Confiança em queda generalizada

Indicadores de agosto apontam retração entre confiança dos consumidores, comércio e empresários, sinalizando desaceleração econômica e maior cautela do consumidor

Publicado em 17 de setembro de 2025 | 08:33 |Por: Julia Magalhães

O mês de agosto reforçou o compasso de desaceleração da economia brasileira. Os principais indicadores de confiança – consumidor, comércio e empresarial – voltaram a cair, refletindo preocupação com o futuro, endividamento elevado das famílias e pressões de custo sobre os negócios. Para o varejo de móveis, esse cenário significa um consumidor mais cauteloso e exigente, além de empresas pressionadas a rever estratégias de vendas e crédito.

Consumidor cauteloso

O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), medido pelo FGV IBRE, recuou 0,5 ponto em agosto, para 86,2 pontos, mantendo-se em patamar considerado pessimista. O resultado é marcado por melhora pontual nas avaliações da situação atual, mas deterioração nas expectativas para os próximos meses. O Índice de Expectativas (IE) caiu 1,3 ponto, para 88,1 pontos, puxado pela percepção negativa sobre a situação econômica e financeira futura.

A economista do FGV IBRE, Anna Carolina Gouveia, avalia que o movimento reflete “altos níveis de endividamento e inadimplência das famílias” e reforça um quadro de cautela. “A confiança do consumidor tem oscilado dentro de uma estreita faixa nos últimos três meses, sem sinalizar uma tendência clara de melhora ou piora da confiança, mas uma manutenção do indicador em níveis desfavoráveis. No mês, a queda modesta é a combinação, por um lado, da piora das expectativas para os próximos meses e, por outro, da melhora das avaliações sobre a situação atual.”

Entre os quesitos do ICC, o indicador de situação financeira futura da família recuou 2,6 pontos, para 79,8, menor nível desde setembro de 2021. Já a situação financeira atual subiu 2,6 pontos, para 75,4, sugerindo um alívio momentâneo.

Na contramão, o indicador de compras previstas de bens duráveis avançou 1,3 ponto, chegando aos 88,2 pontos, o maior nível desde dezembro de 2024. Esse movimento mostra que, embora exista disposição pontual para adquirir bens de maior valor, o consumidor permanece preocupado com sua capacidade financeira no médio prazo.

Comércio perde fôlego

O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) recuou 4,0 pontos, para 83,1 pontos, em sua segunda queda consecutiva. A retração foi disseminada entre todos os segmentos do setor e atingiu tanto as avaliações atuais quanto as expectativas futuras. O Índice de Expectativas (IE-COM) caiu 6,4 pontos, para 80,3 pontos, com destaque para a piora nas perspectivas de vendas no curto prazo.

Para a economista do FGV IBRE, Geórgia Veloso “a manutenção dos componentes do índice abaixo dos 90 pontos e a queda mais intensa nas expectativas representam pontos de atenção para o setor nos últimos meses do ano. Esse quadro reflete as preocupações do setor com o ambiente macroeconômico, com destaque para a crescente pressão do custo financeiro sobre os negócios”.

O Índice de Situação Atual (ISA-COM) também teve o terceiro recuo consecutivo, agora em 1,7 ponto, para 86,5 pontos. O indicador que mede a avaliação sobre a situação atual dos negócios variou negativamente em 2,7 pontos, para 85,2 pontos, enquanto o indicador que avalia o volume de demanda atual recuou 0,6 ponto, para 88,1 pontos.

Esses resultados reforçam a percepção de desaceleração e sugerem que o comércio pode enfrentar mais dificuldades para sustentar o desempenho no segundo semestre.

Empresários também em retração

Entre os empresários, o Índice de Confiança Empresarial (ICE) recuou 2,4 pontos em agosto, para 88,2 pontos, registrando a terceira queda consecutiva. O resultado trouxe o índice de volta ao nível dos 80 pontos pela primeira vez desde março de 2021.

A piora foi generalizada, afetando indústria, comércio, serviços e construção. O destaque negativo ficou com a Indústria de Transformação, cujo índice, que no início do ano se aproximava de 100 pontos, agora se aproxima de 90, limiar que separa o pessimismo moderado de uma visão mais aguda de retração.

Segundo o pesquisador do FGV IBRE, Aloisio Campelo Jr., “as sondagens empresariais sinalizam uma intensificação da desaceleração da atividade econômica e da deterioração das expectativas”. O Índice de Expectativas Empresariais (IE-E) recuou 3,4 pontos, para 84,8 pontos, o menor nível desde junho de 2020.

Entre os componentes, a queda foi puxada pelo pessimismo em relação à demanda nos três meses seguintes, que recuou 3,6 pontos, para 84,4 pontos. Já as expectativas para os seis meses à frente caíram 3,3 pontos, para 85,4 pontos, reforçando que a perda de confiança se espalha por diferentes horizontes de tempo.

Reflexos no varejo de móveis

Para o lojista de móveis, os dados de agosto reforçam que o consumidor está mais sensível a preço e condições de crédito. A queda da confiança afeta especialmente os bens duráveis, categoria que demanda maior comprometimento financeiro.

Ao mesmo tempo, a pressão de custos e juros elevados aumenta a cautela dos empresários, que podem restringir investimentos e ampliar a seletividade nas condições de venda.

Embora haja espaço para oportunidades – como o interesse pontual em bens duráveis identificado no ICC –, o ambiente geral exige estratégias mais acertadas, com foco em ofertas claras, parcelamento acessível e atendimento próximo.

Nesse cenário, a gestão de estoque e a análise criteriosa da demanda se tornam fundamentais para o lojista de móveis.

A queda na confiança empresarial, especialmente da indústria de transformação, pode afetar a cadeia de suprimentos, ampliando prazos ou encarecendo insumos. Assim, acompanhar de perto fornecedores e negociar condições será tão estratégico quanto atrair o consumidor final.

O que observar em setembro

  • Evolução do crédito ao consumidor e inadimplência.
  • Impacto da confiança em datas sazonais, como o Dia do Cliente.
  • Monitorar indicadores de inflação, que podem influenciar a renda disponível.
  • Acompanhar expectativa para o quarto trimestre, com Black Friday e Natal no horizonte.

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