Manufatura enxuta na pintura do móvel sob medida
Consultora em Lean Manufacturing dá dicas de como marceneiro pode utilizar conceito no processo de pintura do móvel sob medida
Publicado em 10 de junho de 2019 | 15:00 |Por: Thiago Rodrigo
Os móveis têm diversas possibilidades de revestimentos e acabamentos em painéis de madeira. Com tintas e vernizes, a pintura do móvel sob medida é uma boa possibilidade de diferenciar e agregar valor. Em meio a isso, é importante ter ciência das técnicas de pintura. Quando bem conduzido e executado, a pintura tem como resultado a entrega de um móvel com qualidade final adequada às exigências dos consumidores.
Apesar de ser um processo complexo, há um conceito importante que pode ser utilizado para o revestimento das peças. O Lean Manufacturing é uma metodologia conhecida para melhorar os processos produtivos das indústrias. No entanto, ela pode ser aplicada também na marcenaria. Assim sendo, a manufatura enxuta na pintura do móvel sob medida se torna capaz de otimizar a produtividade.
“A busca pela qualidade no processo de pintura aliada a metodologia de manufatura enxuta. Como resultado, permite otimizar os processos e maximizar a entrega de valor para o cliente”, aponta a analista de laboratório do Senai Luiz Scavone e consultora em Lean Manufacturing, Juliana Aparecida Bouchardet.
Pintura do móvel sob medida
Juliana assessora e dá treinamentos na área moveleira em manufatura enxuta. A professora aponta que a filosofia de gestão focada na redução de desperdícios diminui tempo e custo. “A eliminação dos desperdícios no processo produtivo tem por objetivo melhorar a qualidade dos processos e produtos, diminuindo o tempo e o custo da produção”, assinala.
A metodologia identifica oito desperdícios que podem ocorrer no processo produtivo:
– excesso de processamento;
– excesso de produção;
– excesso de estoque;
– excesso de transporte;
– movimentos desnecessários;
– defeitos e retrabalhos;
– tempo de espera;
– desperdício do conhecimento intelectual
– habilidades dos funcionários.
Com efeito, a identificação dos desperdícios é o primeiro passo para implantar a mentalidade enxuta. Após essa fase são aplicadas ferramentas lean em função do tipo de desperdício identificado. Entre essas ferramentas estão: 5S, Fluxo contínuo de materiais, Sistema puxado de produção, Gestão visual para verificar a necessidade de materiais (Kanban) e constatar não conformidades, Melhoria contínua (Kaizen), Qualidade na fonte, Nivelamento da produção, Troca rápida de ferramenta no preparo dos produtos e Trabalho padronizado.
Ações de melhoria com ferramentas lean
De acordo com Juliana, a escolha de uma ou mais ferramentas está condicionada a análise do ambiente. Igualmente, aos desperdícios identificados e as causas a eles relacionadas. Assim sendo, partindo de uma análise geral no setor de pintura do móvel sob medida, é possível identificar alguns indicadores que podem ser observados de início para o levantamento dos desperdícios associados à atividade.
Esses indicadores são: excesso de movimentação dos funcionários em função do layout, excesso de transporte das peças, estoque de peças entre os processos, índice de retrabalho, número de peças com defeito, existência de procedimento para inspeção da qualidade das peças, existência de um padrão de trabalho a ser seguido pelos funcionários.
– Importância da cola ideal para marcenaria
Posteriormente, são propostas ações de melhoria com a utilização das ferramentas lean. “A experiência tem mostrado que no processo de produção de móveis, alguns desperdícios são comuns, independentemente da atividade que está sendo executada”, assinala Juliana. Sendo assim, para esses casos é feito uso do 5S, trabalho padronizado e qualidade na fonte, visando eliminar desperdícios como retrabalho, excesso de movimentação e produção de peças fora do padrão de qualidade.
Testes e ensaios
É evidente que, na prática, o marceneiro não realiza testes para avaliação da qualidade do acabamento. “Muitas vezes eles nem têm conhecimento sobre o assunto e tem a questão do custo dos ensaios. Geralmente as médias e grandes empresas realizam ensaios no produto, principalmente quando há reclamação por parte dos clientes. E na grande maioria é solicitado o ensaio de aderência e o ensaio de dureza”, explica a consultora em Lean Manufacturing.
Ainda assim, é importante o marceneiro ter conhecimento desses testes. Em seguida, confira uma sequência de ensaios tratados na “ABNT NBR 14535:2008 – Móveis de madeira – Requisitos e métodos de ensaios”.
Ensaio de abrasão: esse ensaio avalia a resistência ao desgaste de filmes aplicados em superfície rígida plana. É uma medida indireta da resistência da película de acabamento por meio de um aparelho denominado abrasímetro.
Ensaio de resistência do filme à luz UV: avalia a resistência do acabamento em relação a alteração da tonalidade, já que simula a incidência de luz solar através do vidro da janela em uma câmara de luz UV.
Ensaio de dureza: o ensaio mede a resistência da película de tinta em relação a grafites de durezas conhecidas. Por sua vez, serve para avaliar a resistência da película de revestimento aos efeitos de ataques mecânicos causados no dia-a-dia.
Ensaio de aderência: esse teste mede a capacidade de aderência do produto ao substrato (madeira ou painéis a base de madeira). Primordialmente, aderência é uma das propriedades mais importantes das tintas. Se a tinta não tiver uma aderência satisfatória ao substrato, seu desempenho está comprometido.
Ensaio de determinação do brilho: determinada a medida do brilho dos acabamentos através da projeção da luz sobre a película de tinta ou verniz, em um ângulo determinado. Assim sendo, o brilho é classificado em fosco, semi-fosco, semi-brilhante, brilhante e alto brilho.
Ensaio de resistência do filme ao impacto: esse ensaio classifica a resistência do acabamento ao impacto causado por uma esfera de aço. Com efeito, o dano causado ao revestimento no ponto de impacto da esfera. Ao seu redor é classificado em função do aparecimento de trincas e fissuras.
Ensaio de resistência do filme ao intemperismo artificial: a superfície revestida é submetida em laboratório a intemperismo artificial com lâmpadas fluorescentes de UV e água. Tem a finalidade de simular o processo de envelhecimento que ocorre na exposição ao ambiente.