Boato de nova greve dos caminhoneiros dispara alerta na indústria moveleira
Fiergs e Fetransul emitem comunicado sobre nova paralisação dos caminhoneiros que já está sob investigação da Polícia Federal
Publicado em 5 de setembro de 2018 | 15:23 |Por: Luis Antonio Hangai
Boatos de que uma nova paralisação dos caminhoneiros estaria sendo organizada para o dia 10 de setembro disparou o alerta entre indústrias e entidades empresariais. Na terça-feira (4) a Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul (Fiergs) e a Federação das Empresas de Logística e Transporte de Cargas no Estado do Rio Grande do Sul (Fetransul) emitiram uma nota conjunta sobre o assunto, alertando para possíveis consequências desastrosas da nova manifestação.
No comunicado assinado pelos presidentes da Fiergs e da Fetransul, Gilberto Porcello Petry e Afrânio Rogério Kieling, respectivamente, as entidades destacam que uma segunda greve no ano “seria desastrosa para todo a sociedade brasileira, multiplicando os resultados perversos já sofridos no primeiro semestre, com mais inflação e desemprego”. A nota prossegue assinalando “o fato de que a repetida ameaça de uma nova paralisação dos caminhoneiros abre espaço para a perigosa infiltração de movimentos partidários pela proximidade das eleições gerais no país”.
– Entidades moveleiras se manifestaram em maio durante greve dos caminhoneiros
Entretanto, as mensagens de grupos no WhatsApp que convocam profissionais para uma nova greve dos caminhoneiros estão sob investigação da Polícia Federal (PF) e pode não acontecer de fato. As principais entidades que representam a categoria – a Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) e a Associação Brasileira dos Caminheiros (Abcam) – já afirmaram que não apoiam uma eventual manifestação.
Em comunicado emitido à imprensa, a PF aponta que áudios e imagens veiculadas nas redes sociais são materiais antigos, dos protestos de maio, e voltaram a circular no último fim de semana como se fossem atuais.
“Essas ações causam transtorno à população, prejuízo ao mercado produtor e de serviços, constituem grave fator de desestabilização e têm grande potencial para provocar desordem pública. Seus autores e veiculadores, portanto, estão sujeitos às consequências das legislações que classificam os crimes contra a economia popular e contra o consumidor”, afirmou a PF em nota.
Mesmo assim uma nova paralisação dos caminhoneiros assusta o mercado, pois a última greve desencadeou severos efeitos em vários segmentos industriais, obstruindo a recuperação do setor moveleiro, que ainda batalha para superar o período de crise econômica entre 2013 e 2016. De acordo com dados do IBGE, a fabricação de móveis em maio – mês em que a greve parou o país – caiu 18,1% frente a abril do mesmo ano. Até então a indústria moveleira vinha acumulando no ano alta de 10% frente ao mesmo período do ano passado. Agora a taxa (de julho, a mais recente) está em 4,5%.
Paralisação dos caminhoneiros revela vulnerabilidades
O Brasil demonstrou em maio deste ano, e anteriormente em 2015, grande vulnerabilidade a qualquer paralisação dos caminhoneiros, uma vez que 63% de tudo que é transportado no país se dá pelo modal rodoviário. Logo atrás vem o ferroviário com 21,7%, o aquaviário com 11,7%, o dutoviário com 3,8% e por último o aéreo com apenas 0,1%, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Esses dados mostram ainda que mais de 80% da malha pavimentada está sob gestão pública e deste percentual apenas 37% é avaliada com qualidade boa ou ótima, sendo que os outros 63% estão entre regulares e péssimas.
Para a Mariana Canto, advogada especialista em logística do escritório Andersen Ballão, apenas o modal ferroviário teria condições de competir com o rodoviário devido à sua versatilidade e flexibilidade de rotas, em volume de mercadorias transportadas e na utilização diferenciada de embalagens: os móveis transportados por rodovias enfrentam riscos de avarias e demandam embalagens reforçadas.
Essa condição é péssima para a concorrência do mercado e expõe os cidadãos à distorção de políticas públicas para o atendimento emergencial da categoria
“As paralisações recentes revelaram a dependência que nosso país tem em relação ao modal rodoviário. Essa condição é péssima para a concorrência do mercado e expõe os cidadãos à distorção de políticas públicas para o atendimento emergencial da categoria”, diz a advogada. No caso do setor moveleiro, uma dessas distorções foi a perda do benefício fiscal concedido pela desoneração da folha de pagamento.
“A insegurança jurídica instalada ainda repercutirá por muito tempo no setor produtivo e como consequência indissociável nos consumidores. Os reflexos do acordo de contenção do preço do diesel ainda não são passíveis de mensuração, mas timidamente (ou não) já estão sendo percebidos por meio de alterações tributárias”, complementa.