Setor madeireiro tem estabilidade nas exportações no 1º semestre

Em dados da Abimci, exportações de madeira ficam estáveis, mas entidade afirma que sem acordo com os EUA, medidas governamentais não resolverão crise

Publicado em 27 de agosto de 2025 | 15:30 |Por: Thiago Rodrigo

Com base no fechamento dos volumes de exportação do primeiro semestre, a Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), divulga dados de comportamento das exportações brasileiras de produtos de madeira. Isso ocorre em meio a um ambiente global desafiador, que inclui desde tarifações adicionais e regras de origem mais rígidas, até os impactos de guerras como a Ucrânia-Rússia, que afetam rotas de comércio e custos.

Apesar das dificuldades impostas pelas barreiras tarifárias dos Estados Unidos e pelas medidas protecionistas da União Europeia – dois dos principais destinos da madeira processada mecanicamente –, alguns produtos mantiveram estabilidade nos primeiros seis meses de 2025.

“Observamos que, mesmo diante de um cenário complexo, com a abertura de investigações que geram imprevisibilidade e impactam na decisão de compra dos clientes internacionais, como a da Seção 232 do Trade Expansion Act americano, que avalia se as importações de madeira ameaçam a segurança nacional dos EUA, e os processos de Dumping e Dano movidos pela UE contra o compensado brasileiro de pinus, alguns segmentos registraram crescimento. Poucos apresentaram queda no volume”, destaca Paulo Pupo, superintendente da Abimci.

Entre alguns dos principais produtos madeireiros embarcados, em se tratando de volume e na comparação com o primeiro semestre de 2024, a madeira serrada de pinus apresentou evolução de aproximadamente 6% no volume embarcado no período. O segmento de compensado de pinus teve uma pequena queda de 4% e o de molduras praticamente ficou estável.

Outros produtos como pellets apresentaram crescimento nas exportações nessa primeira metade do ano. Pupo acrescenta que “do ponto de vista logístico, houve uma melhora aparente no fluxo de mercadorias nos terminais de contêineres do Sul do Brasil no primeiro semestre, com a retomada das operações no Porto de Itajaí, a ampliação da retroárea do Porto Itapoá e novas áreas em Navegantes. Esses fatores contribuíram para a diminuição do volume de mercadorias acumuladas nos portos e a transferências de bookings, que tanto problemas causam as empresas exportadora”.

Segundo Pupo, o setor precisa ficar atento para os próximos meses. “Esse cenário é muito dinâmico e pode ser alterado quando competimos com embarques de produtos de outros segmentos industriais”, aponta o superintendente da Abimci. A Abimci entende que, com a possibilidade de avanço nas negociações tarifárias no segundo semestre poderemos ter uma melhor previsibilidade para os negócios, o que poderá estimular a recomposição de estoques pelos mercados consumidores, contribuindo, assim, para uma normalização dos fluxos de mercado.

Abimci opina medidas do governo

Em relação ao pacote de medidas anunciadas pelo governo federal brasileiro para auxiliar empresas exportadoras atingidas pela tarifa aplicada pelos Estados Unidos sobre os produtos brasileiros, a Abimci afirma que, apesar de bem-vinda, a ajuda é apenas um alívio temporário e de ação paliativa, frente à crise que se instalou no setor madeireiro em decorrência da tarifação. Confira a avaliação abaixo:

“Para a Abimci, a solução está na negociação do governo federal brasileiro junto aos Estados Unidos para que haja uma adequação de taxas que possibilitem a manutenção das vendas dos produtos madeireiros para aquele mercado. Entretanto, observa que esse não tem sido o foco e objetivo do governo brasileiro, apesar de outros países que foram taxados terem sido exitosos nas negociações diretas com os EUA, conseguindo reduzir suas tarifas. Após a implementação da nova alíquota pelos EUA, a situação do setor é extremamente preocupante para a entidade.

Devido aos cancelamentos de contratos e paralisação de mercados, algumas empresas estão com parte da produção parada, outras deram férias coletivas parciais ou totais, pois não há mais espaço para armazenamento dos produtos já fabricados e que seriam destinados aos Estados Unidos. Enquanto o setor está em estado de emergência, com risco real de fechamento de fábricas e cortes no quadro funcional, percebemos que têm sido priorizadas questões políticas e de cunho ideológico. Cabe ressaltar que, embora o governo recomende a busca de novos mercados, essa alternativa é inviável para o setor madeireiro, tanto pelas características técnicas dos produtos, quanto pelas questões de volume e share de participação conquistado durante décadas junto ao mercado americano.

Desde o anúncio da taxação em 9 de julho, o setor tem se mobilizado e trabalhado intensamente na busca por soluções em diferentes frentes, junto aos governos federal e estaduais. Levamos informações, dados setoriais e de nossa balança comercial, mostramos qual o nível de dependência do mercado americano por segmento, impactos em empregos e abrangência regional. Todo esse trabalho de compilação visou subsidiar o governo para que as negociações com os Estados Unidos fossem pautadas pela diplomacia, argumentos técnicos e comerciais. No entanto, observamos com preocupação que não houve ações efetivas por parte do governo brasileiro para fazer essa negociação direta com os EUA, nem antes, nem depois da confirmação da taxação.

Alguns governos estaduais estão fazendo a sua parte na tentativa de amenizar a situação com medidas para reduzir impostos e ampliar crédito. Porém, a realidade para nós é uma só: nossa capacidade de sobrevivência está diminuindo. Enquanto isso, não há nenhuma ação que sinalize um possível acordo. É imperativo destacar que qualquer progresso para melhorar essa situação passa, necessariamente, pela negociação governamental e de adequação das tarifas a níveis comercialmente viáveis. E essa responsabilidade não pode ser transferida ao setor produtivo.

Após esgotar todas as alternativas e testemunhar a ineficácia da atuação governamental, excetuando-se as medidas já anunciadas que, ressaltamos, ajudam, mas são paliativas, chegamos a um ponto em que não há retorno: ou o governo brasileiro age com máxima urgência, adotando negociações técnicas e com isenção política e ideológica, ou seremos obrigados a assistir, impotentes, ao desaparecimento de cadeias produtivas consolidadas e ao consequente desmonte social nas comunidades que delas dependem”.

Números do setor madeireiro

O setor madeireiro exportou US$ 1,6 bilhão para os Estados Unidos em 2024, para onde são destinados, em média, 50% do total que o setor madeireiro produz no Brasil. Alguns segmentos dependem exclusivamente dos EUA, com 100% de suas vendas atreladas a esse mercado. O impacto da aplicação das taxas norte-americanas nas empresas madeireiras coloca em risco aproximadamente 180 mil empregos diretos em todo o Brasil.

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