Mercado de móveis da China

Mercado de móveis da China desafia a indústria moveleira brasileira, mas soluções para competir internacionalmente com mais força são internas

Publicado em 3 de janeiro de 2024 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo

Reportagem publicada originalmente na edição 322 da Móbile Fornecedores

Em 2012, a indústria moveleira chinesa detinha 36,5% da produção mundial, com uma receita total estimada em US$ 156,2 bilhões. Em 2021, após dez anos de evolução, a produção chinesa alcançou uma receita estimada em US$ 190,5 bilhões, elevando a sua participação para 43,4% da produção mundial. No período (2012 e 2021), o crescimento acumulado em dólares foi de 22%, enquanto a produção mundial se manteve praticamente estável no período, permanecendo hoje na casa de 439 bilhões de dólares anuais.

Isso mostra a pujança do mercado moveleiro chinês, país que há 50 anos tinha um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 92,6 bilhões em 1970. Desse modo, o mercado moveleiro chinês é um dos principais competidores do móvel brasileiro, que sofre para ganhar no mercado internacional e crescer sua participação na exportação. Esse aumento da relevância da indústria chinesa ao longo da última década, quando já era uma potência mundial no setor, mesmo que atrás de Alemanha e Itália, se deve principalmente às políticas industriais de estado.

Essas políticas começaram muito antes do período de análise, visando expandir a complexidade do parque industrial e posicionar a China como uma das maiores potências econômicas do mundo. Elas estiveram baseadas em dois grandes caminhos de crescimento: um deles com foco nas exportações, a partir de incentivos cambiais, baixa regulação trabalhista e ambiental, subsídios para as matérias-primas, entre outros.

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mercado de móveis da China

Indústria moveleira chinesa é composta por mais de 60 mil empresas que fabricam todo e qualquer tipo de móveis como pode ser visto nas feiras Furniture China e Ciff Shanghai e Guangzhou

O outro teve como foco o desenvolvimento do mercado interno, fomentado com a migração da população do campo para as cidades, o aumento da renda e da classe média chinesa, além do “boom” da construção civil no país, com a construção acelerada de novas residências para abrigar um contingente de milhões de novos residentes das áreas urbanas.

As políticas relatadas na primeira questão foram extremamente exitosas, a ponto de colocar a indústria moveleira chinesa na liderança da produção e das exportações globais de móveis, muito à frente dos demais países, já a partir do início dos anos 2000. “Além disso, força e as dimensões do setor imobiliário local impressiona, representando, atualmente, cerca de 15% do produto interno bruto chinês, o que garantiu uma oportunidade única para a indústria do mobiliário local”, explica o diretor do Iemi, Marcelo Prado.

Ademais, a classe média chinesa compreende um montante de 400 milhões de pessoas, oferecendo aos produtores locais um mercado consumidor maior do que toda a população dos Estados Unidos. “Um contingente que mudou o perfil da demanda por produtos no país, que vão muito além da satisfação das necessidades básicas, que combinadas com políticas de acesso ao crédito, permitiram que os chineses continuassem demandando bens duráveis e de maior valor agregado como os móveis”, assinala Prado. Desse modo, indústria moveleira chinesa se beneficiou quase completamente do crescimento da economia chinesa.

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Para ter maior participação no mercado mundial de móveis, indústria moveleira brasileira precisa ter apoio do governo como teve a China

Contudo, não somente. A China teve olhos fixados para o mercado internacional e comercializou de diversas formas grande parte de sua produção moveleira. Tanto é que sua participação na exportação mundial de móveis é praticamente a mesma da União Europeia. Sua participação da exportação sobre a produção foi de 27,5% em 2019.

A trajetória de crescimento iniciou em 1976. Naquele ano, Deng Xiaoping adquiriu uma política de portas abertas ao investimento estrangeiro. Com isso, fez o PIB ter um salto enorme, passou de 2,3% da participação mundial em 1980, para 18% em 2021, após crescer 8,1% no ano. Mais sobre o desenvolvimento econômico chinês e de seu setor moveleiro, você pode conferir em reportagem na edição 288 da Móbile Fornecedores.

Desafios perante o mercado de móveis da China

Não somente a China, é claro, mas o país é quem mais “toma” potenciais clientes de móveis brasileiros e desafia o País a conquistar mercados e ter maior presença moveleira internacionalmente, mais de acordo com o tamanho e potencial da produção moveleira brasileira.

