Móbile 40 anos: Ademar de Gasperi faz parte da nossa história
Ademar de Gasperi comenta a trajetória do polo moveleiro gaúcho de Bento Gonçalves e da Revista Móbile
Publicado em 4 de junho de 2020 | 14:18 |Por: Cleide de Paula
Móbile 40 anos é o projeto de comemoração dos 40 anos da Revista Móbile que contempla uma série de entrevistas especiais com personalidades que participaram da construção da nossa história. Ademar de Gasperi que esteve presente em nossas primeiras edições, no ano de 1981 é um dos entrevistados do projeto Móbile 40 anos. A entrevista foi realizada por Gerson Lenhard, radialista e executivo de vendas que representa a Móbile no Rio Grande do Sul. Entrevista publicada nas Revistas Móbile Lojista 369 e Móbile Fornecedores 298
Na época, realizava-se a III Mostra do Mobiliário, presidida por Ademar. A Mostra, inicialmente uma pequena feira para exibir os lançamentos da indústria moveleira de Bento Gonçalves (RS), transformou-se na Movelsul Brasil, a maior feira de móveis da América Latina. Juntamente com a Fimma Brasil, a Movelsul é daqueles eventos aguardados para a tomada de decisões e para medir o mercado.
De marcenaria grande à indústria de respeito
Há dez anos, Ademar retirou-se do ramo do mobiliário no qual atuava como diretor da Carraro e, hoje, com dois sócios toca um negócio no ramo imobiliário. Mas, o afastamento não foi por completo. Ademar continua no polo moveleiro de Bento e sua expertise é de grande valia para o setor. Há quase 40 anos tem banco cativo na Federação das Indústrias do Estado do Rio Grande do Sul (Fiergs) e é um dos seis conselheiros estaduais do Senai neste mesmo período de tempo. Na entrevista a seguir, o conselheiro reflete sobre a evolução do setor moveleiro nas últimas décadas:
Móbile | Sua imagem estampa a primeira edição da Revista Móbile em outubro de 1981, quando o senhor presidia a Mostra do Mobiliário. Como se deu a evolução da feira de lá para cá?
Ademar de Gasperi| A feira foi uma evolução constante. Desde a primeira edição até hoje, sempre houve um crescimento muito importante seja da feira ou do setor moveleiro como um todo. Passamos a ser vistos como um setor industrial e não mais como uma marcenaria grande. Oportunizou, especialmente na época, para nós que estávamos no Sul do País a vinda de grandes lojistas do Brasil. Assim, eles viram e conheceram o nosso parque industrial que evoluía numa velocidade muito grande. Isso deu uma segurança maior a eles para comprarem da gente e de que depois nós fossemos entregar o combinado.
A feira foi uma evolução sempre porque começou sendo de Bento, depois do Rio Grande do Sul e posteriormente aberta ao Brasil inteiro. Fora passos graduais que permitiram que chegasse onde está agora.
Móbile | Como deverá ser a próxima edição da Movelsul, que deveria ter ocorrido em março deste ano?
Ademar | Quanto à Movelsul de hoje, que está praticamente pronta, falta apenas definir a data em que se realizará. Continuo achando que se trata de uma bela oportunidade para nos encontrarmos ao vivo com nossos parceiros, seja o comprador/lojista ou o representante, que ainda participa desse processo em alguns clientes. Entendo que os espaços de cada um talvez venham a ser reduzidos de modo a conter gastos. Mas, a oportunidade de se conversar ao vivo, dificilmente vai se perder.
Móbile | No seu modo de ver, como foi a evolução da indústria moveleira neste tempo?
Ademar | A indústria de móveis são dois estágios. Um, quando os empresários que eram deste setor, visto ainda como um setor marceneiro um pouco mais evoluído foram para a Europa e descobriram equipamentos de última geração e conseguiram comprar com financiamento ou do fabricante ou de bancos de fomento como o BRDE aqui no Rio Grande do Sul. Com esses equipamentos a coisa evoluiu.
Móbile | Como a Fimma Brasil ajudou a impulsionar a indústria moveleira?
