Programas de exportação de matérias-primas e de móveis

Programas fomentam a internacionalização de empresas brasileiras e ajudam para os negócios no mercado externo

Publicado em 12 de janeiro de 2023 | 09:25 |Por: Thiago Rodrigo

O setor moveleiro brasileiro tem um potencial enorme. Embora represente apenas 3,8% da produção mundial de móveis, a impressão é que há espaço para mais. Se o consumo de móveis do Brasil no Mundo é de 3,8%, esse mais teria como foco o mercado externo, ganhando a concorrência com outros países e fazendo o móvel brasileiro ser competitivo e desejado pelo mundo todo. Como dito, potencial para isso existe.

Além de expoente na América Latina e principal player, com sobras, na América do Sul, o móvel brasileiro tem ações que fazem com que ele consiga se expandir pelo mundo. O Projeto Brazilian Furniture é a principal delas.

Realizado pela Abimóvel – Associação Brasileira da Indústria do Mobiliário junto a Apex-Brasil – Associação Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, promove a inserção do móvel do móvel brasileiro no mercado internacional com ações estratégicas de mais de 130 empresas – que pode ter a presença da sua indústria.

Entre 2018 e 2020, mesmo perante as restrições e a crise econômica gerada pela pandemia de coronavírus, as empresas participantes viram suas exportações aumentarem em 47%.

Dessa forma, somaram um total superior a R$ 650 milhões em negócios realizados com 111 diferentes países, incluindo negociações com mercados inéditos. Segundo a Abimóvel, as empresas participantes do Projeto Brazilian Furniture são responsáveis atualmente por 46% do total exportado pelo setor moveleiro no Brasil.

Projeto Brazilian Furniture

O Projeto Brazilian Furniture, oferece uma série de ações de inteligência e promoção comercial e de aproximação a potenciais compradores internacionais; promove inúmeras Missões a Feiras e eventos mundiais do setor; e, mais do que isso, adquire os espaços e a montagem para seus associados.

Também há a possibilidade de participar dos projetos de Sustentabilidade, de Design Integrado à Indústria e das ações de inteligência. A condição para fazer parte do Projeto, fruto da parceria da Abimóvel com a Apex-Brasil, é ser uma indústria de móveis associada à entidade. Além desses projetos e da participação em feiras pelo mundo inteiro, o Brazilian Furniture realiza os Projetos Comprador e Vendedor.

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Projeto Comprador

Uma das ações realizadas pelo Brazilian Furniture é o Projeto Comprador, que não parou durante a pandemia. Neste ano, foi realizado três vezes. Geralmente feito durante grandes eventos, feiras ou de forma isolada, em um momento de adequação dos canais e modalidades de vendas, as rodadas de negócios foram feitas de forma integralmente online.

“A partir do acirramento da pandemia da Covid-19, possibilita que empresas do mundo todo tenham acesso e façam negócios com indústrias brasileiras de forma direcionada, prática, segura e com todo o aporte do Brazilian Furniture e das entidades parceiras que organizam e coordenam a realização do evento”, resume a diretora executiva da Abimóvel, Cândida Cervieri.

Realizada em uma plataforma digital, o formato do evento contribui para a expansão das exportações brasileiras mesmo em face às limitações impostas neste conturbado período, que levaram a organização da Móvel Brasil e outros importantes eventos do calendário moveleiro no Brasil e no mundo a adiarem suas datas de realização física.

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“Dessa maneira, o Projeto Comprador Online oferece uma oportunidade essencial no momento para que as indústrias de móveis continuem fazendo negócios com novos e antigos parceiros comerciais de maneira remota, mas sem perder em profissionalismo e assertividade”, assegura a diretora.

Este novo cenário – que todos anseiam que esteja controlado até o fim deste ano com a vacinação em massa – “é de desafio, de muito trabalho, da busca por novas oportunidades, do mercado digital, da adoção de protocolos de segurança e de novas práticas em todos os níveis”, destaca Cândida.

Essas questões são observadas pela Abimóvel tanto nos hábitos de compra da ponta quanto do meio da cadeia. Com a tecnologia exercendo um papel fundamental ao aproximar pessoas e encurtar distâncias, quebrando barreiras de tempo e espaço, a entidade aposta em um futuro cada vez mais “figital”, com empresas e organizadores de eventos trazendo cada vez mais experiências virtuais às suas ações no plano físico.

