Perspectivas da economia paranaense para 2019
Analistas de diferentes entidades avaliam que retomada será moderada
Publicado em 29 de novembro de 2018 | 10:20 |Por:
O Conselho Regional de Economia do Paraná (CoreconPR) reuniu em 28 de novembro, em sua sede, em Curitiba (PR), entidades que representam os principais setores da economia paranaense, para analisar o cenário econômico de 2018 e apresentar as perspectivas da economia estadual para 2019.
Participaram do evento “Discutindo Economia: perspectivas da Economia para 2019″, a Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep), a Associação Comercial do Paraná (ACP) e o CoreconPR.
O evento contou com a mediação do vice-presidente do CoreconPR, Carlos Magno Bittencourt, que chamou atenção para o fato de os currículos dos cursos de Economia, em geral, não abrangerem o estudo do agronegócio.
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Representando a Faep, Pedro Loyola, abordou o desempenho do agronegócio em 2018 e as boas projeções para safra em 2019. Loyola destacou o significativo déficit de armazenagem no Estado ressaltando que se torna ainda mais evidente quando a comercialização se prolonga mais do que o normal e os grãos demandam mais tempo para irem para a indústria ou para as exportações, implicando custos adicionais para o produtor. Além disso, abordou opções de linhas de financiamento destinadas à construção e ampliação de armazéns.
O doutor Lucas Dezordi, economista do CoreconPR, tratou das perspectivas da economia brasileira e internacional para 2019, salientando os efeitos da relação juros e câmbio e da demanda efetiva e agregada. O economista esclareceu que o processo inflacionário teve uma alta entre outubro de 2017 e outubro de 2018 chegando a 4,56 %, o que se deve em grande parte ao IPCA de preços livres. Cooperaram para esse aumento a estiagem, a greve dos caminhoneiros, o preço dos combustíveis e o aumento da energia elétrica. “No entanto, muitos especialistas já estão prevendo uma deflação ou inflação bem baixa para novembro e dezembro, entre 0,1% a 0,5%”, o que é interessante para a economia.
Ele lembrou que empreendedores desses setores tiveram grandes problemas uma vez que não conseguiram repassar seus custos ao consumidor final, o que ajudou a enfraquecer ainda mais a economia. Porém, a maior preocupação macroeconômica fica por conta do desemprego elevado, resultado da recessão econômica. Quase 12% da população, cerca de 13 milhões de pessoas, continuam sem emprego. “Esse cenário traz um diagnóstico para nossa economia, temos problema de insuficiência de demanda agregada (doméstica e externa)”, esclareceu.
Para resolver a questão em hipótese nenhuma devemos deixar de focar na expansão da demanda agregada”, destacou Dezordi, esclarecendo que o mercado, automaticamente, já vem fazendo uma correção neste sentido, até mesmo antes do Governo, baixando a taxa de juros futuros. “Isso porque ele entende que a economia em recessão e com queda do processo inflacionário precisa reativar o consumo, com crédito barato que estimule a demanda doméstica”. De fevereiro do ano passado até outubro deste ano a taxa Selic caiu de uma média de 13% para menos de 7% (faz um bom tempo que está em 6,50%).
Analisando o eixo juro que baixou enquanto a taxa de câmbio aumentou, há uma “boca de jacaré”, disse o economista, sendo que normalmente essas duas taxas são integradas. “É difícil ter na economia brasileira uma situação na qual câmbio sobe incentivando as exportações e juros caem incentivando o consumo doméstico. Esse é um cenário propício para a retomada do crescimento econômico brasileiro. Sempre quando os juros nominais, com expectativa de inflação de 4%, estão na casa dos 7% ou 8%, nós estamos com uma política monetária expansionista. Ela estimula o crédito, o financiamento e o emprego. E toda vez que o câmbio estiver rodando mais próximo de 3,70% para cima [ que é o nosso caso ], ele estimula as exportações porque nos dá uma vantagem competitiva em relação aos outros competidores.”
Dezordi também observou que a recuperação brasileira será lenta e o país deve crescer 2,5% em 2019. Em 2018 esse índice não passa de 1,5%. O que coopera para essa lentidão, além do alto desemprego, é o fato de não termos condições de fazer um déficit cíclico público.
Outro fator que pode interferir em nosso crescimento é a recessão nos Estados Unidos. Se ocorrer apenas uma desaceleração, o que acredita o economista, uma vez que isso está acontecendo no mundo inteiro, será melhor para o Brasil. De acordo com Dezordi, deverá haver uma queda de preço dos combustíveis e energia elétrica. Um câmbio mais próximo a R$ 3,80 também vai ajudar. E é preciso mais do que nunca resolver o déficit estrutural. Está prevista ainda uma taxa de juros real abaixo de 4% a longo prazo. O processo de privatização deve se intensificar e aumentar o número de Participações Público Privadas. Há também uma expectativa de crescimento no mercado automobilístico paranaense de 5%.
Empregos
Se o cenário é mais promissor para diversos setores da Economia no Mercado de Trabalho ele ainda é negativo, segundo o economista Fabiano Camargo, do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Ele esclarece que houve de fato uma pequena redução do desemprego, mais recentemente, todavia ela se deve, em grande parte ao avanço dos trabalhadores informais, sem carteira assinada. “Houve um avanço das ocupações precárias, da população fora da força de trabalho, ou seja, daquelas pessoas que desistiram de procurar emprego”. E se para o setor empresarial a flexibilização das leis trabalhistas trouxe um certo alívio, a estratégia, de acordo com Fabiano, ajudou a precarizar ainda mais o mercado de trabalho. Ele ressalta que pesquisas realizadas em países que adotaram esse tipo de tática não tiveram crescimento da economia. “O Brasil está entre os países que mais cresceram no mundo, no século passado, mesmo com a sua legislação trabalhista”, disse lembrando que ao longo do tempo foram feitas várias mudanças na CLT.
