Fundo de investimento norte-americano deve assumir controle da Máquina de Vendas
Presidente do SBVC comenta o caso no qual a especializada em socorrer empresas em dificuldade financeira, Starboard, irá injetar recursos e assumir controle da rede varejista
Publicado em 7 de agosto de 2018 | 11:38 |Por:
O fundo de investimento norte-americano Starboard Restructuring Partners, especializado em socorrer empresas em dificuldade financeira, irá nos próximos dias assumir o controle da Máquina de Vendas, da qual fazem parte as bandeiras Ricardo Eletro, Insinuante, City Lar, Eletro Shopping e Salfer. Para formalizar o acordo, a rede varejista irá, no decorrer desta semana, protocolar seu processo de recuperação extrajudicial, isto é, sem envolvimento direto da justiça.
A transferência de controle da Máquina de Vendas visa reverter a situação financeira da rede varejista, que acumula dívidas de R$ 2,5 bilhões com credores e fornecedores. No processo de recuperação extrajudicial, a Starboard deverá aplicar R$ 250 milhões na companhia e assumir seu comando. Devem se somar a este aporte inicial recursos provenientes de outros fundos (inclusive de fornecedores interessados na continuidade da empresa), chegando-se a um total previsto de R$ 1,2 bilhão.
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Para viabilizar a transação, a Máquina de Vendas precisou acordar com os bancos credores o alongamento do prazo de pagamento dos débitos (que chegam a R$ 1,5 bilhão) por cinco anos, além de também ter renegociado as condições de pagamento às suas fornecedoras, com quem a empresa tem dívidas de aproximadamente R$ 1 bilhão.
Embora a Máquina de Vendas tenha se recusado a falar sobre o assunto, a assessoria de comunicação da empresa confirmou as informações e antecipou que será emitida um comunicado formal ao mercado tão logo a negociação com a Starboard estiver concluída.
Efeitos da mudança do controle da Máquina de Vendas
Na visão do presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, a transferência de controle da Máquina de Vendas para a Starboard não é garantia de que a rede varejista irá se recuperar da crise em que se encontra.
“Ainda é muito incerta a recuperação total do negócio e muito cedo para prever. O que a empresa precisa é achar viabilidade operacional, gerar bons resultados para então amortizar a enorme dívida que possui. Isso dá uma sobrevida ao negócio, permite que ele funcione e dá uma chance para que recupere uma trajetória ascendente. A Máquina de Vendas precisou fazer isso, senão seria derrotada pela dívida”, comentou.
O que a empresa precisa é gerar bons resultados para amortizar a dívida que possui
Segundo Terra, a situação da Máquina de Vendas tende a afetar menos as indústrias e o comércio varejista do setor moveleiro, uma vez que a atuação da empresa era mais forte no segmento de eletroeletrônicos. Uma soma de fatores, na visão do presidente da SBVC, foi o que levou a rede varejista afundar-se em dívidas e, para não acabar com o negócio, pedir socorro de um fundo de investimento especializado em assumir companhias em situação de risco.
“Primeiro fator foi que a Máquina de Vendas retardou seu processo de digitalização, ficando atrás de concorrentes como Magazine Luiza e Via Varejo. Segundo que não foi feita uma integração adequada entre as inúmeras marcas regionais que passaram a constituir o grupo no decorrer dos anos. Para finalizar, a empresa já entrou com estes problemas na crise econômica que afetou o país inteiro. Tudo isso trouxe perda de competividade e de performance, levando a resultados ruins e endividamento”, afirmou.
Como fica a Máquina de Vendas
Conforme as informações veiculadas pelo jornal O Globo e revista Exame, o sócio-fundador da Ricardo Eletro, Ricardo Nunes, que está na presidência executiva da Máquina de Vendas, terá sua participação “diluída” no comando do grupo. Ele pode inicialmente manter-se no cargo, mas corre o risco de ser substituído ao longo dos anos.
Nunes é o maior acionista da Máquina de Vendas com 55%, seguido de Luiz Carlos Batista, antigo proprietário da Insinuante, com 42%. A companhia é a terceira maior varejista do segmento de eletroeletrônicos, atrás da Via Varejo e Magazine Luiza.
A Máquina de Vendas conta atualmente com 650 lojas e emprega cerca de 13 mil funcionários, mas desde 2014 a rede já fechou 500 unidades. Seu faturamento em 2016 foi de 5,5 bilhões de reais, um número 22,2% menor do que os R$ 7,07 bilhões registrados em 2015. Em demonstração auditada pela consultoria PwC, consta que o prejuízo do exercício em 2016 foi de R$ 653 milhões, frente aos R$ 411 milhões do ano anterior.