Confiança ainda frágil no varejo
Indicadores do FGV IBRE mostram leve alta em março, mas varejo segue pressionado por inflação, juros e incerteza
Publicado em 18 de abril de 2025 | 08:38 |Por: Júlia Magalhães

Após meses de retração, os indicadores de confiança começaram a dar sinais de estabilização, embora ainda operem em patamares considerados pessimistas. A leve alta registrada entre consumidores em março não foi suficiente para reverter a tendência de incerteza que continua afetando as decisões de compra e investimento no varejo de móveis.
Varejo sente impacto da inflação e juros altos
Segundo o FGV IBRE, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 0,7 ponto em março, após três meses de queda, alcançando 84,3 pontos. Apesar da alta, o indicador permanece em território negativo. A melhora foi impulsionada, principalmente, pela percepção de consumidores da faixa de renda mais alta, enquanto as demais camadas mantiveram a trajetória de queda.
A economista do FGV IBRE, Anna Carolina Gouveia, destaca que o avanço do mês reflete uma calibragem pontual do indicador, influenciada pela percepção menos negativa sobre a situação atual. “Aos consumidores das demais faixas houve continuidade da piora da confiança, reforçando o desconforto existente”, afirma.
O Índice de Situação Atual (ISA) subiu 1,6 ponto, para 81,0 pontos, enquanto o Índice de Expectativas (IE) ficou praticamente estável, com leve alta de 0,1 ponto, totalizando 87,4 pontos. O quesito que avalia a situação financeira atual das famílias subiu 2,4 pontos, sinalizando algum alívio. No entanto, a expectativa futura de melhora recuou 4,8 pontos, menor nível desde maio de 2022.
Empresários ainda receosos com o curto prazo
No ambiente empresarial, o sentimento é de cautela. O Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 0,6 ponto em março, chegando a 94,0 pontos – o menor nível desde novembro de 2023. O Índice de Expectativas Empresariais (IE-E) caiu pela quinta vez consecutiva, com destaque negativo para a demanda prevista nos próximos três meses (-1,9 ponto).
“Apesar de sinais de estabilização na atividade atual, as expectativas seguem em deterioração desde novembro. A elevação dos juros e a incerteza macroeconômica pesam nas decisões”, avalia o pesquisador do FGV IBRE, Aloisio Campelo Jr. A boa notícia vem do indicador de ímpeto de contratações, que subiu de 9,3 para 10,5 pontos no período.
Varejo sente reflexo direto da baixa confiança
Entre os setores analisados, o comércio foi o que apresentou pior desempenho. O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) caiu 2,4 pontos, para 83,1 – menor nível desde março de 2021. A queda foi puxada principalmente pelas expectativas: o Índice de Expectativas (IE-COM) recuou 4,4 pontos, e o indicador de vendas esperadas nos próximos três meses caiu 6,9 pontos.
“O varejo encerra o primeiro trimestre com queda generalizada na confiança. A aceleração da inflação e a maior cautela dos consumidores criam um ambiente desafiador para o setor”, explica o economista do FGV IBRE, Rodolpho Tobler. O Índice de Situação Atual (ISA-COM) teve leve queda de 0,4 ponto, puxado pela percepção mais negativa sobre a situação atual dos negócios.
Perspectivas ainda são moderadas
Com os principais indicadores operando abaixo da linha de neutralidade, o cenário para os próximos meses segue incerto. A sustentação da geração de empregos e a desaceleração da inflação serão fatores decisivos para uma possível retomada gradual da confiança.
Para o varejo moveleiro, o momento exige cautela, foco na eficiência e estratégias que dialoguem com um consumidor mais seletivo e sensível ao preço. A valorização do relacionamento, das condições de pagamento e da experiência de compra devem seguir como prioridades na gestão de vendas.
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