Gestão financeira que fortalece e previne

Planejamento financeiro estruturado protege o varejo de móveis e garante competitividade mesmo em tempos de instabilidade

Publicado em 27 de outubro de 2025 | 08:18 |Por: Julia Magalhães

Planejamento e controle financeiro são fatores decisivos para a sobrevivência das empresas brasileiras. Só em 2024, foram 2.273 pedidos de recuperação judicial no País, volume que representou 61,8% de aumento em relação ao ciclo anterior e o maior já registrado pela Serasa Experian.

Em 2025 os números seguem em alta: somente em janeiro, mais de 160 pedidos de recuperação judicial foram registrados, um aumento de 8,7% em relação a janeiro de 2024. Até abril, o total chegou a 638.

“O cenário brasileiro ainda é desafiador. Muitos empreendimentos nascem com boas ideias, mas sem estrutura financeira suficiente para sustentá-las. A falta de clareza sobre números, a ausência de planejamento e decisões tomadas com base em intuição ainda são realidades em boa parte do mercado”, afirma o CEO da Berry Consultoria e especialista em estratégia empresarial, Kleber Amora.

Para o varejo de móveis, que convive com margens apertadas e forte necessidade de capital de giro, planejar, acompanhar indicadores e tomar decisões baseadas em dados é cada vez mais determinante para garantir competitividade e continuidade. Segundo o executivo, o maior aprendizado para o lojista é entender que a instabilidade faz parte do ambiente de negócios brasileiro.

“Em algum momento, o cenário econômico ficará instável. Taxas de juros elevadas, inflação e crises institucionais são recorrentes. Isso não significa que não seja possível prosperar: o dinheiro não desaparece, ele apenas muda de mãos. E vai para quem está estruturado, com clareza nos números e margem de manobra para enfrentar a turbulência.”

As companhias precisam estar sempre em busca de resultados mensuráveis e, quando preciso, não demorar a ter o auxílio de uma consultoria que atue na melhora de seus indicadores, como fluxo de caixa, margem de contribuição, EBITDA e retorno sobre o patrimônio (ROE), com diagnósticos individualizados e ações práticas.

“O que falta, muitas vezes, é unir a estratégia certa, uma gestão eficiente e disciplina na execução”, afirma o CEO da Berry Consultoria e especialista em estratégia empresarial, Kleber Amora | Crédito: Divulgação

Amora observa que muitos lojistas deixam o fluxo de caixa mascarar erros de gestão. “Um dos pontos mais fortes do varejo pode se tornar o seu pior inimigo: o alto giro de caixa. O setor é um dos motores da economia, com grande volume de vendas, mas isso pode camuflar margens apertadas, perdas e baixa eficiência operacional – especialmente em cenários de crescimento. Em outras palavras: o fluxo financeiro vai cobrindo os erros de gestão e, no primeiro tropeço, alguns meses de vendas menores já são suficientes para trazer à tona todo um período de negligência na gestão financeira.” A ausência de processos claros e de acompanhamento de indicadores, segundo ele, é um erro básico, mas recorrente.

Indicadores que fazem a diferença

Entre os principais pontos de atenção, o especialista destaca o fluxo de caixa e a margem de contribuição. O primeiro, quando projetado para 90 dias, traz previsibilidade e permite agir antes que o problema apareça.

Já a margem de contribuição mostra o verdadeiro potencial do negócio, além de revelar produtos que comprometem a lucratividade. “Analisar a MC por produto ajuda a identificar ‘produtos vampiros’ (que sugam a margem de outros produtos) e balancear o portfólio, aumentando a margem geral da empresa.”

Independentemente da maturidade em gestão financeira, Amora recomenda implantar rituais específicos para analisar os números. Definir um dia e horário fixo na semana para sentar e analisar o que está acontecendo é fundamental. Mesmo que o controle financeiro não esteja 100%, reunir as informações e refletir sobre a estratégia para os próximos dias já gera impacto positivo em toda a empresa.

Pequenas mudanças podem gerar impacto imediato. “No financeiro, se o controle ainda for precário, eu revisaria todos os recebimentos de cartões e suas taxas, conferindo se estão corretos e dentro do contrato. É comum empresas perderem dinheiro aqui. Também buscaria negociar melhores condições com outras instituições. Na gestão comercial, começaria analisando a margem de contribuição das vendas, priorizando a curva A. Com isso, revisaria o layout da loja para dar mais destaque aos produtos de maior margem. Na precificação, eu revisaria os cálculos de custo e a margem aplicada, além de identificar produtos que puxam a margem para baixo. Avaliaria se funcionam como produtos-âncora (que puxam clientes para loja) e, caso haja espaço, ajustaria os preços para cima.”

Diagnóstico e tecnologia

O primeiro passo em qualquer diagnóstico, segundo ele, é analisar o DRE (Demonstrativo de Resultados). “A partir dele, identificamos os maiores ofensores do resultado. É muito comum encontrar deduções de receita – como devoluções e descontos – acima do ideal, além de margens de contribuição reduzidas e despesas variáveis que há muito tempo não passam por negociação ou ganho de eficiência. Tudo isso acaba deixando um dinheiro considerável na mesa.”

As ferramentas digitais também já chegaram para transformar a gestão financeira. A Berry utiliza inteligência artificial em todas as etapas do trabalho – da análise de dados à elaboração de cenários e planos de ação personalizados.

Amora explica que a IA compara informações, projeta cenários e gera planos de ação com mais precisão e velocidade. Além disso, os líderes são preparados para atuar de forma mais estratégica, por meio de uma cultura voltada para a eficiência e lucratividade.

“O que buscamos é fortalecer a autonomia do cliente para que continue evoluindo mesmo após o encerramento do projeto de consultoria. Resultados sustentáveis nascem de decisões bem fundamentadas e de processos que funcionam com clareza e controle”, conclui.

Gestão financeira em três passos práticos

Para o lojista de móveis que busca reduzir riscos e fortalecer a saúde financeira, o especialista recomenda três medidas iniciais:

  1. Estruturar um DRE, mesmo que básico, para entender os números e ter clareza nos gargalos da operação.
  2. Revisar os recebíveis de cartões e crediários, conferindo se todos os recebimentos foram liquidados corretamente, conferir taxas praticadas e negociar melhores condições com as operadoras.
  3. Analisar a margem de contribuição dos produtos, identificando quais realmente geram o lucro esperado, priorizando a curva A e repensando produtos de baixa margem que ocupam capital e espaço nobre na loja.

Indicadores que não podem faltar

  • Fluxo de caixa: garante previsibilidade e permite agir antes dos problemas.
  • Margem de contribuição: mostra o potencial real de cada produto e ajuda a equilibrar o portfólio.
  • EBITDA: mede o desempenho operacional sem influência de impostos e juros.
  • ROE: indica o retorno sobre o patrimônio, fundamental para avaliar a eficiência do negócio.

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