Um exportador líquido de móveis (com exportações muito superiores às importações), o Brasil conta tem uma pauta exportadora em que os preços médios dos produtos brasileiros se encontram abaixo da média dos principais exportadores mundiais. “Isso demonstra que o País dispõe de uma grande competitividade para expandir sua participação no comércio internacional, em especial na linha de móveis de madeira, que representa mais de 80% das vendas do país no exterior”, diz o diretor do Iemi.

Dentro desse cenário, o Brasil apresenta boas possibilidades de aumentar a sua participação até mesmo no mercado chinês, com potencial de capturar para as marcas nacionais uma fatia relevante do seu grande contingente de consumidores. Na visão de Marcelo Prado, isso é possível desde que haja um esforço coordenado de promoção e desenvolvimento dos produtos brasileiros no mercado asiático, capaz de estabelecer contato permanente com os canais de distribuição locais.

Para expandir o produto móveis até mesmo na Ásia, ou seja, indo além da América Latina, Europa, África e Estados Unidos, “os exportadores brasileiros terão que se esmerar para ofertar aos chineses produtos originais, com design e estilo próprios, capazes de gerar atratividade e diferenciação frente aos produtos europeus e norte-americanos”, afirma Prado.

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Indústria moveleira chinesa enxergou o design como ferramenta essencial para competir no mercado internacional de móveis

A indústria de móveis do Brasil se posiciona entre as oito maiores do mundo, com uma participação da ordem de 2,7% do total. Apesar dessa posição de destaque, ela sofre dos mesmos problemas estruturais que assolam há décadas a indústria de transformação nacional e que impedem que desempenhe todo seu potencial, dentro e fora do País.

“Como problemas estruturais, podemos destacar o modelo tributário, a burocracia, o grau de regulação, o custo da energia, as deficiências na infraestrutura, o custo do capital etc., que atuam como grandes entraves para um maior desempenho das indústrias nacionais, em especial as indústrias intensivas em mão de obra, como é o caso da indústria do mobiliário”, afirma Prado.

No caso das exportações, as grandes oscilações no câmbio também prejudicam as vendas externas e desestimulam as empresas interessadas em se desenvolver no mercado internacional, tornando muito difícil um planejamento de mais longo prazo para a internacionalização dos nossos produtos e marcas.

Assim, o que seria preciso mudar na indústria moveleira brasileira para incrementar sua produção mundial de móveis e ser competitiva internacionalmente? Segundo Marcelo Prado, para aumentar a competitividade, a indústria moveleira nacional depende, principalmente, da melhoria do ambiente de produção no País para a indústria de transformação como um todo, o chamado “Custo Brasil”.

Independentemente disso, dado a competitividade da cadeia produtiva da madeira no País, a indústria brasileira de móveis tem conseguido se manter competitiva nos mercados interno e externo para os móveis fabricados com esse tipo de matéria-prima (tanto em chapas, quanto em madeira maciça), ainda que em patamares abaixo do seu verdadeiro potencial. Para as demais linhas, como os móveis de plástico e ou metal, o Brasil tem muitas dificuldades para ser competitivo no mercado externo.

Nos últimos dois anos, apesar de toda a instabilidade causada com a pandemia, a produção nacional se recuperou bem e conseguiu registrar níveis de crescimento relevantes, ainda que inferiores aos anos de 2012 e 2013, pré-crise econômica. Nas exportações, no ano passado, o setor moveleiro alcançou o seu recorde histórico, com mais de US$ 900 milhões. “Neste ano, vem mostrando resiliência, mesmo com as dificuldades de expansão do consumo nos principais países destino dos móveis brasileiros, como os Estados Unidos, a Europa e a América do Sul, fortemente afetados pela inflação e pelos efeitos da pandemia sobre a economia”, pontua Prado.

Apesar do importante resultado alcançado no último ano, o Brasil ainda ocupa a 26ª posição entre os principais exportadores globais, com uma participação de apenas 0,6% do total das exportações globais. “Dobrar a nossa participação nesse mercado, nos próximos anos, assim como foi feito de 2014 para cá, é um objetivo justo e alcançável, ainda que venha a demandar um grande esforço por parte das empresas e entidades envolvidas”, diz Prado, que acrescenta. “De qualquer modo, tenho uma visão otimista em relação aos objetivos do Brasil no mercado internacional e acredito que as ações que estão sendo empreendidas pelo programa Brazilian Furniture, estão no caminho certo e poderão gerar bons frutos para os produtores brasileiros”.

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China contou com grande aporte do governo para desenvolver sua economia

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