Móveis Hub Xperience fala sobre o mercado de móveis da China

Empresários moveleiros brasileiros contam como foi participar da Feira de Cantão, na China, em um dos principais polos produtivos do país

Publicado em 1 de dezembro de 2024 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo

O mercado de móveis da China desafia a indústria moveleira brasileira. Em que pese o maior fabricante de móveis do mundo, com US$ 191 bilhões produzidos em 2022, representando 43,1% de participação da produção mundial de mobiliário, ser um enorme competidor, também pode ser um espelho, uma inspiração para setor moveleiro brasileiro.

As políticas do governo chinês visaram expandir a complexidade do parque industrial e posicionar a China como uma das maiores potências econômicas do mundo. Elas estiveram baseadas em dois grandes caminhos de crescimento: um deles com foco nas exportações, a partir de incentivos cambiais, baixa regulação trabalhista e ambiental, subsídios para as matérias-primas, entre outros.

O outro teve como foco o desenvolvimento do mercado interno, fomentado com a migração da população do campo para as cidades, o aumento da renda e da classe média chinesa, além do “boom” da construção civil no país, com a construção acelerada de novas residências para abrigar um contingente de milhões de novos residentes das áreas urbanas.

Delta do Rio Yangtzé

O crescimento chinês na cadeia do mobiliário está centrado em dois grandes polos. Um deles está no Delta do Rio Yangtzé, no leste da China, compreendendo Xangai e províncias como Jiangsu, Zhejiang e Jiangxi. O local é um grande centro global de manufatura, não só de móveis, mas também de metalúrgicas, energéticas, químicas, automotivas e alta tecnologia.

O presidente chinês, Xi Jinping, ao fim de 2023, ressaltou esforços para realizar novos avanços significativos no desenvolvimento integrado da região e aprimorar o papel de liderança e exemplo da região na busca pela modernização chinesa. Isso passa por melhorar a capacidade de inovação, competitividade industrial e qualidade de desenvolvimento, também do mercado de móveis da China.

Como uma das regiões mais economicamente ativas, abertas e inovadoras da China, o Delta do Rio Yangtze atrai investidores de todo o mundo com múltiplas vantagens, incluindo uma cadeia industrial completa, talentos abundantes e um ambiente de negócios saudável. Entre 2018 e 2022, o PIB da região cresceu a uma taxa média anual de cerca de 5,5%, representando 24% do total nacional.

O valor total do comércio exterior da região do Delta do Rio Yangtzé atingiu 9,1 trilhões de yuans (cerca de 1,28 trilhões de dólares americanos) nos primeiros sete meses de 2024, batendo um recorde, segundo a Alfândega de Shanghai. Esse número significa um aumento anual de 5,8% no valor do comércio exterior da região, representando 36,7% do valor total do comércio exterior da China nesse período.

Delta do Rio Pérola

O Delta do Rio Pérola é a região manufatureira de maior e mais rápido crescimento da Ásia. Domina o fornecimento mundial de produtos leves, vestuário e acessórios variados, também com produtos do setor de móveis, com exportações nas plataformas de Hong Kong, Macau e Cantão (Guangzhou).

Foi e é o destino de empresas estrangeiras que buscam se beneficiar de vantagens de “imigração” de suas unidades de produção, assim como de investidores estrangeiros atraídos pelas condições econômicas e tributárias oferecidas. Isso faz com que a renda per capital e as vendas em geral no Delta do Rio Pérola são significativamente mais elevadas do que em qualquer outra região da China, sendo um local de muitas empresas que alavancaram o mercado de móveis da China.

Com 68 milhões de habitantes (5% da população chinesa), a região conta com onze cidades, com metrópoles como Guangzhou, Hong Kong, Macau, Shenzhen, Zhuhai e Zhaoqing. Produz 14% do PIB nacional, correspondente à quinta maior da Ásia. O governo chinês pretende que a área triplique seu PIB, atualmente em US$ 1,4 trilhão, até 2030, para competir com baías como de Tóquio e San Francisco.

mercado de móveis da China

Mercado de móveis da China no Móveis Hub Xperience

É nesta área que ocorre a Canton Fair. A Feira de Exportação e Importação da China, realizada desde 1957, abrange expositores de produtos de diversos segmentos. Com 1,55 milhão de m², de 15 a 19 de outubro teve a presença de Ana Paula Manfin, diretora executiva da Poliman Móveis; Dalvo Maróstica Jr, diretor de P&D e marketing da DJ Móveis; e Luciano Fortuna, diretor da MAB Fortuna, representante de marcas do segmento têxtil.

