Motivação que vende

Campanhas de incentivo ganham espaço no varejo como ferramenta para estimular vendas, engajar equipes e fortalecer o relacionamento com as marcas

Publicado em 27 de junho de 2025 | 08:11 |Por: Júlia Magalhães

A falta de engajamento dos colaboradores representa um risco silencioso para os negócios. Segundo levantamento da consultoria Gallup, a desmotivação custa à economia global até 9% do PIB, o equivalente a cerca de US$ 8,9 trilhões em perdas de produtividade, inovação e custos relacionados à rotatividade e absenteísmo (faltas recorrentes e não justificadas ao trabalho, que afetam diretamente a produtividade da equipe).

Funcionários desengajados tendem a apresentar níveis mais altos de estresse, preocupação e outras emoções negativas, o que pode levar a um desempenho reduzido.

O relatório da Gallup destacou que, em 2023, apenas 23% dos trabalhadores estavam realmente engajados em suas funções, o que significa que a maioria das empresas está operando abaixo de seu potencial máximo. Além disso, o desengajamento pode afetar a moral da equipe e a cultura organizacional, criando um ambiente de trabalho menos colaborativo e inovador.

No varejo, os impactos da desmotivação também são expressivos. De acordo com o Sebrae, colaboradores desmotivados tendem a apresentar queda na produtividade, o que afeta diretamente as vendas e o atendimento ao cliente.

Além disso, a rotatividade aumenta, gerando custos extras com recrutamento e treinamento. O ambiente de trabalho torna-se menos colaborativo, e a cultura organizacional pode se fragilizar – fatores que comprometem a eficiência e a imagem da loja.

Os dados reforçam a importância de estratégias que mantenham as equipes motivadas e produtivas – especialmente em setores como o varejo de móveis e eletros, que lidam com metas desafiadoras e times enxutos.

Campanhas de incentivo

Fragmentar metas ambiciosas em desafios semanais, distribuir premiações alinhadas ao perfil da equipe e acompanhar tudo em tempo real: essa é a lógica por trás das campanhas de incentivo que têm transformado o desempenho no varejo – inclusive no setor de móveis e eletros. A proposta é simples, mas poderosa. Ao dividir metas maiores em pequenas conquistas, o lojista oferece estímulos constantes, aumenta o senso de conquista e promove maior engajamento entre os vendedores.

Para o sócio fundador da Núcleo Produz, José Tiago Cabral, uma campanha bem-estruturada precisa gerar desejo e manter a motivação.

“Por exemplo, se vender sofá na primeira semana do mês é mais fácil, lance um desafio: os dois primeiros vendedores que venderem X sofás ganham uma caixa de som JBL. Isso fragmenta a meta, oferece prêmios rápidos e promove visibilidade interna ao vendedor”, sugere. Esse tipo de abordagem torna os objetivos mais tangíveis e ajuda a manter a equipe focada e motivada ao longo do mês.

“Para gerar desejo, a mecânica deve ser simples e clara, sem condicionais excessivas. A premiação precisa ser atraente e adequada ao público-alvo”, afirma. Ele alerta, por exemplo, que prêmios incompatíveis com o perfil dos vendedores tendem a gerar baixa adesão.

“Oferecer 15 dias em Nova York a vendedores do interior, com renda média de R$ 2.500, e faixa etária de 40 a 50 anos, não gera adesão, pois muitos não têm passaporte nem visto americano”, diz.

Esse cuidado com o perfil do público é fundamental para garantir adesão desde o início. Cabral ressalta que muitas vezes, experiências locais ou bônus em dinheiro são mais eficazes do que prêmios distantes da realidade do time, justamente por gerarem maior identificação e valor percebido.

Para manter o engajamento, o especialista destaca a importância da comunicação contínua e personalizada, somada ao uso de plataformas digitais. A solução desenvolvida pela Núcleo Produz, por exemplo, identifica o perfil do usuário ao fazer login e apresenta metas, comunicados e gatilhos personalizados.

Gerentes e lojistas acessam relatórios via Power BI e acompanham dados como engajamento por região e loja, além de alertas automáticos que sinalizam variações críticas nos indicadores. “A tecnologia permite ajustes em tempo real.

Com dashboards dinâmicos, o lojista age imediatamente, ajusta abordagens regionais e otimiza a alocação do orçamento de premiação, maximizando o ROI e garantindo agilidade nas decisões”, explica Cabral.

A flexibilidade das ferramentas digitais também facilita o acompanhamento de equipes distribuídas por várias lojas. Com a segmentação por perfil, é possível personalizar os estímulos e premiar de forma justa, considerando diferenças de desempenho e realidade de mercado entre as regiões.

