Confiança reage, mas consumo segue contido

Após meses de retração, abril registra alta nos índices de confiança do consumidor e do comércio, mas consumo de bens duráveis ainda enfrenta cautela

Publicado em 30 de maio de 2025 | 08:00 |Por: Júlia Magalhães

O mês de abril trouxe um alívio moderado ao setor varejista. Após quatro quedas consecutivas, o Índice de Confiança do Comércio (ICOM) subiu 4,4 pontos, impulsionado por uma melhora nas expectativas dos empresários.

“Depois de uma sequência de quedas, a confiança do comércio volta a subir e recupera pouco menos da metade da perda acumulada nos últimos quatro meses”, observa o economista do FGV IBRE, Rodolpho Tobler.

Segundo ele, o cenário continua desafiador, mas há uma calibragem no pessimismo diante de sinais mais favoráveis no mercado de trabalho e no consumo. No mesmo ritmo, a confiança do consumidor avançou pelo segundo mês consecutivo, atingindo 84,8 pontos, impulsionada principalmente pela melhora nas expectativas econômicas.

“Essa recuperação ainda é parcial – representa apenas 11% das perdas registradas entre dezembro e fevereiro”, explica a economista Anna Carolina Gouveia, também da FGV IBRE. Ainda assim, é uma sinalização importante, especialmente no que diz respeito à percepção de melhora futura na situação financeira das famílias.

A análise por faixa de renda revela contrastes importantes: famílias com rendimentos entre R$ 2.100 e R$ 9.600 demonstraram mais otimismo em abril, enquanto a confiança das camadas de menor renda recuou pelo quinto mês consecutivo.

A combinação entre renda pressionada, juros elevados e inflação em serviços básicos ajuda a entender por que o sentimento de pessimismo ainda predomina entre esse público.

Outro dado relevante é o recuo de 1,8 ponto no indicador de intenção de compra de bens duráveis, que caiu para 77,9 pontos. Mesmo com a leve alta na confiança, o indicador evidencia que a compra de móveis ainda é postergada, com o consumidor priorizando gastos essenciais.

Esse cenário reforça a importância de um posicionamento estratégico no PDV, com foco em custo-benefício, soluções práticas e crédito acessível. Cabe ao lojista evidenciar diferenciais e construir confiança ao longo da jornada de compra.

Confiança do comércio: melhora nas expectativas não elimina cautela

O Índice de Expectativas do Comércio (IE-COM) avançou 8,7 pontos em abril, puxado por uma visão mais positiva sobre o desempenho nos próximos meses.

O indicador que mede as perspectivas de vendas para os próximos três meses cresceu 9,6 pontos, e o que avalia a tendência dos negócios no semestre subiu 7,5 pontos.

Já o Índice de Situação Atual (ISA-COM) ficou praticamente estável, com variação de 0,1 ponto, o que mostra que a melhora está concentrada na visão de futuro – e não na percepção imediata dos resultados.

Para Tobler, apesar do impulso recente, o ambiente macroeconômico segue restritivo. “O patamar ainda está baixo e sugere que os próximos meses ainda devem ser desafiadores. Juros altos, inflação e endividamento das famílias são fatores que limitam uma retomada mais robusta.”

No entanto, ele pondera que medidas de estímulo à economia e sinais positivos no emprego podem contribuir para manter o otimismo do setor.

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Incerteza em alta pressiona decisões

O cenário externo, por sua vez, trouxe um fator de pressão adicional em abril. O Indicador de Incerteza da Economia (IIE-Br) subiu 4,6 pontos e voltou a ultrapassar os 115 pontos, patamar considerado elevado.

“A alta foi motivada principalmente pelas incertezas globais relacionadas à política tarifária dos Estados Unidos e à intensificação da guerra comercial com a China”, explica Anna Carolina Gouveia.

O componente de mídia, que reflete a presença do tema nas notícias, atingiu o maior nível desde 2022. Já o componente de expectativas, que mede a dispersão nas projeções econômicas, também registrou leve alta.

Apesar de o consenso entre analistas ter se mantido em boa parte das variáveis macroeconômicas, o ambiente externo mais instável reacende preocupações que impactam a tomada de decisão no varejo, principalmente em setores de bens duráveis.

Varejo cresce, mas móveis ainda sentem desaceleração

O Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA) também apontou resultados positivos em abril. As vendas cresceram 20,5% em termos reais na comparação com o mesmo mês de 2024 – o sexto avanço consecutivo. Em termos nominais, a alta chegou a 37,9%, impulsionada pela inflação e por um calendário mais favorável, com um sábado extra no mês.

Apesar do bom desempenho agregado, o macrossetor de Bens Duráveis – onde se enquadra o setor moveleiro – registrou desaceleração nas vendas.

O comportamento sinaliza que, mesmo com mais movimento no varejo como um todo, a decisão de compra de itens de maior valor agregado, como móveis, segue postergada por grande parte dos consumidores.

Para os próximos meses, o cenário segue marcado por contrastes: enquanto a confiança tenta se recuperar, a incerteza econômica e o consumo ainda moderado impõem limites ao ritmo de retomada. No varejo de móveis, o momento pede atenção aos sinais do mercado, adaptação constante, escuta ativa do consumidor e investimentos em valor percebido no ponto de venda.

Como o lojista pode se posicionar neste cenário?

A recuperação da confiança ainda não se traduz em aumento nas vendas de móveis, e o consumidor segue cauteloso. Nesse contexto, o lojista pode ganhar vantagem com algumas estratégias simples e bem aplicadas:

  • Evidencie o valor dos produtos: destaque atributos como funcionalidade, durabilidade e design acessível – itens que agregam valor e justificam o investimento.
  • Ofereça crédito com clareza: boas condições de pagamento ajudam a destravar a compra, desde que transmitam segurança. Use simulações, parcerias e evite surpresas.
  • Aprimore a experiência na loja: ambientes bem montados, vitrines organizadas e uma equipe preparada ajudam a criar conexão emocional e confiança na decisão.

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