México deve impor tarifaço sobre Brasil e setor de móveis é atingido

Faixa de impostos para o setor de móveis, que atualmente varia entre 0% e 35%, será de 25% a 35%; aprovada pelo Senado, medida ainda deve passar por sanção presidencial

Publicado em 22 de dezembro de 2025 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo

O Senado do México aprovou na última quarta-feira, 10 de dezembro de 2025, um aumento nas tarifas de importação sobre diversos setores, incluindo o mobiliário. As novas taxas podem chegar a até 50% (especialmente para determinados itens provenientes da China), com a média ficando em até 35%, afetando produtos provenientes de mercados com os quais o país não possui acordo de livre comércio.

Além da indústria chinesa, a medida recai sobre o Brasil e outros oito países, devendo entrar em vigor em 1º de janeiro de 2026, a depender da sanção da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, favorável a proposta.

Oportunidades para o setor na Arábia Saudita

A decisão foi votada em meio à crescente pressão comercial exercida pelos EUA, no contexto da renegociação do Tratado de Livre Comércio da América do Norte (T-MEC). O projeto de lei afeta 1.463 classificações tarifárias em 17 setores, criando uma nova e significativa barreira para o móvel brasileiro na América do Norte, onde já enfrenta uma supertaxação que chega a 50% por parte dos EUA, o que torna a penetração na região ainda mais complexa. Além de Brasil e China, também serão atingidos países como Coreia do Sul, Índia, Indonésia, Rússia, Tailândia, Turquia e Taiwan.

Tarifas sobre o setor de móveis variam

Embora a maioria das tarifas tenha sido reduzida da proposta inicial de 50%, a nova estrutura tarifária impõe um desafio a mais para o setor moveleiro nacional. Conforme a tabela aprovada no Senado mexicano, a faixa de impostos para Móveis, que atualmente varia entre 0% e 35% (para itens de categorias específicas), passa a ser de 25% a 35%.

CÓDIGO DESCRIÇÃO UNIDADE QUOTA (TARIFA)
9403.10.03 Móveis de metal dos tipos utilizados em escritórios. Peça 35
9403.20.91 Os         demais               móveis              de

metal.

Peça 35
9403.30.01 Móveis de madeira dos tipos utilizados em escritórios, exceto o compreendido na fração tarifária 9403.30.02. Peça 25
9403.30.02 Chamados “estações de trabalho”, reconhecíveis como projetados para alojar um sistema de computador pessoal, contendo pelo menos uma superfície para monitor, uma superfície para teclado e uma superfície para a unidade central de processamento. Peça 25
9403.40.01 Móveis de madeira dos tipos utilizados em cozinhas. Peça 25
9403.50.01 Móveis de madeira dos tipos utilizados em dormitórios. Peça 25
9403.60.01 Mesas,    reconhecíveis

como   projetadas exclusivamente para desenho ou traçado (pranchetas),               sem equipamento.

Peça 35
9403.60.02 Púlpitos. Peça 25
9403.60.03 Chamados “estações de trabalho”, reconhecíveis como projetados para alojar um sistema de computador pessoal, contendo pelo menos uma superfície para monitor, uma superfície para teclado e uma superfície para a unidade central de processamento. Peça 25
9403.60.99 Os demais (móveis de outros materiais). Peça 25
9403.70.03 Móveis de plástico. Peça 25
9403.82.01 De bambu. Peça 25
9403.83.01 De ratã (rattan). Peça 25
9403.89.99 Os demais (móveis de outros materiais vegetais ou de outros materiais). Peça 35
9403.99.99 As demais (partes). Kg 25
9404.10.01 Sommiers (Estrados para camas). Peça 35

Fonte: Poder Legislativo Federal do México

A medida não atinge apenas o produto final, mas se estende a insumos e setores correlatos cruciais para a cadeia produtiva moveleira, como têxteis, alumínio e vidro, elevando os custos operacionais e logísticos de forma abrangente.

Parceria comercial em ascensão

Apesar de ainda abaixo de seu potencial, o México figurou como o sétimo principal destino do setor em 2024, com 2,5% de participação. Posição mantida no primeiro semestre de 2025, mas com avanço no marketshare, que foi de 3,7%. Entre 2019 e 2024, as exportações brasileiras de móveis e colchões para o México saltaram aproximadamente 260%, segundo estimativas levantadas pelo Iemi com exclusividade para a Abimóvel e a ApexBrasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos).

Tarifas abrem debate sobre política industrial mexicana

O aumento das tarifas de importações mexicanas levanta questões sobre o alinhamento de sua política comercial. Enquanto o Governo argumenta que a medida busca fortalecer a economia nacional, com expectativa de arrecadar US$ 2,5 bilhões adicionais no próximo ano e preservar empregos industriais no país, parte da oposição contra-argumenta que a medida foi elaborada às pressas e que o aumento de custos dos insumos importados pode impactar a inflação e o custo de vida do consumidor mexicano.

Além disso, senadores que se abstiveram ou votaram contra também sugerem que esse “muro tarifário” possa ser contraproducente no contexto da tentativa de aproximação do México com o BRICS. A medida, que além do Brasil, sobretaxa também outras economias do bloco, pode gerar fricção diplomática em um momento crucial para o rearranjo das cadeias globais de valor.

A votação, que foi até a noite, terminou em 76 votos a favor, cinco contra e 35 abstenções. Como citado, especialistas reforçam a tese de que a principal motivação subjacente à elevação dos impostos recaia sobre as negociações pelo novo acordo regional, com a imposição de tarifas sendo vista como uma forma de responder às acusações de que o país serviria como porta de entrada para produtos especialmente asiáticos nos EUA.

Brasil busca acordo comercial

O México consolidou-se como o sexto maior destino das exportações brasileiras, ficando atrás apenas de China, Estados Unidos, Argentina, Holanda e Espanha. Dados da Secretaria de Comércio Exterior mostram que, entre janeiro e novembro de 2025, o Brasil embarcou US$ 7,1 bilhões em mercadorias para o mercado mexicano. Mesmo representando uma leve retração de 1% frente a igual período no ano anterior, o país ganhou ainda mais relevância na pauta exportadora brasileira, subindo uma posição no ranking e ocupando o espaço anteriormente pertencente à Singapura.

Esse avanço, porém, ocorre em meio a um cenário de vulnerabilidade. Mais de 70% do comércio bilateral segue sem qualquer proteção tarifária, o que ameaça o desempenho atual. Embora existam acordos setoriais entre Brasil e México que abarcam segmentos como automotivo, borracha, plásticos, máquinas, sabões e cremes dentais, esses instrumentos cobrem apenas uma parte limitada do fluxo comercial, deixando a maior parcela sujeita a potenciais barreiras e instabilidades, como vemos agora.

Abimóvel reforça diálogo e cooperação na América Latina

A Abimóvel, ciente do potencial do mercado mexicano, do risco que a nova política tarifária representa e da importância das relações na América Latina, mantém o acompanhamento da questão em nível institucional e diplomático.

“O México é um parceiro comercial de grande relevância e potencial para o Brasil e para nossa indústria. Neste momento, é crucial que busquemos as vias diplomáticas e os canais de cooperação entre os países latino-americanos para preservar e fortalecer as relações entre os dois países, assegurando que o móvel brasileiro continue a ser uma opção de valor para o consumidor mexicano. Seguiremos monitorando os desdobramentos e contribuindo com parceiros empresariais e órgãos competentes na busca por soluções justas e efetivas”, pontua o presidente da Abimóvel, Irineu Munhoz.

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