Dia do Marceneiro: especial Marcenaria 4.0 e disruptividade

Abordamos a Marcenaria 4.0 e a marcenaria disruptiva na reportagem especial do Dia do Marceneiro na Móbile Sob Medida 114

Publicado em 19 de fevereiro de 2019 | 14:00 |Por:

A tecnologia mudou a forma de construir o mobiliário sob medida. A história se repete e a tendência é que se a marcenaria se transforme mais uma vez – ainda que, obviamente, a mudança nunca atinja todos os negócios. Atualmente, a marcenaria caminha para uma produção conectada e a consolidação dessa transformação já é chamada de Marcenaria 4.0, acompanhando a Indústria 4.0. Este é a reportagem de capa no especial Dia do Marceneiro da Móbile Sob Medida 114 que você pode ler acessando a página da revista no Portal eMóbile.

Como o tempo para ter acessos às novas tecnologias ficou mais curto em relação a como era no século passado, uma marcenaria conectada, digitalizada e mais inteligente (uma Marcenaria 4.0) está, aos poucos, mais palpável. “O chão de fábrica da marcenaria está mudando mais uma vez e o marceneiro que antes detinha a habilidade manual desenvolve cada vez mais suas habilidades tecnológicas”, afirma o consultor industrial, Cláudio Perin.

Para Perin, houve uma clara evolução e hoje se tem muitas diferenças nos tipos de marcenaria. “Vamos começar pela marcenaria tradicional. O próprio marceneiro já não é o mesmo. Quantos deles sabem fazer craquelê, marmorizado, pátina, laqueamento ou machetaria? Vejo que o conhecimento se afunilou na questão do painel de madeira”, frisa.

Por isso, o consultor tem convicção que o “marceneiro artista” será extremamente requisitado no futuro. “Porque ele sabe fazer um acabamento, não está limitado a um catálogo comercial de BP apenas. O que quero dizer é que a marcenaria artesanal de hoje é a marcenaria tradicional da década de 70, percebeu? Então a Marcenaria 4.0 de hoje, será a marcenaria tradicional do meu neto. Resumindo, o tradicional é algo em movimento. Fica em um espaço entre o artesanal e o futurista”, explica Perin – veja o vídeo em que ele explica esse processo.

Para a arquiteta, designer e diretora da Escola Curitibana de Design, Katalin Stammer, a marcenaria 4.0 está muito ligada a novas posturas de comportamento e prioridade dos usuários. “Não é só estar conectado e se relacionando de diferentes formas com a cadeia produtiva ou a internet das coisas, e sim com a forma que as pessoas irão encarar consumo e sustentabilidade daqui para frente”, enxerga.

As funções das indústrias e fabricantes serão completamente diferentes do que é hoje, na visão dela. “Os próprios consumidores estarão ligados às soluções e não esperarão por produtos ‘prontos’ e massificados”, diz – assista ao vídeo no qual ela comenta sobre a Marcenaria 4.0 e a disruptividade.

Há poucas indústrias moveleiras e até mesmo algumas marcenarias, com tecnologias que podem caracterizar uma produção 4.0. No entanto, elas são trabalhadas de forma isolada. A designer da Haus Studio Design, Claudia Lens, que tem anos de experiência e envolvimento em marcenarias, conta que é importante saber que, muitas vezes, há dificuldade na implantação de novas tecnologias quando não se conquista a confiança das pessoas em trabalhar dessa ou daquela forma.

“Nós somos seres que, muitas vezes temos que ‘ver para crer’. Por isso, o processo de treinamento e capacitação é fundamental [para se ter uma Marcenaria 4.0 no futuro]. Caso não se percorra o caminho necessário, pode se tornar moroso e com custo elevado. Devemos respeitar degrau a degrau, afinal, não há varinha de condão capaz de mudar toda uma cultura do dia para a noite”, ressalta.

O uso de softwares CAD/CAM é um passo desse processo. “Os caminhos não convencionais de trabalhar na tal ‘Marcenaria 4.0’, que inclui produção integrada por meio de softwares CAD/CAM, otimização de processos com máquinas e equipamentos automatizados, velocidade de entrega, total qualidade no produto final, maior produtividade da marcenaria. O futuro, com tal velocidade de mudanças, continua sendo uma incógnita”, opina Claudia.

 

 

Marcenaria 4.0 para os marceneiros

Para o marceneiro Carlos Barros, diretor da Barros Decorações, a Marcenaria 4.0 é uma marcenaria que se utiliza de recursos de programas de projetos que já fornecem toda a programação de corte, quantificação de insumos e o custo a partir dos dados inseridos no programa, desde que devidamente alimentado e adaptado ao sistema produtivo em particular. Veja o vídeo com a opinião dele e leia mais na reportagem interativa na página da revista Móbile Sob Medida no Portal eMóbile.

