Fornecedores 327

24 FORNECEDORES SOB MEDIDA 327 Tratando-se de um design contempo- râneo e consagrado, pode-se falar do emprego de processos mais gestuais de trabalho que se expressam no design, como o visto nas obras dos Campana, Estúdio Rain, Paulo Alves e Tidelli (exem- plificando por meio de uma grande indústria). “Essa manualidade no projetar e fazer o móvel se expressa em formas moldadas a mão, texturas intrincadas que a máquina não é capaz (ainda) de fazer e a singularidade e humanidade que todo produto com um toque artesanal carrega. É claro que essa leitura é bem geral e existem muitos contraexemplos, mas de forma geral, especialmente em comparação com um padrão de movelaria internacional, essas características se fazem bem presentes”, enxerga Lociks. Agora, no perfil de móvel mais popular, o que diferencia o móvel brasileiro do mobiliário de outros países é difícil de descrever. “Há muita variedade de design ao redor do mundo e no nosso País”, frisa. O que se pode notar de elementos que se repetem na produção moveleira brasileira e a distingue dos demais países pode ser uma aborda- gem de luxo mais sutil e elegante, que se contrapõe ao que vemos no design do oriente médio; formatos e propor- ções mais generosas de mobília que o padrão popular europeu; tendência de um design de peças montadas ou que demandem uma mão de obra especializada para montagem, quando comparado com um design americano que foca mais em praticidade na mon- tagem, por exemplo. Além de um certo minimalismo e conservadorismo em cores e texturas (por incrível que pareça), se comparar commóveis americanos e europeus. REGIONALIDADES A ideia de se consumir ummóvel de de- sign brasileiro em uma escala comercial mais ampla é muito recente. A produção moveleira em larga escala sempre se concentrou no Sul e no Sudeste do Brasil. Isso fez com que o design dos anos 1990 e começo dos anos 2000 se concentrasse nesse eixo Rio, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. “A expansão dos cursos de design e da cultura de se consumir ummóvel brasileiro commais valor agregado, fez comque designers de outras regiões como o Norte, Nordeste e Centro-Oeste passassema ter voz e palco paramostrar o seu trabalho, nemque tivessemque viajar para São Paulo para fazer isso”, assinala o designer. Isso levou ao momento atual em que designers de todo o País exploram as características das suas regiões em peças que abordam o regionalismo com verda- de e empatia, sem cair na armadilha da caricatura. Estúdios comoMula Preta, por exemplo, mostram um nordeste que vai além do cangaço ou das praias. De acordo com Lociks, eles mostram uma cultura nordestina cosmopolita, integrada ao mundo, que respeita a tradição, mas não fica restrita a ela. O mesmo vale para a cena do design de Brasília, que vive sobre o peso da geniali- dade de Niemeyer, mas apresenta hoje uma linguagem própria de quem vive essa paisagemmodernista, mas não se restringe a ela. Dada a necessidade cada vez maior de narrativas em produtos, bem como a uniformização, que de referências estéticas que um Instagram e Pinterest impõem, o designer avalia que o regio- nalismo no design de móveis brasileiro aparece como um diferencial competi- tivo, pois é capaz de oferecer histórias e abordagens estéticas singulares e capazes de diferenciar o produto brasi- leiro no mercado internacional, além de gerar uma conexão emocional profunda com clientes do mercado interno. MATERIAIS ECORES A respeito dos materiais, padrões, cores, acabamentos e outros elementos que podem estar mais presentes nos móveis com brasilidade, Lociks percebe uma continuação no movimento de antropofagia de Oswald de Andrade. “Ou seja, consumimos o que vem de fora e interpretamos do nosso jeito”, diz ele que faz muitos estudos de tendên- cias emmovelaria na WGSN – uma das maiores consultorias de análise de com- portamentos de consumo do mundo –, comparando com o que vê em uma Expo Revestir, Abimad e DW. Nesse sentido, o uso de acabamen- tos em superfícies mais sensoriais e texturizados, uso de cores mais naturais com tons terrosos, arenosos ou de verdes mais acinzentados, foco em formas curvas e orgânicas e/ou com referências nostálgicas dos anos 1970, são todos amplamente usadas por diversos designers e indústrias no Brasil e no mundo. “Aqui eu me refiro a uma abordagem de design mais industrial e menos de ateliê, porque o mercado demanda e nem a indústria, nem o designer devem dar as costas para isso, a não ser que queiram perder dinheiro”, diz. Quando se discute sobre tendência em design, disserta-se sobre um comporta- mento social e coletivo que estabelece algumas preferências de consumo expressas em forma, material, acaba- mento e narrativa. Esse comportamento pode variar de nicho em nicho de mercado e cabe à indústria e designer saber quem eles desejam atender e o que esse mercado aprecia ou apreciará em um futuro próximo. “Sendo assim, é necessário avaliar se a tendência em voga tem aderência junto ao mercado que você deseja trabalhar e quais adap- tações serão necessárias para customizar essa tendência para que ela faça sentido para o seu cliente”, pontua. Como exemplo, Lociks usa o que está sendo considerado como “trend” nos mercados de luxo europeu. A estética do hemisfério sul, de acordo com alguns BRASILIDADE “Um designer brasileiro não tem que fazer força para expressar brasilidade nos seus trabalhos, porque a brasilidade está impregnada na sua essência” Dimitri Lociks Designer Choque Design

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