Inovação no setor moveleiro

A obtenção de maiores lucros está ligada a inovação e, por isso e vários outros motivos, implantar essa cultura no negócio é imprescindível

Publicado em 1 de maio de 2025 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo

Reportagem originalmente publicada na Móbile Fornecedores 282 em 2017
Pessoas e cargos desta matéria consideram os profissionais da época da publicação

Qualquer mercado requer atualização constante das empresas para estarem adequadas às necessidades dos consumidores e isso não é diferente no acirrado setor moveleiro. Oferecer um novo produto que faça a diferença para as pessoas e seja um sucesso é o sonho de todo empreendedor. Para isso, é essencial inovar. A inovação no setor moveleiro sempre foi um diferencial para toda e qualquer companhia, independente da sua área de atuação. Por conta da tecnologia e mudanças no padrão de consumo, a necessidade de inovação tem se tornado protagonista para empresas que buscam se diferenciar no mercado.

Inovar tem como primeiro objetivo a obtenção de lucros, seja pela diferenciação dos móveis que a indústria cria ou pela redução de custos que é gerada. Porém, existem outros ganhos obtidos ao implantar uma cultura inovadora na empresa, como inovações voltadas para a sustentabilidade, por exemplo, que podem gerar ganho de capital social da empresa com os seus consumidores. “Nesse sentido, quando atrelamos a inovação aos valores de consumidores, abrimos uma gama de possibilidades”, afirma o consultor, pesquisador e professor de Gestão da Criatividade e Inovação na ESPM, Me. Caio Giusti Bianchi.

No mercado atual, tratar a inovação como algo isolado no início ou término da oferta de um produto e serviço não é mais suficiente. Dessa forma, a gestão da inovação que tem que ser uma abordagem estratégica e sistemática da inovação em uma empresa. “As empresas que se destacam possuem, além da inovação em diferentes etapas do seu processo produtivo, uma cultura de inovação que permeia todos os departamentos (do posicionamento no mercado, design de produto, desenvolvimento até a oferta e pós-venda, por exemplo)”, explica Bianchi.

Além de produtos, uma gestão de inovação eficiente pode inovar também em processos e modelo de negócios. As dimensões da inovação podem ser de produto, serviço, processo, marketing e organizacional. “Nisso, já vemos que inovar é mais do que trazer um produto novo, é uma abordagem organizacional que reverbera em diferentes aspectos do negócio”, salienta o professor da ESPM.

Um outro fator é a redução de custos. “Na história de planejamento estratégico empresarial, empresas buscam uma das duas estratégias: diferenciação ou redução de custos. A inovação, nesse sentido, é útil para ambas, em que uma fabricante de móveis pode alcançar lucros maiores com a diferenciação por produtos inovadores de alto valor agregado ou com a redução de custos na oferta de produtos que passaram por inovações de processo e chegam ao mercado com um aumento da margem de lucro”, exemplifica.

Inovação no setor moveleiro

As fabricantes de móveis possuem grandes oportunidades de inovação em diferentes formas. Além de modernizar no design e material de móveis, há a possibilidade de inovações na área de marketing e de estrutura organizacional. Todavia, ao olhar o mercado, também se observa oportunidades ao se atentar às principais tendências de comportamento dos consumidores – tema debatido na Móbile Fornecedores 281 – como a personalização dos móveis e ambientes e outras demandas crescentes na utilidade de móveis.

Na visão da designer da Ye Design, Muriele Vivian, um pequeno percentual das empresas moveleiras no Brasil possui uma cultura organizacional voltada à inovação. “É importante pensar na inovação como um processo sistêmico dentro das corporações, minimizando a cultura do imediatismo e da cópia e fortalecendo as marcas”, assegura.

Isso que, a relação do design de móveis com a inovação é intrínseca e orgânica. “A razão é simples. Quando trabalhamos com design, há o fator criatividade inerente às atividades. A partir da criatividade, quando aplicada a processos estratégicos de materialização e viabilização, surge a inovação. Então, um design inovador de móveis permite que uma empresa tenha os produtos em destaque no mercado, gerando lucro”, garante Bianchi.

Implantando a inovação

Para se ter melhorias no mobiliário por meio de uma gestão inovadora, a empresa de móveis deve considerar a inovação em todos os departamentos e níveis. “A inovação não é algo que surge apenas em um departamento de marketing com cinco pessoas e sim algo que deve ser incentivado desde o fornecedor de matéria-prima até o atendente do pós-venda”, frisa o professor da ESPM.

