Consultora do Senai especialista em mobiliário fala sobre a integração entre processos automatizados e artesanais na fabricação sob medida e aponta novos métodos de trabalho
Publicado em 28 de setembro de 2018 | 17:00 |Por:
A integração entre artesanato e automação na marcenaria é um dos tópicos emergentes dessa profissão milenar e uma das mais antigas da qual se tem notícia. O marceneiro sempre esteve associado a um modo de trabalho artístico, de paciente e criativo manuseio da madeira e na combinação com outras matérias-primas. Com o passar dos anos, concentrou-se em atender um mercado de demandas sob medida, de móveis personalizados e customizáveis, enquanto que a industrialização abria caminho para a produção seriada.
Com o advento da Indústria 4.0, ou “quarta revolução industrial”, hoje o nível tecnológico das marcenarias varia muito de empresa para empresa: algumas ainda conservam a maioria das etapas manuais e artesanais (desde o plano de corte até a montagem das peças), enquanto outras investem em novas tecnologias de corte, furação, colagem e usinagem, além de softwares de planejamento e gestão, com diferentes graus de digitalização e automação.
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Contudo, artesanato e automação na marcenaria não são aspectos excludentes. Atualmente, diante do novo ecossistema tecnológico, muitos marceneiros mesclam técnicas artesanais a conhecimentos de engenharia e gestão de projetos. Esse novo perfil profissional visa corresponder aos anseios de um consumo mais individualizado e personalizado, que enxerga o design como um diferencial, ao passo que estabelece uma marcenaria preparada para enfrentar os desafios de um mercado cada dia mais competitivo e que periodicamente se confronta com períodos de crise.
Segundo a designer e consultora do Instituto Senai de Tecnologia em Madeira e Mobiliário, Claudia Lens, a automação está ligada à otimização dos processos, tão necessária em um momento no qual as empresas estão buscando por vantagens competitivas. Aqui se relacionam dois fatores: oferta de produtos diferenciados e/ou de baixo custo, o que leva empresas a refletirem sobre como equilibrar ambas as coisas na marcenaria, que vem de uma manufatura bastante artesanal e precisa se adaptar a essa nova realidade.
Reunir artesanato e automação na marcenaria abre caminho para um novo perfil de profissional que se destaca pela engenhosidade e gestão de projetos
“De forma alguma a automação exclui a personalização, pelo contrário, ela entra como forma de possibilitar a personalização e a customização de produtos de forma mais otimizada. A marcenaria surgiu de processos bastante manuais, variação de formas construtivas, várias formas de fazer a mesma coisa, já que muitas marcenarias contam com marceneiros que tem suas próprias técnicas. Costuma-se dizer que o conhecimento desse profissional é na maioria das vezes intrínseco, ou seja, aquele que foi aprendido ao longo do tempo, e, mais ainda em uma profissão que foi passada de geração em geração”, analisa Cláudia.
A manufatura artesanal está bastante relacionada com fatores de criação na qual cada projeto é feito para atender as necessidades e expectativas de diferentes clientes. Isso, segundo a consultora, não muda com a automação – o que muda é o modo de projetar. As formas construtivas passam por uma parametrização e padronização, e sempre que possível devem ser utilizados para clientes diversos, implicando em redução de desperdícios relacionados ao tempo, mão-de-obra, matéria-prima, entre outros.
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Hoje a integração entre artesanato e automação na marcenaria é auxiliada pela acessibilidade à softwares e sistemas que facilitam a gestão de processos. O formato mais comum e ainda praticado, conta Claudia Lens, é que a maioria das decisões relacionadas à construção do móvel são estabelecidas pelo marceneiro, dentro da produção, com a inserção das novas tecnologias.
A marcenaria continua a mesma, com todas as suas possibilidades. O que muda é a forma de fazer e o nível de conhecimento que isso exige
“Essas decisões devem ser tomadas ainda no escritório, que, antes era de projetos, e hoje passa a ser um setor de engenharia. Estamos falando de uma metodologia de projetos e da nova configuração profissional necessária. A marcenaria continua a mesma, com todas as suas possibilidades. O que muda é a forma de fazer e o nível de conhecimento que isso exige, tanto na etapa inicial, na coleta de informações, projeto e engenharia, quanto na execução, onde o profissional marceneiro deverá estar preparado para ler e interpretar os projetos que já virão detalhados para serem executados”, diz a consultora.
A automação, de acordo com a consultora, pode ser inserida aos poucos, pois muitas vezes uma mudança muito radical pode emperrar o processo se as pessoas não estiverem preparadas e capacitadas para operar conforme os novos métodos.
“Exercitar e praticar é uma forma muito eficaz de se avançar, inserir aos poucos uma nova forma de fazer a mesma coisa, sentir o resultado e confiar nele. Isso certamente vai fazer com que o marceneiro se adapte sem processo traumático, não é aconselhável pular degraus. Para esse processo, uma dica é buscar auxílio com profissionais, por exemplo, com consultorias e assessorias”, frisa Claudia.
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