O marceneiro proprietário da Mariano Móveis Projetados, Luiz Mariano, enxerga que a Marcenaria 4.0 seja o caminho mais curto para trabalhar volume x velocidade, por consequência lucratividade maior. Ele também acredita que virou “apelido de terceirização parcial ou total do processo produtivo. No futuro, creio que será a mesma coisa, porém com maquinário mais moderno que dispensa mão de obra nesta etapa”, avalia.

Em contraponto ao que foi apresentado até aqui, ele entende que a Marcenaria 4.0 é uma oportunidade com prazo de validade. “Pois ela cresce rápido, mas só até certo ponto. Depois força a migração pra outro sistema, revisão dos conceitos adotados ou passa a decair. A concorrência forçará a busca por diferenciais. E tudo volta para o início. São ciclos, pois tais diferenciais sempre vão atravancar a produção, pois requerem processos mais complexos e demorados”, enxerga.

Marcenaria disruptiva

Na visão de Luiz Mariano, surgirá – e já há desde agora – a marcenaria disruptiva. “Basicamente a disruptiva não tem barreiras e transita entre as vertentes conforme necessidade do projeto a ser executado. Comunica-se com o design, arquitetura e engenharia, até com a decoração, com o velho e com o novo, com tudo e com todos. É uma atividade multifacetada de fato”, analisa.

Dia do Marceneiro: Marcenaria 4.0 e Marcenaria Disruptiva

“Eu diria que a Marcenaria Disruptiva é aquela que sabe a hora e lugar para utilizar tais ferramentas disponíveis, porém jamais vai se tornar refém e engessada pelas mesmas. Diferente da Tradicional que é por essência extremista e romântica, reacionária”, acrescenta. Assista ao vídeo com a opinião do marceneiro no site da Móbile Sob Medida.

Carlos Barros também dá sua opinião ao afirmar que a disruptividade exige uma ação muito forte com vistas e vencer a inércia de fazer como se fazia. “Mas é a única forma dos pequenos conseguirem se adequar a nova realidade do mercado competitivo e que está mudando preços, padrões, exigindo muita eficácia e evidenciando a fragilidade dos processos atuais que se baseiam no tripé de preço, qualidade e prazo”, diz.

Para ele, é bem difícil se manter de pé com todos em equilíbrio e o desafio é gigantesco para os pequenos marceneiros dada a exigência e necessidade de profissionais para a implementação dos sistemas, tanto de vendas, projetos, como de produção e entrega.

Tecnologia na marcenaria disruptiva

A tecnologia disruptiva é uma designação atribuída a uma inovação tecnológica (produto ou serviço) capaz de derrubar uma tecnologia já preestabelecida no mercado. Em uma marcenaria disruptiva, na visão de Katalin Stammer, já existem tecnologias que permitem isso, “mas que hoje passam pelo gargalo de conseguirem se justificar em questão de investimento e culturas de consumo. O grande desafio desse momento é essa inserção de tecnologia com resultados imediatos”, observa.

Dia do Marceneiro: Marcenaria 4.0 e Marcenaria Disruptiva

Ao tratar de tecnologias, consideramos conhecimento técnico aplicado com ferramentas, processos e materiais, ou seja, é unir “o útil ao agradável”. “Essa dupla é imbatível, não precisamos ir muito além para entender que técnica aplicada = otimização, aumento da produtividade e assertividade”, afirma Claudia Lens.

Podemos considerar os softwares, as máquinas e equipamentos como ferramentas que são grandes aliadas dos processos disruptivos. “Contudo, não podemos deixar de incluir a análise estratégica como grande ferramenta para o desenvolvimento da disrupção”, diz a designer da Haus Studio Design.

Quando se fala em marcenaria disruptiva, isso está inerentemente intrínseco à criatividade. É possível obter produtos diferenciados e de valor agregado ou o que muito se discute hoje, “fazer mais que caixas”.

“Na marcenaria, o que podemos fazer além dos tradicionais caixotes com portas e gavetas? Marcenaria disruptiva é encontrar o oceano azul, enquanto a maioria está brigando pela mesma fatia no oceano vermelho. Qual a prática para se chegar nisso? Pensar fora da caixa”, pontua Claudia.

Por outro lado, Perin pondera que as práticas de produção de uma possível marcenaria disruptiva têm a capacidade de não se amarrar a padrões e conceitos estabelecidos. “Acontece que a ergonomia é estática, então ao menos neste ponto é impossível romper com o conhecimento existente. Posso fazer uma cadeira como eu bem entender, mas um acento fora da faixa dos 40 cm de altura não vai me trazer conforto. Ou vai virar uma espreguiçadeira ou um banquinho entende. Certas coisas não vão mudar, são desdobramentos biológicos”, assinala.

Após esses apontamentos, leia a reportagem especial do Dia do Marceneiro que trata da Marcenaria 4.0 e da marcenaria disruptiva no novo site da revista Móbile Sob Medida. Elogios, sugestões e críticas podem ser feitas no e-mail jornalismo@revistamobile.com.br.

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