Ele toma como exemplo um fornecedor que oferta uma matéria-prima que possui o mesmo custo, mas é mais leve ou mais resistente que a anterior; ou o atendente do pós-venda que pode identificar padrões nas solicitações de consumidores para melhorias no website.

Apesar de ser um assunto complexo, a implementação de uma gestão e cultura de inovação não é impossível, de acordo com Bianchi. Entre diferentes táticas para incentivar a inovação, ele sugere desde cafés da manhã com troca de informações sobre projetos entre departamentos, passando por treinamentos para inserção de um sistema de sugestões de melhoria nas fábricas e chegando a cursos de ideação e gestão da criatividade para departamentos de design. “As possibilidades são várias, variando também no volume de investimento necessário, mas o ponto principal é a inserção de uma cultura de inovação”, define.

Leia mais sobre inovação

Para as fábricas que ainda não tem um grupo de trabalho com foco na inovação, e que vai começar do zero nesse sentido, o ideal é a contratação de um consultor ou colaborador que seja responsável por inserir aos poucos, mas sucessivamente, a cultura de inovação na empresa. “Com essa inserção gradual por meio de palestras, workshops e grupos de discussão transversais, um programa sólido e orgânico de inovação é formado”, defende Bianchi.

Ele explica que a consultoria pode exercer diferentes papéis em diferentes momentos do processo de inovação de uma empresa, variando de acordo com a sua necessidade. “Ela pode ser contratada para sensibilizar culturalmente e estruturar o programa de inovação em empresas que não o possuem; para organizar e aumentar a eficácia de processos de inovação já estruturados; ou até mesmo para gerenciar as métricas de resultados de programas de inovação maduros”, explica.

Cases de inovação

Não são poucas as empresas que tiveram resultados nos negócios e geração de valor para os clientes por meio da implantação da inovação. A UPS, maior empresa de entregas do mundo, encontrou e executou uma inovação de processos que gerou economia de 10 milhões de galões de combustível, reduziu 20 mil toneladas de dióxido de carbono emitido e aumentou o volume de entregas em 350 mil em um ano.

“Apesar dos números exorbitantes, a solução foi simples: reduziram ao máximo a quantidade de conversões à esquerda dos seus caminhões de entrega. Com isso, considerando o tráfego dos Estados Unidos, não há necessidade de aguardar semáforos e há redução da quantidade de colisões, sendo um grande exemplo de inovação que gera resultados com uma solução simples”, esclarece o professor da ESPM.

Outro exemplo, em escala global e conhecido do público geral, é a presença de nomes próprios nas latas da Coca-Cola. A campanha foi criada na Austrália, onde o consumo do refrigerante entre jovens estava em queda. “A ideia, aparentemente simples, fez com que o consumidor se identificasse novamente com a marca”, conta.

A partir dessa identificação, e contando com o efeito de difusão da tecnologia, a campanha contou com um alcance global e resultados impressionantes de aumento de 2% a 4% nas vendas de Coca-Cola em diferentes países (números relevantes considerando o setor). “A lição a ser tirada desse caso é a importância de inovar, personalizar e individualizar a comunicação da marca com os seus consumidores, gerando compartilhamento de valores e ‘viralização’”, define Bianchi.

Parcerias de inovação

A busca por agências de fomento e parcerias com startups, universidades ou o Senai, é outra medida que as indústrias moveleiras podem executar. Como cada uma pode oferecer um benefício diferente, cabe à companhia escolher a que melhor se adéqua a ela e ao momento em que ela se encontra. Enquanto as startups podem ser uma ótima estratégia para injeção de ideias inovadoras de modelos de negócios, as universidades “são uma ótima fonte de designers com a mente oxigenada (a exemplo de diversos Hackatons que acontecem em empresas)”, assinala.

Por fim, o Senai e outras organizações profissionalizantes são ótimos parceiros no que tange inovações de processo e técnicas de produção/montagem. O professor do curso de Gestão da Criatividade e Inovação na ESPM também observa que, apesar dos recursos de fomento à inovação estarem escassos em relação a períodos anteriores, o Brasil conta com alguns programas de fomento, como:

– Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae
– Financiadora de Estudos e Projetos (Finep)
– Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)
– Programa de Formação de Recursos Humanos em Áreas Estratégicas (RHAE) do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
– Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas Pipe da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp)
– Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (Pite) da Fapesp

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