Fornecedores 342

25 OUTUBRO 2024 chapas para as fábricas gaúchas. O principal efeito não foi diretamente o preço do frete, que é calculado com percentual sobre a venda, mas sim o recebimento de matérias-primas e o cumprimento dos prazos de entrega para nossos clientes (varejo e con- sumidor final). Felizmente podemos afirmar que em outubro a situação está normalizada. Fornecedores | Mesmodiantedo ocorrido, o setormoveleirodoestado tevenúmeros positivos emfatura- mento, exportações eempregos, com crescimentode9%. Oquepossibilitou esse crescimentomesmodiantede muitos gestos de solidariedade? Longhi | Faturamento e lucro são diferentes. Há todo um cenário por trás da produção, como preço das matérias- -primas, custos com logística, tributos, entre outros fatores que deixammuitas indústrias com a margem de lucro apertada. Além disso, móveis doados não geram lucro, ou seja, em gesto de solidariedade, renuncia-se a parte da lu- cratividade em benefício da população. Quanto aos empregos, possivelmente aumentaram em decorrência da maior demanda nas fábricas. Já o avanço das exportações varia de empresa para em- presa, conforme seu posicionamento no mercado, negociações com importado- res, etc. Estados Unidos, Chile, Uruguai, Peru e Reino Unido foram os principais destinos internacionais dos móveis gaúchos no primeiro semestre de 2024, então podemos concluir que as relações comerciais com esses países estão em ummomento promissor e vale olhar para esses mercados. Fornecedores | Como as indústrias moveleiras contornaram e estão driblando os problemas enfrenta- dos neste ano? Longhi | Durante a catástrofe, conside- rando o final de abril e todo o mês de maio, as indústrias precisaram adminis- trar dificuldades logísticas tanto para receber matérias-primas quanto para expedir pedidos. Fizeram o possível para manter as fábricas produzindo e ainda cuidar do bem-estar dos funcio- nários, já que estamos falando de uma tragédia que impactou direta e indire- tamente milhares de gaúchos. Algumas indústrias foram atingidas a ponto de parar as atividades, especialmente na região metropolitana de Porto Alegre. Neste momento pós-tragédia, temos a nosso favor a retomada das estradas, permitindo acessar às principais rotas logísticas do país. O aumento do con- sumo também é positivo, mas gerou uma bolha que elevou o custo de matérias-primas como chapas de MDF e MDP, dificultando muito o repasse no custo final dos produtos e, consequen- temente, no preço dos fretes. Fornecedores | Como a Movergs tem agido para ajudar as empre- sas nos desafios das indústrias de móveis do estado? Longhi | A Movergs sempre se man- tém ao lado das indústrias moveleiras – e claro que neste contexto delicado não seria diferente. No ápice da tragé- dia climática, criamos o SOS Movergs para centralizar o atendimento aos empresários e auxiliar tanto a retomada das indústrias que precisaram parar suas operações quanto aquelas que continuaram em atividade e buscavam orientações para ajudar ou mesmo se atualizarem sobre o cenário do estado. Neste momento de retomada, continuamos com atenção constante a todos os desafios e oportunidades para nossas empresas crescerem de modo saudável, desde articulação política e parcerias entre os setores público e privado até projetos realizados pela en- tidade – como o Congresso Movergs, em outubro deste ano, workshops com temas relevantes ao empresariado e a feira Fimma Brasil, em agosto de 2025. Fornecedores | Quais são as pers- pectivas da entidade para com a indústria moveleira da região em produção, faturamento e exporta- ções neste ano e nos próximos? Longhi | É difícil fazer projeção de longo prazo, já que os imprevistos po- dem mudar completamente a rota dos negócios. A pandemia, por exemplo, freou o setor moveleiro no primeiro semestre de 2020, mas gerou um grande crescimento de vendas e fatura- mento entre o segundo semestre do mesmo ano e o final de 2021. Desde 2022 o mercado vinha se acomodan- do, retomando seu fluxo, até que a catástrofe climática no Rio Grande do Sul criou outro aumento na demanda por móveis. Como estamos falando de bens duráveis e que muitos gaúchos já adquiriram ou receberam donativos de mobiliário, a tendência é que as vendas dentro do estado não evoluam muito no restante deste ano. Isso não necessariamente significa retração, pois nossas indústrias vendem para o país inteiro e muitas exportam. Também é preciso considerar o contexto econô- mico do Brasil, incluindo geração de emprego e renda, incentivos fiscais e tributos, além do cenário internacional. Colocando esses fatores na balança, olhamos para o curto prazo. É possível que o setor moveleiro gaúcho encerre 2024 com avanço nominal no fatura- mento e nas exportações. Fornecedores | Qual mensagem, agradecimento, lição ou resultado você dá ou tira de todo o ocorrido? Longhi | Acredito que a catástrofe vivida no Rio Grande do Sul em 2024 deixa grandes lições para a vida e para os negócios. Todos precisam olhar com atenção para as questões de clima e sustentabilidade, desde o poder público, com planejamento, fiscalização e educa- ção ambiental, até empresas e pessoas, que podem e devem cuidar do planeta. É evidente, também, a solidariedade do povo brasileiro. Foi emocionante acompanhar a comoção nacional para ajudar os gaúchos dos mais diversos modos. Tenho certeza de que, assim como eu, todos são muito gratos por cada voluntário e cada doação recebida. Somos fortes e já estamos nos reer- guendo para retomar a força do nosso estado. Por fim, entendo que os móveis são fundamentais para a reconstrução das casas e empresas gaúchas afetadas pela catástrofe climática. No momento em que perderam seus bens materiais, perderam também parte da sua história – como móveis de família, com valor afetivo, ou mesmo peças que eram “sonho de consumo”, adquiridas com muito trabalho. Mais uma vez, perce- bemos que o mobiliário tem grande importância na vida das pessoas, seja em seus lares, seja em suas empresas.

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