Confiança sobe, mas consumo de bens duráveis ainda patina

Indicadores mostram otimismo moderado na confiança do comércio e entre consumidores, mas o varejo moveleiro sente impacto da cautela nas compras de maior valor

Publicado em 1 de dezembro de 2025 | 12:44 |Por: Julia Magalhães

Os índices de confiança do consumidor e do comércio avançaram pelo segundo mês consecutivo em outubro, indicando uma leve recuperação no otimismo para o final de ano. Mesmo com sinais positivos em algumas frentes, o ambiente empresarial ainda enfrenta entraves que impedem uma retomada mais robusta.

O varejo se apoia em expectativas de um reaquecimento gradual, impulsionado por datas comerciais e queda da inflação, mas continua lidando com o desafio do endividamento das famílias e do custo elevado do crédito.

Segundo o FGV IBRE, o Índice de Confiança do Consumidor (ICC) subiu 1,0 ponto, chegando a 88,5 pontos, com avanço tanto na percepção sobre o presente quanto nas expectativas futuras. A melhora foi impulsionada principalmente pela alta da confiança entre famílias de menor renda, refletindo a manutenção do emprego formal, a desaceleração da inflação e os programas de transferência de renda.

A expectativa sobre a situação financeira futura da família subiu 5,8 pontos, para 89,7 pontos – maior nível desde o fim de 2024. Em contrapartida, o indicador de compras previstas de bens duráveis recuou 5,6 pontos, para 82,6 pontos, evidenciando que, apesar do maior otimismo, o consumidor ainda adota uma postura cautelosa na hora de assumir novas despesas.

Confiança do comércio sobe

O Índice de Confiança do Comércio (ICOM) também registrou alta de 1,5 ponto, alcançando 86,2 pontos. A melhora foi sustentada exclusivamente pelas expectativas para os próximos meses, especialmente no setor varejista, que aposta em um desempenho melhor do que o esperado para as vendas de fim de ano, com destaque para datas como a Black Friday e o Natal.

Quatro dos seis segmentos analisados apresentaram crescimento. Por outro lado, a percepção sobre a situação atual do comércio voltou a cair, com recuo de 1,2 ponto no Índice de Situação Atual (ISA-COM), refletindo um consumo ainda retraído, em razão dos juros altos e do elevado nível de inadimplência.

A expectativa para os próximos três meses de vendas subiu 4,7 pontos, para 84,2 pontos, enquanto a tendência dos negócios para os próximos seis meses cresceu 3,1 pontos, para 88,2 pontos. Esse movimento mostra que, mesmo com desafios conjunturais, os empresários do comércio começam a ver o fim de ano com uma dose moderada de esperança.

Em sentido oposto, o Índice de Confiança Empresarial (ICE), que agrega a percepção de diversos setores da economia, recuou levemente 0,1 ponto, para 89,5 pontos, e se manteve abaixo do patamar considerado neutro (100 pontos). A queda foi puxada por setores que haviam demonstrado alguma resiliência nos meses anteriores, como Indústria de Transformação e Construção, sinalizando uma desaceleração no ritmo da atividade econômica.

O Índice da Situação Atual Empresarial (ISA-E) caiu 0,5 ponto, para 92,8 pontos, com destaque para a redução na satisfação dos empresários em relação aos negócios atuais. Já o Índice de Expectativas Empresariais (IE-E) teve leve alta de 0,3 ponto, para 86,2 pontos, interrompendo uma sequência de quatro quedas seguidas. Esse desempenho foi sustentado pela melhora na expectativa de demanda nos três meses seguintes.

ICVA: varejo recua pelo quinto mês, mas há sinais positivos

De acordo com o Índice Cielo do Varejo Ampliado (ICVA), o faturamento do varejo brasileiro caiu 1,1% em outubro de 2025, já descontada a inflação – o quinto mês seguido de retração real. Apesar disso, em termos nominais, houve crescimento de 3,8% frente a outubro do ano passado, o que demonstra uma resiliência relativa do setor mesmo em meio a um cenário desafiador.

Entre os fatores que pressionam o consumo real, destacam-se o alto nível de endividamento das famílias (48,9% da renda anual) e a inadimplência da pessoa física, que atingiu 6,7% – maior patamar desde fevereiro de 2013. O segmento de Bens Duráveis e Semiduráveis também recuou 3,2%, porém, o setor de Móveis, Eletro & Departamento conseguiu suavizar a queda do macrossetor, demonstrando algum fôlego.

“Outubro mostra um cenário de atenção, mas também de oportunidade”, avaliou o vice-presidente de Tecnologia e Negócios da Cielo, Carlos Alves. “Setores como Farmácias e Móveis começam a dar sinais de recuperação e trazer fôlego ao varejo. Vale destacar também o bom desempenho do e-commerce, reforçando a importância do canal nos preparativos para a Black Friday e o Natal”, completou.

Análise setorial: moveleiro acompanha cautelosamente

Para o mercado moveleiro, que tradicionalmente depende de um ambiente de confiança para impulsionar compras de maior valor agregado, como móveis e eletrodomésticos, os dados são um alerta.

A queda no ímpeto de consumo de bens duráveis – justamente a categoria em que se enquadram os produtos do setor – mostra que, apesar da melhora na visão geral, o consumidor ainda não se sente seguro o suficiente para investir em reformas ou aquisições de maior porte.

Nesse contexto, os lojistas devem manter estratégias focadas em personalização, parcelamento facilitado e promoções bem calibradas. As datas promocionais do último trimestre, como Black Friday e Natal, serão cruciais para impulsionar as vendas e encerrar o ano com resultado positivo.

Cenário geral: cautela com tendência de recuperação

De forma geral, os dados de outubro revelam um consumidor um pouco menos pessimista e um comércio mais esperançoso com o final do ano, enquanto os empresários mantêm cautela diante de uma economia que ainda mostra sinais de desaceleração.

A expectativa é de que a retomada seja lenta, mas sustentada, desde que as condições macroeconômicas, como inflação, emprego e crédito, continuem favoráveis. Para o varejo, especialmente o moveleiro, o desafio está em equilibrar expectativa e realidade, apostando em um atendimento eficiente, comunicação clara e promoções acertadas para conquistar o consumidor ainda cauteloso.

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