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39 NOVEMBRO/DEZEMBRO 2024 direção a modelos de trabalho mais flexíveis aos trabalhadores, reconhe- cendo a necessidade de adaptação às novas realidades do mercado de trabalho e às demandas por melhor qualidade de vida dos trabalhadores e de seus familiares”. O texto da PEC traz um estudo no Reino Unido com 2,9 mil pessoas que passaram a trabalhar no regime 4x3 e indicou que 39% se sentiam menos es- tressados com a mudança de jornada e 71% reduziram sintomas de burnout. Para empresas, os ganhos passaram pela redução da rotatividade dos fun- cionários e um pequeno incremento na receita (1,4%), em comparação com os mesmos períodos anteriores, quando a jornada era mais extensa. A deputada federal Tabata Amaral (PSB-SP) assinou a PEC, mas salientou os impactos econômicos e sociais da mudança na jornada de trabalho. Ela argumenta que só proibir a escala de trabalho 6x1 não irá resolver o proble- ma. “Precisamos pensar em incentivos para as pequenas empresas contrata- rem, para o tiro não sair pela culatra e esse projeto aumentar a ‘pejotização’ [trabalho de pessoa jurídica e não pelo regime da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT)]”, diz. Ainda segundo ela, outros países fizeram essa alte- ração da carga de trabalho de forma escalonada para prever e controlar efeitos contrários, o que não está no atual texto da PEC. SINDICATOS MOVELEIROS Na opinião de Luiz Carlos Pimentel, presidente do Sindicato das Indústrias da Construção e do Mobiliário de São Bento do Sul (Sindusmobil), a realidade e o momento da economia brasileira não são adequados para que haja redução na jornada de trabalho por força da legislação. “Essa proposta poderia afetar a competitividade das empresas brasileiras, que já convivem com grandes desafios, como alta carga tributária, burocracia exagerada, preca- riedade na infraestrutura e dificuldade de acesso a crédito”, afirma. Na visão dele, a redução na jornada de trabalho certamente teria impacto negativo no atendimento das indústrias à demanda de mercado. Assim sendo, a dificuldade de contratação de mão de obra ficaria ainda mais elevada, comprometendo o compromisso com os clientes e, como consequência, com os consumidores. Para ele, o Brasil deveria trilhar o cami- nho contrário, seguindo o exemplo de países desenvolvidos, que respeitam e estimulam o desenvolvimento indus- trial. “A legislação trabalhista brasileira deveria ser mais flexível, possibilitando a livre negociação dos contratos de tra- balho entre empregadores e emprega- dos. Dessa maneira, realidades distintas de cada setor industrial poderiam ser tratadas de forma mais justa e social- mente responsável”, declara. No Sindicato das Indústrias da Madeira e do Mobiliário de Linhares e Região Norte do Espírito Santo (Sindimol), de acordo com Vitor Guidini, presidente da entidade, o fim da escala de trabalho 6x1 pouco irá influenciar diretamente nas indústrias da região. “Geralmente trabalhamos de segunda à sexta. Porém, teremos impactos em nossos parceiros lojista de varejo, que são atualmente nosso principal canal de vendas, e que terão impactos expressivos com aumen- to de quadro de colaboradores e outros, impactando diretamente nos custos das operações como também no preço final do produto”, avalia. Para Guidini, diversos setores da econo- mia podem ser afetados pela proposta. LEIA MAIS Veja no link o estudo “Dura- ção de trabalho em todo o mundo” da Organização In- ternacional do Trabalho (OIT): https://bit.ly/3YJDS0c “O pequeno comércio irá praticamente se inviabilizar completamente, ficando assim somente grandes redes de far- mácias, padarias e demais, por exem- plo”, diz. Para o sindicato, resta esperar os trâmites legais e atuar juntamente ao associado com informações de qua- lidade para preparar para essa possível nova fase de escala de trabalho. O Sindicato das Indústrias do Mobili- ário de Bento Gonçalves (Sindmóveis) está atento às questões relacionadas à qualidade de vida dos trabalhadores, tanto que, há mais de 30 anos, o setor produtivo de móveis da região, em sua maioria, já pratica uma escala semanal de cinco dias de trabalho por dois de descanso, algo possível somente atra- vés de negociação coletiva. “Não temos a menor dúvida de que esse assunto deve ser resultado de um amplo debate entre as empresas e os trabalhadores. Vale destacar que as indústrias moveleiras gaúchas já têm dificuldade para contratar mão de obra qualificada, ou seja, caso o texto inicial da PEC seja aprovado, a escala 4x3 tor- nará um desafio ainda maior manter o quadro de funcionários completo e em plena operação”, declara a entidade. Multimóveis Ganhos com menor escala de trabalho podem ser de redução na rotatividade dos funcionários e pequeno incremento na receita

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