Congresso Nacional Moveleiro: discussões estratégicas e premiações
12ª edição do Congresso Nacional Moveleiro reuniu especialistas, empresários e designers em dois dias de debates sobre inovação, mercado e reforma tributária
Publicado em 3 de outubro de 2025 | 07:57 |Por: Julia Magalhães

A 12ª edição do Congresso Nacional Moveleiro teve ampla movimentação e conteúdo relevante na capital paranaense. O evento, realizado entre os dias 1 e 2 de outubro, reuniu empresários, arquitetos, designers, estudantes, fornecedores e compradores nacionais e internacionais no Campus da Indústria do Sistema Fiep.
Promovido pela Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) e pela Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário (Abimóvel), o congresso é realizado em parceria com o Sebrae/PR e conta com apoio do Conselho Setorial da Indústria Moveleira. A programação incluiu palestras, painéis temáticos, rodadas de negócios, visitas técnicas e atividades culturais. Entre os principais eixos, estiveram em pauta a inovação na cadeia produtiva, estratégias de internacionalização, economia circular, sustentabilidade e design inclusivo.
Confira como foi o primeiro dia
O segundo dia começou com o concurso da Movelaria Brasileira – premiação dos alunos do Colégio Sesi Paraná. A iniciativa destacou como a sustentabilidade pode ser uma aliada da indústria moveleira e reforçou que a educação está diretamente ligada à inovação. O ensino, apontaram os organizadores, está na base de toda transformação.

Crédito: Júlia Magalhães
Impactos da reforma tributária
O ciclo de palestras teve início com o painel “reforma tributária: impactos sobre a cadeia produtiva da indústria moveleira”, mediado pelo consultor tributário da Fiep, Alexandre Tortato.
O advogado tributarista, Alberto Carbonário, destacou que a reforma representa uma mudança estrutural que visa reduzir o chamado “Custo Brasil”. Segundo ele, a substituição de cinco tributos (IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS) por novos modelos – o IBS (Imposto sobre Bens e Serviços), o CBS (Contribuição Social sobre Bens e Serviços) e o Imposto Seletivo – exige preparação imediata por parte das empresas.
“Teremos mudanças profundas que vão impactar todo o setor. Quem não implementar as mudanças dentro da empresa pode enfrentar sérias dificuldades. Deixar para os 45 do segundo tempo é perder competitividade”, alertou Carbonário.
Entre os principais objetivos da reforma estão:
- Simplificação da legislação e redução da burocracia;
- Eliminação da cumulatividade (efeito cascata);
- Tributação no destino, promovendo mais transparência e equidade.
O especialista também lembrou que o novo modelo entrará em vigor a partir de janeiro de 2026, mas com um período de transição até 2033. “O sistema será infinitamente melhor do que o atual. Mas isso exige envolvimento de todos os setores da empresa: compras, vendas, financeiro. Os impactos serão significativos”, acrescentou Tortato.
O advogado, Victor Hugo Rocha, também presente no painel, aprofundou questões como o “split payment” – mecanismo que exigirá uma remodelagem completa do e-commerce nacional. “Erra quem acha que a reforma é apenas uma mudança fiscal. Ela representa uma mudança na forma de fazer negócios no Brasil”, afirmou.

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Empreendedorismo feminino, diversidade e inclusão
O segundo painel do dia trouxe à tona o papel da diversidade como diferencial competitivo nos negócios. Moderado pela fundadora da plataforma MPoiani – especializada em conectar pessoas, intermediar negócios e divulgar marcas e produtos –, Marcele Poiani, o debate reuniu mulheres com atuação de destaque em diferentes frentes do mercado.
Marcele destacou que, embora os indicadores sociais apontem avanços, ainda há grandes desafios quando se fala de diversidade e inclusão no ambiente empresarial. “O Brasil tem uma das maiores taxas de empreendedorismo feminino do mundo, mas, na prática, ainda enfrenta barreiras enormes”, afirmou.
A executiva de RH, Jessica Sandini, corroborou que, apesar dos avanços, ainda há muito a ser feito. “Mulheres são mais da metade da população brasileira – você quer deixar de fazer negócios com metade da população?”, provocou.
Ela citou dados da McKinsey que mostram que, nos últimos dez anos, empresas com equipes mais diversas e representativas tiveram desempenho financeiro superior ao dos concorrentes. “Pensar em pessoas é pensar em pessoas diferentes, sem viés político, religioso ou ideológico.”

