Sindicatos apontam dificuldade em ajustar preços dos móveis
Com aumento de custos de matérias-primas, logística e outros, líderes sindicais apontam dificuldades em repassar preços dos móveis ao mercado
Publicado em 21 de junho de 2024 | 08:00 |Por: Thiago Rodrigo
A economia brasileira vem apresentando baixo crescimento do PIB e juros elevados que ainda são herança da pandemia. A inflação está relativamente contida e, apesar de o nível de empregos ter avançado, a geração de renda é baixa. O endividamento de um modo geral segue elevado, tanto nas empresas quanto nas famílias, e o crédito permanece bastante seletivo.
Nesse cenário, a situação se complica com o aumento de custos de matérias-primas apontados pelos sindicatos moveleiros – leia em reportagem na Revista Móbile Fornecedores 338 – e outros como dólar, petróleo e frete marítimo. Desse modo, a indústria moveleira brasileira passa a perder competitividade no mercado nacional e internacional diante da dificuldade e impossibilidade de repassar os aumentos dos preços em um mercado com compras contidas.
Repassar os aumentos dos custos ao varejo ou para consumidor final (no caso das indústrias que vendem diretamente para pessoas) tende a afetar ainda mais a demanda, na avaliação de Gisele Dalla Costa, presidente do Sindmóveis Bento Gonçalves. “As empresas vêm se desdobrando para administrar seus preços de venda e suas margens, mesmo conscientes de que isso tem limite. Aqui no Rio Grande do Sul, neste momento tão delicado, reajustar preços ficou ainda mais complicado”, diz – vale lembrar que móveis são bens duráveis, cujo consumo não é recorrente, então uma demanda menor torna o mercado mais competitivo.
– Congresso Nacional Moveleiro ocorre em outubro
Para ela, fazer o repasse de preços ao consumidor em um movimento sincronizado é desafiador em um cenário de queda na demanda. “Não há nada que impeça que as empresas repassem ao preço final a elevação dos seus custos. Somente cabe sempre avaliar o impacto que isso terá junto ao mercado em que ela atua”, diz e acrescenta:
“Entendemos que sincronizar esse movimento tende a ser inviável, porque dentro do setor moveleiro existem nichos de mercado com diferentes características tanto na produção e venda dos produtos quanto nas escolhas do consumidor. É sempre importante preservar as particularidades de cada negócio e o impacto que um maior ou menor repasse do aumento dos custos pode trazer na lucratividade e competitividade”, afirma Gisele.
Vitor Guidini, presidente do Sindimol, destaca que a indústria moveleira enfrenta dificuldades para ajustar os preços dos produtos ao varejo devido à sensibilidade do consumidor final aos aumentos de preços. Além disso, o varejo pode resistir a esses ajustes para não perder competitividade, criando um impasse que dificulta o repasse dos custos adicionais.
Por isso, o sindicato considera que há dificuldades de fazer o repasse de preços ao consumidor em um movimento sincronizado entre os players fabricantes de móveis. “O Sindimol reconhece as dificuldades de repassar os aumentos de preços ao consumidor de maneira sincronizada”, frisa e pontua.
“Um movimento coordenado entre os fabricantes da nossa região pode, de fato, ajudar a distribuir melhor os aumentos, mas isso requer um alto nível de cooperação e alinhamento entre as indústrias da nossa região. Este é exatamente o ponto em que o sindicato pode contribuir de maneira significativa, facilitando o diálogo e a coordenação entre os diversos atores do setor de móveis”, considera.
Mauricio de Souza Lima, presidente do Sindimov-MG, afirma que qualquer ajuste de preço significa dificuldade para indústria, pois este reajuste precisa ser repassado para o varejo e quando chega no consumidor acaba trazendo queda em vendas. “O consumidor é que faz o mercado girar e sempre qualquer repasse de reajuste de preços traz retração de movimento”, frisa.
Sobre uma conscientização de aceitação pelo lojista para que melhore a condição de sobrevivência das indústrias moveleiras quanto ao aumento de preço, o presidente diz que o industrial já é consciente de que reajustes são necessários, mas que precisam ser trabalhados de forma a não impactar também a atuação do lojista. “A indústria hoje precisa estar repensando os processos de produção para conseguir melhorar os custos de produção e manter um padrão de preços sem impactar no consumidor final”, declara.
Acerca deste tema, o presidente do Sindimol diz que sem dúvidas é necessário conscientizar os industriais e obter a aceitação dos lojistas para melhorar a condição de sobrevivência de nossas indústrias. “No entanto, não é uma tarefa fácil fazer essa intersecção, pois os interesses de ambos são bastante distintos. Existem milhares de indústrias de móveis no Brasil, e os varejistas utilizam bem essa diversidade, explorando ao máximo a oferta de produtos e diferentes preços”.
Gisele do Sindmóveis Bento Gonçalves avalia que essa é uma questão que vai além da relação entre indústria e lojista. “É importante que o Brasil melhore o ambiente para os negócios, que o país cresça com solidez, que seja criada uma política industrial capaz de gerar competitividade ao segmento, que os juros baixem, que melhore o acesso ao crédito de longo prazo para empresas e famílias, entre outras medidas focadas no desenvolvimento do país”, opina e acrescenta:
“Em grande parte, os fatores elencados geram custos diretos e indiretos às empresas, desde a produção até a compra do bem final pelo consumidor, além de retirarem competitividade da produção, onerando o ciclo de negócios. Evidentemente, isso não elimina a negociação de preços entre compradores e vendedores, mas torna essa etapa menos decisiva ou relevante”.