“A plataforma permite analisar o comportamento de vendas e engajamento, oferecendo insights automatizados. Por exemplo, conseguimos identificar por que um gerente específico não está engajando sua equipe”, afirma o executivo.

Mesmo em estruturas menores, os resultados podem ser expressivos. “Em equipes pequenas, a proximidade facilita ajustes rápidos. O segredo é: simplificar metas e processos; escolher recompensas de alto valor percebido; utilizar sistema web para acompanhamento e resgate; e manter comunicação constante”, diz.

Com estratégias bem desenhadas, campanhas de incentivo funcionam tanto em grandes redes quanto em operações enxutas.

A chave é simplicidade, alinhamento de premiações e análise contínua, que nossa plataforma oferece como essência”, afirma o sócio fundador da Núcleo Produz, José Tiago Cabral | Crédito: Divulgação Núcleo Produz

Engajamento que se traduz em resultados

Para exemplificar o potencial das campanhas de incentivo, Cabral cita uma ação bem-sucedida com uma rede de lojas de calçados, já que a estrutura comercial e dinâmica é muito similar a uma loja de móveis.

“Implementamos desafios semanais de vendas de tênis de corrida feminino e infantil, com premiações rápidas, como gift cards e experiências locais. Em três meses, as vendas desses produtos subiram 18% e o turnover caiu 25%, gerando economia financeira no recrutamento, ou seja, ganho financeiro e redução de despesas com rotatividade do time”, conta.

O impacto financeiro é relevante. Segundo o sócio da Núcleo Produz, o retorno sobre o investimento (ROI) pode variar entre 120% e 300%. “Isso significa que, para cada real investido, é possível gerar entre R$ 2,20 e R$ 4,00 em faturamento total – dependendo da qualidade da execução, do público-alvo e do acompanhamento da campanha”, explica.

Vale lembrar que esses valores representam o faturamento gerado, não o lucro líquido, e podem variar de acordo com o setor, o canal de comunicação e a maturidade do negócio.

Além dos ganhos financeiros, os benefícios indiretos também são importantes. “Um bom programa de incentivos reduz a rotatividade, melhora a experiência e a lealdade do cliente, fortalece a cultura interna e desenvolve competências”, resume Cabral.

Para os lojistas que nunca trabalharam com campanhas estruturadas, ele recomenda começar com o básico: metas claras, indicadores objetivos, cronograma bem definido e regras documentadas.

“Lance a campanha com uma apresentação impactante, use materiais visuais e ferramentas simples, como planilhas ou dashboards. Realize check-ins semanais e esteja aberto a ajustes. O aprendizado contínuo é parte do processo”, salienta.

Outro ponto importante é a personalização dos prêmios. Combinar recompensas financeiras com experiências, cursos ou produtos de catálogos diversificados pode elevar a adesão em até 40%, segundo o especialista. “A flexibilidade orçamentária, com diferentes níveis de resgate, torna o modelo sustentável e mais atrativo”, afirma.

Num cenário de margens pressionadas e consumo mais seletivo, a motivação da equipe torna-se um diferencial competitivo. Campanhas bem planejadas não se limitam a premiações.

Ao alinhar metas claras, reconhecimento constante e uma comunicação eficiente, elas ajudam a criar um ambiente mais positivo nas lojas – e isso tem impacto direto no clima organizacional e nos resultados comerciais.

Para o lojista multimarcas, a adoção de estratégias de incentivo pode ser uma resposta eficaz para aumentar o giro dos produtos, fortalecer o relacionamento com as marcas fornecedoras e engajar equipes que, muitas vezes, atuam em realidades distintas.

Como mostra a experiência da Núcleo Produz, com tecnologia, simplicidade e foco no time, é possível transformar motivação em resultados consistentes no ponto de venda.

Primeiros passos para estruturar sua campanha de incentivo

Para lojistas que nunca trabalharam com esse tipo de ação, José Tiago Cabral, da Núcleo Produz, compartilha um roteiro simples e eficaz para estruturar uma campanha de incentivo desde o início:

  1. Defina metas claras (ex.: +15% em vendas de estofados em 3 meses).
  2. Escolha indicadores mensuráveis (unidades vendidas, ticket médio).
  3. Identifique participantes e papéis (vendedores, gerentes).
  4. Entenda as motivações da equipe (cash bônus, reconhecimentos, experiências).
  5. Estabeleça duração e marcos (metas mensais, trimestrais).
  6. Documente todas as regras (critérios de qualificação, desempate, datas de premiação).
  7. Lance a campanha com uma apresentação atrativa e materiais visuais.
  8. Forneça ferramentas para acompanhamento (dashboards ou planilhas).
  9. Realize check-ins semanais para ajustes.
  10. Ao final, colete feedback e consolide os aprendizados.

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