Acesso ao crédito dita o ritmo do varejo
Custo de crédito afeta consumidores e empresários, enquanto o Índice de Confiança do Consumidor registra aumento de 1,9 ponto em junho
Publicado em 5 de agosto de 2024 | 09:23 |Por: Everton Lima
A taxa de inadimplência dos consumidores brasileiros apresentou queda de 0,82% em maio, comparando-a com a de abril, e queda de 0,04% na comparação com maio de 2023, de acordo com estudo publicado pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL Brasil), em parceria com o Serviço de Proteção ao Crédito (SPC).
Entre os credores, o varejo aparece com pouco destaque: 10,68% dos inadimplentes estão sendo cobrados por algum comércio — é quase o mesmo percentual de quem está devendo para as companhias de água e luz (10,88%). Os bancos ainda são os maiores cobradores dos consumidores brasileiros, concentrando 64,9% das dívidas em atraso.
Sul se destaca na queda da inadimplência
A região Sul foi a que teve a maior queda no número de devedores em atraso nos últimos 12 meses: – 5,64% entre maio de 2024 e de 2023. No mesmo período, a região Norte registrou queda de 1,31%.
Nas demais regiões, houve aumento da inadimplência. Centro-oeste (2,15%); Nordeste (1,29%) e Sudeste (1,02%). No caso do Sudeste, mesmo com o aumento na média anual, a região apresentou queda na inadimplência na comparação entre os meses de maio e abril: – 0,28%.
“O SPC Brasil estima que em maio de 2024 havia 68,76 milhões de consumidores pessoas físicas negativados no Brasil, o que representa 41,79% da população adulta do País. Em termos regionais, o maior percentual de inadimplentes está na região Norte, onde 45,49% da população adulta está incluída em cadastros de devedores. Por outro lado, na região Sul, a proporção de negativados equivale a 38,13% da população adulta”, informa o estudo.
Dívida média dos brasileiros não chega a R$ 5 mil
Os valores que levaram milhões de brasileiros à lista de inadimplência, impedindo o seu acesso ao crédito (e ao consumo), não chegam a R$ 5 mil, de acordo com o levantamento do SPC Brasil.
“Em maio de 2024, cada consumidor negativado devia, em média, R$ 4.445,19 na soma de todas as dívidas. Considerando todas essas dívidas, cada inadimplente devia, em média, para 2,10 empresas credoras. Os dados ainda mostram que quase três em cada dez consumidores (30,70%) tinham dívidas de valor de até R$ 500, percentual que chega a 44,72% quando se fala de dívidas de até R$ 1.000”, conclui o levantamento.
Confiança do Consumidor volta a subir
O Índice de Confiança do Consumidor (ICC) do FGV IBRE subiu 1,9 ponto em junho, na comparação com maio. Economistas do FGV argumentam que o cenário poderia ser melhor, mas dependeria de uma situação mais amigável em relação aos juros.
“Após recuo no mês anterior, a confiança do consumidor volta a subir influenciada tanto pela melhora da percepção sobre a situação atual quanto pelas expectativas para os próximos meses. Esse resultado foi impulsionado, principalmente, pelas faixas de renda mais baixas.
Em médias móveis trimestrais, a confiança dos consumidores reflete certa estabilidade e uma melhora tímida na média do segundo trimestre com relação ao trimestre passado. Tais resultados refletem a dificuldade em alcançar níveis mais satisfatórios de confiança e parecem estar vinculados às limitações financeiras das famílias e às taxas de juros elevadas, evidenciada pelos indicadores de situação financeira atual e de intenção de compra de duráveis, que apesar da melhora no mês, se mantém em níveis pessimistas”, afirma a economista do FGV IBRE, Anna Carolina Gouveia.
Ainda de acordo com a FGV, o desastre climático no Rio Grande do Sul contribuiu para uma queda do otimismo no setor do comércio. Contudo, a entidade salienta que alguns setores que vendem bens duráveis, como o varejo de móveis, tiveram melhora nesses indicadores.
“Veículos, móveis e eletrodomésticos e comércio de materiais de construção registraram alta em junho em relação ao mês anterior”, aponta a FGV.
SBVC rebate “crise no varejo”
Relatório publicado pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) mostra bons resultados para o varejo brasileiro no ano passado, questionando uma suposta crise no setor.
“O discurso de ‘crise do varejo’, embora esteja presente em alguns players, não é a regra do varejo – os números comprovam. O Varejo Restrito (bens de consumo, exceto automóveis e materiais de construção) fechou 2023 com uma expansão nominal de 4,1%, movimentando R$ 2,23 trilhões e impactando por 20,45% do PIB brasileiro (que teve uma expansão de 2,9%). Desde 2016, o desempenho do varejo supera o da economia como um todo”, opina a SBVC.
Ainda assim, a entidade reconhece algumas dificuldades do varejo, principalmente quando o assunto é crédito.
“O ano de 2023 foi extremamente desafiador para o varejo brasileiro. A crise de crédito deflagrada logo no mês de janeiro pelos problemas contábeis das Lojas Americanas fez com que diversas empresas, já afetadas por anos de crescimento lento e mal posicionadas diante da transformação digital, não conseguissem renovar seus compromissos financeiros em um cenário de juros elevados. Para muitas delas, a recuperação judicial se tornou a alternativa possível para obter algum fôlego”, explica o estudo.
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