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A economista e engenheira, Bruna Hadad, pontuou que o desequilíbrio está instalado e precisa ser enfrentado com pragmatismo. “Sem dúvida houve avanços, mas ainda não condizem com a participação feminina na população. Quanto mais alto o cargo, menor a presença de mulheres. Está muito distante de ser proporcional à base.”
Ela complementou com um chamado à responsabilidade: “O que nós, como empresas e indivíduos, podemos fazer agora para ter um cenário diferente no futuro?”
Para complementar, a fundadora da plataforma Conselheiras, Sandra Comodaro, trouxe um dado marcante: “No fim de 2020, apenas 7% dos cargos em conselhos de administração eram ocupados por mulheres”. Hoje, a Conselheiras é o maior grupo de conselheiras do Brasil, reforçando a necessidade de dar visibilidade e espaço para a atuação feminina nos mais altos níveis de decisão corporativa.
Perspectivas econômicas e tendências de mercado
No painel “Perspectivas econômicas e tendências de mercado: o que esperar do setor nos próximos anos”, o economista-chefe da XP Investimentos, Caio Megale, abordou os impactos macroeconômicos globais e o contexto brasileiro.
Megale iniciou sua fala comentando os efeitos do chamado “tarifaço” do governo Trump. Apesar de as tarifas já estarem em vigor, segundo ele, seus efeitos ainda não foram plenamente sentidos na economia. “O índice de incerteza na política econômica global vem crescendo. Na pandemia, já era alto, mas agora está ainda maior”, afirmou.
Para o economista, o aumento da incerteza afeta o crescimento global. O governo norte-americano já percebeu que as tarifas aumentam o custo de produção e pressionam a inflação. “Podemos esperar um cenário de muita volatilidade e incerteza nos próximos anos”, analisou.
Contudo, ele salientou que, ainda que o setor moveleiro brasileiro seja diretamente impactado por essas tarifas, a economia do País como um todo está relativamente protegida, devido ao forte mercado interno. “O Brasil, comparado a países como México, Rússia, Colômbia e África do Sul, tem sido visto como um ‘vencedor relativo’. Exportamos majoritariamente produtos de primeira necessidade, menos suscetíveis a barreiras tarifárias”, explicou.