Indústria
O ano de 2019 será para a Indústria do Paraná um momento de recuperação do tempo perdido, segundo Roberto Zürcher, da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Deve haver uma recuperação mais consistente do que aquela que ocorreu em 2018 e se expandir para outros setores industriais que não começaram a se levantar ainda. Ele explicou que não podemos mais colocar a culpa da nossa falta de crescimento no resto do mundo. “O crescimento mundial foi de 15,7% nos últimos 15 anos enquanto nós caímos 4,5%. Precisamos corrigir nosso erro e seguir em frente. O Brasil tem todas as condições para ser o melhor país do mundo. “Temos que melhorar a nossa produtividade e isso se faz com investimentos em Educação.
Ele também destacou que nos últimos anos o mundo tem dito que a Indústria se mudou para a Ásia. Isso assustou aqueles países que tem grande produtividade, inclusive os europeus. “Eles vão proteger e reindustrializar seus países para teraquele crescimento vertiginoso, que agora está na Ásia. Os Estados Unidos também. Eles que têm a indústria mais sofisticada do mundo estão se reindustrializando desde 2010. Estão com incentivos para tornar suas indústrias mais competitivas e poder enfrentar o produto asiático. E nós? O que vamos fazer? Para onde vamos?”, perguntou? Segundo Zürcher existe um projeto para os países emergentes que é a Indústria 4.0. Dentro dele precisamos no mínimo produzir aquilo que consumimos. Esse modelo é capaz de se adaptar a mercados instáveis aliviando o risco do tipo que ocorre em países emergentes. No Paraná algumas indústrias já estão usando esse padrão.
Comércio
O coordenador do Conselho de Economia da Associação Comercial do Paraná (ACP), Antoninho Caron, defendeu uma economia criativa. Lembrou que o setor empresarial passou três anos de sufoco. “Agora estamos vendo uma primavera, uma confiança dos próximos tempos. O consumidor também está mais consciente e quer consumir sem se endividar. Percebeu que foi ludibriado a consumir mais do que recebia”. Segundo ele, pesquisas da ACP indicam que o 13º salário será usado para pagar contas passadas e equilibrar e economia doméstica. Somente depois será feita a reprogramação para novos consumos. O consumidor também quer pagar em parcelas menores e com menos juros. Quer que seu dinheiro seja mais produtivo.
“Estamos confiantes de uma retomada, de um fortalecimento da livre iniciativa, de empreendedorismo, fortalecimento em todos os setores da agricultura, indústria, comércio e por consequência da prestação de serviços e dos intercâmbios comerciais. De acordo com Caron, a mudança da Reforma Trabalhista também foi importante, mas, junto com ela é preciso a Reforma Previdenciária, investimentos em segurança, educação, inovação e tecnologia”. Ao falar sobre uma possível crise decorrente de variáveis internacionais ele lembrou que ao mesmo tempo teremos a oportunidade de crescer com ela para incorporar tecnologia e fazer alianças.
Agricultura
O setor que mais alavanca a economia continua com boas notícias. Apesar da perda com o milho safrinha em 2018, o que já era prevista em função do fenômeno La Niña, para 2019 a safra deve ser cheia, especialmente devido ao El Ninho. Haverá um crescimento de 2,5% a 4,5%, respectivamente, em relação à safra anterior. O Paraná no ranking nacional continua mantendo as primeiras posições em trigo, feijão, cevada, e segundo lugar em soja e milho. A produção agrícola no Estado deve crescer em torno de 6% a 7% na área de grãos, gerando em torno de 37 milhões de toneladas.
Nas exportações o carro chefe continua sendo a China. Neste ano teve um aumento em relação aos anos anteriores e o agronegócio continua tendo superávit na balança comercial desde 2001. Até outubro já havíamos exportado soja mais do que o ano passado. Foram 68,15 milhões de toneladas em 2017 e 74,5 milhões até outubro deste ano, sendo a maior dos últimos 4 anos. ”Pode ser um pouco do efeito Trump, mas, também tivemos uma boa produção”, disse o economista.
A produção de Tilápia também vem crescendo e o crédito para a área rural aumentou, constituindo até uma linha para armazéns. Isso também ajudou a alavancar o setor. Além disso, estão sendo retomados alguns mercados externos, como Rússia e Estados Unidos, e feita a abertura de outros, como o México.
Sobe e Desce
Daniel Nojima, economista do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Dieese) falou sobre o sobe e desce na escala de crescimento da economia paranaense. Ele lembrou que fechamos 2017 com um crescimento de 2,5% enquanto que no último semestre deste ano caímos para 0,4%. Várias situações cooperaram para esse efeito negativo. A queda da indústria, greve dos caminhoneiros, e problemas com o complexo carnes, devido à Operação Carne Fraca, a baixa da safra de grãos, entre outros. Mas, o índice de inadimplência começa a baixar e o setor de serviços está se recuperando. Essa é uma ponte de reconstrução e agora é hora de arrumar a casa”, enfatizou.
Cenário Positivo
Assim como os demais economistas o presidente do CoreconPR, Celso Bernardo se disse otimista em relação à economia brasileira e paranaense. Ele acredita que a indústria e o comércio vão melhorar, trazendo um cenário mais positivo para o setor do emprego. Defendeu também a forte participação da sociedade organizada para acompanhar os gastos do Governo, inclusive com a Previdência. O debate foi mediado pelo vice-presidente do CoreconPR, economista Carlos Magno Bittencourt.
(Com informações do CoreconPR)