Negócios realizados

O primeiro em março, foi o Projeto Comprador Inspiramais, o segundo em maio foi o Projeto Comprador Móvel Brasil, realizado na mesma semana do qual seria realizado a feira física.

O Inspiramais registrou cerca de US$ 785 mil em negócios imediatos e US$ 5,8 milhões em negócios prospectados para o período de um ano. A Móvel Brasil resultou em US$ 1,4 milhão em negócios imediatos e US$ 6,9 milhões em acordos projetados para os próximos 12 meses.

O Projeto Comprador Móvel Brasil reuniu cerca de 60 empresas e 36 compradores internacionais de África do Sul, Bélgica, Bolívia, Canadá, Chile, Colômbia, El Salvador, Emirados Árabes, Equador, Espanha, EUA, França, Índia, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Portugal, República Dominicana e Uruguai.

As rodadas de negócios entre indústrias nacionais e potenciais compradores estratégicos de mercados-alvo, tem fomentado, e muito, parcerias internacionais para aumentar as exportações por meio da organização de reuniões individuais. Para a nova fase do Projeto Brazilian Furniture (2021-2023), foram apontados oito países prioritários, além de cinco mercados potenciais – veja todos eles no quadro.

Brazilian Furniture 2021-2023
Países prioritários
Alemanha, Chile, Emirados Árabes, Estados Unidos, México, Peru, Reino Unido e o Canadá

Mercados potenciais
Colômbia, França, Índia, Itália e Panamá

Os mercados-alvos são selecionados após a inscrição das indústrias brasileiras interessadas em participar de cada edição, com análise e pesquisa criteriosa dos produtos a serem ofertados por cada indústria e de potenciais compradores mundiais.

Já os compradores internacionais também são selecionados com base na relevância do país-alvo; no potencial de compra; segmento de atuação; convergência da demanda com a oferta da indústria brasileira; e posicionamento de mercado.

Os resultados dessa edição foram quase 25% superiores em relação à última em maio de 2019, durante a realização da última Móvel Brasil. “Isso comprova a vocação exportadora cada vez maior da indústria moveleira nacional. Consequência, entre outros fatores, da constante profissionalização das empresas brasileiras, da modernização das plantas fabris e da produção”, destaca a diretora executiva da Abimóvel.

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Por sua vez, o Projeto Comprador Salão de Gramado, foi o terceiro evento desse ano realizado em junho. Reuniu 40 empresas brasileiras e 30 compradores internacionais, com 216 reuniões durante três dias de rodadas, resultando em cerca de US$ 1,07 milhão em negócios imediatos e US$ 4,7 milhões em negócios prospectados para os próximos 12 meses, totalizando quase US$ 5,8 milhões.

Como acontece em todas as ações realizadas por meio do Brazilian Furniture, a seleção de compradores internacionais que participaram do projeto seguiu importantes critérios referentes ao potencial de compra, estrutura de vendas, alinhamento de mercado e segmento de atuação das empresas, que tiveram acesso ao que há de mais exclusivo em tendências, materiais, tecnologia e inovação em nosso mercado.

Participaram empresas moveleiras de países como Emirados Árabes Unidos, Portugal, México, Arábia Saudita, Equador, Reino Unido, Estados Unidos, Colômbia, Canadá, Bélgica, Chile, Itália, Uruguai, República Dominicana, Guatemala e Bolívia.

Conhecimento exportador

A indústria de móveis no Brasil exerce um papel de destacada relevância tanto na cadeia produtiva na qual ela está inserida quanto na economia como um todo, sendo a sexta maior produtora de móveis no mundo e a oitava cadeia que mais emprega no Brasil. Ou seja, é intensiva em produção e mão-de-obra, representando 1,2% do Produto Interno Bruto nacional e exportando para mais de 120 mercados.