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Megale também comentou os reflexos da política monetária dos Estados Unidos. Com juros elevados no exterior, o Brasil tende a acompanhar o movimento, o que implica maior custo do crédito e pressão inflacionária.
Sobre o cenário interno, o economista destacou o forte crescimento do consumo no pós-pandemia. Segundo ele, dois fatores explicam esse fenômeno: a ampliação dos programas de transferência de renda – como o Bolsa Família, que saltou de R$ 30 bilhões em 2021 para R$ 180 bilhões em 2023 – e a aceleração do mercado de trabalho, com aumento da chamada ‘uberização’.
“O desemprego caiu de 11% para 6% e os salários cresceram de forma acelerada. Muitos setores hoje relatam dificuldade em encontrar mão de obra”, pontuou. Esse cenário impulsionou também o crescimento do crédito, que teve forte expansão nos últimos três anos, puxando o PIB pelo consumo.
Como consequência direta desse superaquecimento, Megale apontou a inflação, que subiu de uma faixa de 3% para 6% entre 2024 e 2025. “São sinais claros de uma economia aquecida. O Banco Central precisa reagir a esse estímulo todo”, disse. Apesar da instabilidade global, a previsão é de que o PIB brasileiro volte a crescer em 2026.
Premiação do Prêmio Design da Movelaria Nacional
Ainda no segundo dia de programação, foram anunciados os vencedores da primeira edição do Prêmio Design da Movelaria Nacional, promovido pela Abimóvel (Associação Brasileira das Indústrias do Mobiliário), com apoio da ApexBrasil e do Sebrae. A iniciativa teve mais de 450 projetos inscritos, divididos em sete categorias, abrangendo empresas, designers, arquitetos, marceneiros, estudantes e profissionais de diversas regiões do país.
Ao todo, 56 projetos foram selecionados para a fase final, com avaliação presencial feita por um corpo de jurados composto por nomes reconhecidos nos campos do design, da arquitetura e da indústria moveleira: Adélia Borges, Bruno Faucz, Bruno Simões, Liana Tessler, Manuel Bandeira, Sérgio Matos e Winnie Bastian, sob curadoria da jornalista Regina Galvão.
As peças finalistas compõem uma mostra especial, aberta ao público durante o Congresso, e segue até 7 de outubro, no Campus da Indústria da Fiep. A exposição busca ampliar a visibilidade dos projetos, criando oportunidades de conexão com profissionais da indústria, compradores, imprensa e formadores de opinião.
Os grandes vencedores de cada categoria garantiram, entre outros prêmios, participação na Exposição Internacional do Salão do Móvel de Milão – iSaloni 2026, na Itália.
Durante a cerimônia de premiação, o presidente da Abimóvel, Irineu Munhoz, relembrou que o projeto foi lançado na edição anterior do congresso e celebrou os avanços já concretizados: “Esta é a primeira edição do prêmio e já mostra que o amanhã começou. Temos aqui originalidade, identidade brasileira e soluções inteligentes para viver. Agradeço a todos que participaram e ajudaram a engrandecer essa iniciativa”.
A diretora-executiva da Abimóvel, Cândida Cervieri, também destacou o papel do design para o setor. “O que celebramos hoje vai muito além de uma premiação. Aqui, indústria e design caminham lado a lado, mostrando que são capazes de gerar valor econômico, social e ambiental. Cada criação traduz a força do setor moveleiro no Brasil e responde às demandas da sociedade contemporânea.”
Ela também antecipou que a segunda edição do Prêmio Design da Movelaria Nacional terá inscrições abertas a partir de novembro de 2025.

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Colaboração no design de interiores: do projeto à produção
A arquiteta e fundadora da Doma Arquitetura, Patricia Pomerantzeff, apresentou a palestra “Do projeto à produção: como o design de interiores pode impulsionar a colaboração entre arquitetos, marcenaria e fabricantes”.
Com foco na importância da conexão entre os diferentes elos da cadeia produtiva, Patricia destacou que o cuidado com os detalhes é um fator que faz toda a diferença no resultado. “Detalhes fazem a diferença”, afirmou.
Ela também defendeu que os projetos de interiores devem ir além da estética e da funcionalidade. “Mais do que transformar ambientes, queremos emocionar pessoas”, disse. Para isso, segundo ela, é fundamental que o design esteja cada vez mais conectado às emoções e às relações humanas. “Cada vez mais estudo sobre as tendências do design e da arquitetura que falam de afeto, da emoção. Se a gente não tiver uma boa pitada de afeto, a gente não emociona.”
Propósito, atitude e conexão com o consumidor
O encerramento da programação de painéis ficou por conta do empresário Caito Maia, fundador da Chilli Beans. Ele compartilhou a trajetória da marca e falou sobre o tema “Construindo uma marca de sucesso: do propósito à diferenciação”.
Segundo o executivo, independentemente do segmento, toda empresa precisa ter uma proposta de valor clara para não competir apenas por preço. “Se você vende óculos ou móveis, se não tiver um valor agregado, uma história para contar, um design, a gente vai brigar por preço. Agora, se você tiver uma personalidade, uma atitude…”, provocou.
Para ele, o segredo do varejo está na proximidade com o cliente e na experiência vivida no ponto de venda. “O varejo se faz no chão de loja”, resumiu, reforçando a importância de se manter atento ao comportamento do consumidor e de construir conexões autênticas com o público.

Crédito: Júlia Magalhães
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