dinâmica competitiva do setor no mercado norte-americano, uma vez que os produtos afetados foram excluídos das tarifas adicionais anteriores, equalizando as alíquotas entre a maior parte dos países exportadores. O governo americano, aliás, sinalizou que condições aduaneiras mais favoráveis podem ser alcançadas por meio de negociações bilaterais, como é o caso dos mercados que obtiveram tarifas preferenciais.
Nesse contexto, a BMJ – Consultores Associados, parceira da Abimóvel na análise, defesa e tratativas comerciais em prol do setor, acredita que a retomada do diálogo entre as autoridades brasileiras e norte-americanas, com o possível encontro entre o presidente Lula e o presidente Trump – especialmente após as repercussões positivas do telefonema entre eles no último dia 06 de outubro –, pode abrir caminho para condições mais vantajosas ao Brasil.
Há, porém, a expectativa de que outras tarifas sobre hardwoods sejam aplicadas, uma vez que o presidente americano declarou esperar um relatório do Secretário de Comércio sobre as demais ameaças representadas pelas importações do segmento à segurança nacional até 1º de outubro de 2026.
Em meio a este ambiente, a Abimóvel em parceria com a BMJ, sob a coordenação do Dr. Welber Barral, mantém sua atuação técnica e jurídica com vista a monitorar, esclarecer e mitigar os impactos das novas tarifas, seguindo com sua agenda em prol do incremento à competitividade, do posicionamento e da internacionalização da indústria nacional.