O Projeto Brazilian Furniture faz parte dos projetos setoriais da Apex-Brasil e fornece à indústria de móveis brasileira instrumentos de inteligência comercial que permitem conhecimento e análise da demanda mundial, o posicionamento dos países concorrentes e da conjuntura mundial. Em decorrência, possibilita delinear o planejamento estratégico de cada empresa, para que ela se destaque no mercado internacional.

Nesse sentido, a Abimóvel tem sido uma referência pela atividade, qualidade e o volume de negócios que temos promovido, fazendo as empresas brasileiras chegarem a mercados importantes e participarem de eventos sofisticados como a Semana de Design de Milão, bem como a conquistar grandes prêmios, como o iF Design Award.

Importante apontar que os associados do Brazilian Furniture têm acesso a relatórios periódicos sobre o mercado moveleiro, tais como o Anuário Brasil Móveis, a Conjuntura Mensal do Setor de Móveis, Monitoramento Mensal das Exportações de Móveis, estudos e panoramas de mercados-alvos, entre outras pesquisas de inteligência comercial.

Projeto Orchestra Brasil

Assim como há o Projeto Brazilian Furniture para as indústrias de móveis, há o Projeto Orchestra Brasil para as empresas fornecedoras de materiais para a fabricação de móveis. O Projeto Orchestra Brasil existe desde 2006 e promove a inserção competitiva de fornecedoras do setor moveleiro no mercado internacional. Para isso, são promovidos estudos de mercado; missões comerciais e prospectivas; ações individuais; Projetos Comprador, e Imagem, além da participação nas principais feiras mundiais do setor (o que neste momento de pandemia não vem ocorrendo).

Em 2020, os valores em dólares das exportações das empresas apoiadas pelo Projeto Orchestra Brasil cresceram 15% em relação ao ano de 2019 em um contexto o qual as exportações brasileiras em geral, dos mesmos produtos, cresceram 7,6% no mesmo período.

“Isso significa que o desempenho é superior ao das empresas brasileiras não apoiadas e que fabricam os mesmos produtos”, destaca Ana Cristina Sant’Anna Schneider, consultora Internacional do Sindmóveis Bento Gonçalves e gestora do Projeto Orchestra Brasil, organizado pelo Sindicato das Indústrias do Mobiliário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) com apoio da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil)

Atualmente, participam do projeto mais de 50 empresas de insumos, componentes, acessórios, químicos, máquinas, ferramentas e software – e pelo menos 50% delas são exportadoras, negociando com um total de 98 países. No ano passado, apesar das dificuldades fronteiriças decorrentes da pandemia, 29 empresas apoiadas abriram novos mercados e 22 exportaram pelo menos um novo produto. As empresas exportaram US$ 170 milhões em 2020, representando crescimento em torno de 13%, com todo cenário enfrentado.

Os mercados prioritários do Orchestra Brasil, hoje, são Argentina, Colômbia, Estados Unidos, México e Peru. Os secundários são Alemanha, Guatemala, Reino Unido, Angola, África do Sul, Bolívia, Canadá e República Dominicana. “Em geral, podemos dizer que a demanda que se explicitou no Brasil pelo mobiliário e consequentemente pelos insumos, partes, componentes, etc. foi um movimento global, que provou aumento de demanda também nos países-alvo”, diz Ana Cristina.

De acordo com ela, participar do Projeto Orchestra Brasil é uma oportunidade para as empresas brasileiras em se tratando de negócios, mas também reputação, pois ele posiciona positivamente esse segmento no mercado externo, elevando a percepção de valor e a competitividade brasileira.

“Esse elo é fundamental para aumentar a competitividade da indústria como um todo: estima-se que 70% do valor da produção de móveis passa pelos insumos e consumo intermediário do setor”, afirma a consultora internacional do Sindmóveis. Do total da produção de móveis, 46,7% são componentes.

Orchestra Brasil
Países prioritários
Argentina, Colômbia, Estados Unidos, México e Peru

Países secundários
Alemanha, Guatemala, Reino Unido, Angola, África do Sul, Bolívia, Canadá e República Dominicana

Rodadas online Fimma

Em maio de 2021, as fornecedoras moveleiras puderam realizar negócios a partir de evento no que seria realizada a Fimma Brasil física, sendo uma iniciativa importante para que as empresas brasileiras atestassem sua capacidade de atuação global com soluções voltadas a toda cadeia produtiva de madeira e móveis.