No M.Hub Xperience, realizado nesta terça-feira 26 de novembro, eles compartilharam suas experiências na maior feira de negócios do mundo, dando insights sobre tecnologias, sustentabilidade e Indústria 4.0, estratégias para transformar a visão de negócio, conexões com empresários chineses e como é a cultura asiática e os impactos das tecnologias que estão sendo globalizadas; algo que também pode ser lido nas edições 341 e 342 da Móbile Fornecedores que contou com a cobertura da feira de móveis Ciff Shanghai.

Com a mediação do coordenador do Móveishub, Rajanand Costa, os participantes ofereceram diversos insights e desafios nas parcerias com a China na iniciativa do Móveis Hub, que fomenta a troca de experiências como esta, estimulando a provocação de maneiras diferentes de se pensar em inovação em Arapongas (PR).

Daiane da Paz/Revista Mòbile

Móveis Hub

Ana Paula Manfin, diretora executiva da Poliman Móveis

Mercado de móveis da China

A diretora da Poliman visitou empresas de dobradiças para prospectar novos fornecedores e comentou sobre empresas de móveis planejados que produzem na mesma velocidade que móveis seriados. “Grandes marcas voltadas a móveis planejados pegam o projeto em um dia e entregam na mesma velocidade que um móvel seriado, surpreendeu a velocidade de produção do móvel planejado”, enfatizou. Ana Paula também visitou a fábrica da fornecedora de máquinas da Nanxing, junto a Dalvo Maróstica Jr.

Dalvo contou o uso de aplicativos como WeChat e Alipay para pagar pelo celular, com pouco uso do cartão de crédito. Nas indústrias, falou do investimento em automação e produtividade pelo país, com foco na alta escala e mínimo setup, com menor uso de mão de obra. Algo que faz parte do plano econômico de 25 anos estabelecido pelo governo chinês, com alto uso da logística terrestre e fluvial, de olho na sustentabilidade.

Daiane da Paz/Revista Mòbile

mercado de móveis da China

Coordenador do Móveishub, Rajanand Costa

Luciano, da MAB Fortuna, comentou sobre o volume de produção de uma empresa têxtil que visitou. “O volume deles é gigantesco, se pegar o que é produzido em Arapongas, Londrina, Maringá, Apucarana, metade o que a gente produz eles produzem em uma fábrica lá. É uma produção absurda que com o tempo começaram a ser autossustentáveis desde a fabricação do tecido e das máquinas, criando soluções para eles mesmo. A solução foi tão bem aceita que acabaram abrindo outros negócios na venda dos tecidos e das máquinas”, explica Luciano Fortuna a respeito de uma empresa de tecidos da China.

Após a visita, Ana Paula considera que é preciso o mercado brasileiro precisa aprender com a China. “Nós temos de mudar nossos conceitos, tentando enxergar a inovação e mostrar que enquanto estamos brigando por um mercado de base, eles estão tentando agregar muito mais valor. Não temos como concorrer quando não estamos nem buscando inovação”, assinala.

Ela apontou que comprar uma máquina que vai diminuir de doze para três o número de funcionários não é necessariamente uma inovação, mas sim suprir a falta de mão de obra. Dalvo Maróstica não consegue enxergar a indústria brasileira de móveis competir com a chinesa. “Conseguimos se manter no mercado interno por questão de logística, exporta para regiões aqui perto, mas indo para mercado árabe ou África já há um ‘ataque’ da China e outros países”, aponta.

Segundo ele, o Brasil está indo na contramão na parte industrial. “Aqui se fala da diminuição da jornada de mão de obra, mas lá tem pessoal que trabalha 29 dias por mês e 12 horas por dia, acaba sendo uma competição desleal. Na China, eles estão dispostos a fazer negócio e o Brasil tem muito entrave, então me assusta essa competição China-Brasil no geral e no mercado moveleiro”, pontuou.

Desse modo, é possível deduzir que a China está focada na oferta de alta produção e volume, abertos a fazerem negócios internacionais com todo o mundo em alto volume de compras, sendo rápidos para apresentarem soluções e modificações que os clientes precisam.

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