Ademar | O salto se deu, efetivamente, com a Fimma Brasil. Foi essa feira que propiciou que os grande fabricantes internacionais viessem expor e o fabricante de qualquer porte tamanho pudesse encontrar produto para a sua necessidade. Também a aproximação com os fabricantes lá de fora possibilitou que os fabricantes nacionais que, ou adaptaram sua indústria, ou copiaram alguma coisa lá de fora, incorporaram tecnologia e criaram parcerias com empresas estrangeiras. Isso contribuiu decisivamente para que a indústria nacional e o móvel em si tivessem a qualidade que conhecemos hoje.
Móbile | Mesmo afastado há uma década do dia a dia de uma indústria moveleira, o senhor ainda tem importante participação institucional importante para o setor, atuando na Fiergs e no Senai. Como avalia sua colaboração nesses órgãos?
Ademar | Na verdade, eu participo há mais de 30 anos da Federação das Indústrias do Rio Grande do Sul como representante do setor moveleiro e agora também como sócio da minha empresa que atua em investimentos no ramo imobiliário. Então, estou lá ainda como o representante do Sindmóveis. Nessas mais de três décadas também sou membro do Conselho Superior do Senai, tendo sido seu presidente por três anos. Continuo lá dando a minha colaboração.
Móbile | Como as decisões da Fiergs e no Senai se refletem no polo de Bento Gonçalves ?
Ademar | Sobre ser importante estar lá, olha, as duas entidades têm sede em Porto Alegre (RS) e é lá que são tomadas as decisões. Por exemplo, aquela escola do Senai que temos em Bento, de última tecnologia. Se “bobeia”, os caras querem levar lá para São Leopoldo, Uruguaiana, Caxias do Sul – Caxias leva quase tudo – e a gente tem que ver que é em Bento, onde se produz móveis. Aqui é polo moveleiro. É aqui que ela tem que estar. Comigo estava lá também o José Zortea, de Bento, e que na época era o presidente do Senai. Então, somos em seis no conselho e a definição é tomada ali. Fechamento de escola, abertura de nova escola, investimentos, enfim…
– Confira a entrevista da Colchões Castor para o Móbile 40 anos
– Especial Móbile 40 anos com o diretor geral da Sayerlack, Marcelo Cenacchi
Móbile | A Móbile está comemorando sua entrada no ano 40 e o senhor a viu nascer. Como enxerga a participação da editora dentro do setor?
Ademar | Isso aconteceu na mesma época da minha participação na III Mostra do Mobiliário e eu, sinceramente achei que o Valcidio Perotti tinha ficado maluco. Trazer uma revista especializada para um setor que ainda era embrionário, incipiente. A proposta dele era trazer uma revista que integrasse os setores envolvidos na cadeia moveleira. Posto isso, posso dizer que ele foi de fundamental importância em aproximar, pelo menos foi um dos meios da ligação entre o setor produtivo, com representantes comerciais, lojistas, canais de distribuição em todo o país com uma velocidade muito grande. Isso, numa época que não tinha internet. Então, foi de vital importância na construção de um setor que passou a ser respeitado. Porque, até então, só se falava de setor automotivo, metalúrgico, eletrônico. Passamos a ser vistos como importante setor industrial no País. Porque a revista permitiu mostrar que éramos grandes e empregávamos muito, mas estávamos espalhados pelo Brasil.
“Acho que a Móbile ajudou muito também a formalizar os sindicatos regionais bem como a Abimóvel. A revista sempre participou muito desses movimentos, numa missão corporativa importante” – Ademar de Gasperi
Móbile | O que aponta como principais mudanças no setor moveleiro nas últimas quatro décadas?
Ademar | Ah, eu vejo que nos transformamos de umas marcenarias em indústrias. Lá no final dos anos 1970, início dos 1980, a fábrica de móveis era um empresário dentro de uma marcenaria aumentada. Depois, especialmente com a chegada da Fimma, todas as empresas passaram a ter design, engenharia… Todas as empresas empregam tecnologias de última geração no setor industrial. Muitos de nós fomos para o Japão, Coreia aprender tecnologias produtivas, contratamos consultorias especializadas e nos tornamos competitivos, fazendo móveis em série e grandes empresas.
Móbile | Estamos aqui numa entrevista para homenagear os 40 anos da revista. O senhor escolheria que palavra para definir a Revista Móbile?
Ademar | É uma revista que adquiriu credibilidade nacional, sem a menor dúvida.