“As reuniões online tiveram caráter de aproximação para uma sequência de negócios que serão efetivados até o próximo ano. Foi uma excelente oportunidade de mapear os importadores mais promissores para que sejam convidados a visitarem a Fimma e Movelsul em nossa próxima edição presencial, de 14 a 17 de março de 2022”, assinala a consultora internacional do Sindmóveis.

Além do planejamento prévio com a captação de importadores para as rodadas, a equipe do Orchestra Brasil preparou conteúdo prévio de apresentações das empresas brasileiras participantes e acompanhou diariamente o transcorrer das reuniões, fazendo o intermédio entre os participantes.

“Esse tipo de ação online não substitui a importância das rodadas que acontecem durante a Fimma, mas dentro do cenário de pandemia, foi um bom meio de manter ativas essas redes de contato e preparar terreno para a retomada do evento presencial”, aponta a gestora do projeto.

Foram 28 importadores de nove diferentes países que participaram, com a participação basicamente de países da América do Sul e Central – mercados que são tradicionalmente importadores dos móveis brasileiros e que passam a desenvolver também sua indústria local de móveis.

Estrategicamente, o Sindmóveis entende que a presença global de seus fornecedores de máquinas, matérias-primas, acessórios e tecnologias acaba por beneficiar também a própria indústria brasileira de móveis.

A importância do Projeto Orchestra Brasil se dá no posicionamento e competitividade do setor moveleiro, uma vez que são os fornecedores que trazem a tecnologia e inovação para dentro da indústria de móveis. Ana Cristina destaca que o entendimento de competitividade do Sindmóveis engloba a cadeia de madeira e móveis como um todo – do fornecedor ao serviço do designer, passando, naturalmente, pela indústria do mobiliário.

Augusto Tomasi

Ana Cristina

A avaliação geral das empresas fornecedoras brasileiras foi positiva em face à impossibilidade de viajar e estar frente a frente ao potencial comprador. “100% das empresas entenderam positiva a experiência, em um contexto de limitação do físico. Pesquisa realizada pela nossa instituição comprova, o online neste momento foi entendido como a única forma de manter-se ativo. São percebidos benefícios, mas também necessidades como o olho no olho, o relacionamento, a experimentação, e a própria atenção exclusiva, como questões insubstituíveis que só acontecem no presencial”, considera Ana Cristina.

Das fornecedoras exportadoras, foram 36 empresas brasileiras participantes entre expositores da Fimma e participantes do Projeto Orchestra Brasil. Todos são fabricantes de máquinas, suprimentos, acessórios, produtos químicos e componentes para móveis.

No evento, foram 325 reuniões articuladas pelo projeto ao longo de dez dias. O volume de negócios realizados durante a ação foi de US$ 312 mil dólares e a expectativa é pela geração de USD 1,8 milhões em negociações nos próximos 12 meses.

Ana Cristina aponta que a geração de negócios está no cerne desses objetivos da entidade, com a realização da feira Movelsul Brasil, rodadas de negócios e missões empresariais. Destaque também para projetos de base em áreas que o Sindmóveis considera essenciais para o crescimento sustentável do setor moveleiro nacional: o design e as exportações.

“Ambos os temas colocam a indústria moveleira frente a frente com as exigências do mercado internacional, tornando-as também mais competitivas no mercado interno e refletindo no desenvolvimento do setor moveleiro como um todo”, elucida a gestora.

Sobre os próximos eventos, no momento a dedicação está nas adaptações necessárias para a realização conjunta da Fimma e Movelsul, em março de 2022. Até lá, seguem ações preferencialmente online enquanto o processo de vacinação segue avançando mundialmente.

“Nossa atuação segue com nossos projetos de internacionalização Raiz e Orchestra Brasil, junto ao nosso comitê internacional, e junto aos nossos associados em geral, com ações de formação, informação e oportunidades de negócios, no formato que for possível, mas sem jamais parar. A manutenção de negócios e de relacionamento é chave para quaisquer mercados”, define Ana Cristina.

Reportagem publicada originalmente na Móbile Fornecedores 309

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