Cor do ano 2019: uma reação à cultura digital
Living Coral intenta introduzir mais otimismo numa época de incertezas e realçar a íntima conexão entre as pessoas
Publicado em 31 de janeiro de 2019 | 08:00 |Por:
Inspirada na tonalidade alaranjada dos recifes de corais e buscando introduzir maiores doses de otimismo numa época de grandes incertezas (econômicas, políticas e culturais), a cor do ano 2019 escolhida pela Pantone configura-se mais do que uma tendência para a indústria do design – pode ser lida também como um sinal dos tempos.
Isso porque a Living Coral (Pantone 16-1546) é uma reação à cultura midiática e à fragilidade das relações sustentadas sobre as redes sociais, bem como um apelo às experiências externas – e eventualmente mais íntimas – ao ambiente virtual. Nas palavras da própria Pantone Color Institute, unidade comercial da empresa que revela as cores de destaque no universo do design a cada ano:
“Reagindo ao ataque da tecnologia digital e ao crescimento do impacto da mídia em nossas vidas cotidianas, ansiamos por experiências autenticas e imersivas que permitam a conexão e a intimidade. Sociável e de bom espírito, a natureza engajadora da Living Coral é bem recebida e nos encoraja a buscar atividades despojadas. Simbolizando nossa necessidade inata de acreditar em metas otimistas e agradáveis, a cor incorpora nosso desejo por se exprimir se divertindo”.
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As pessoas, e aqui se incluem aquelas que ocupam cargos de liderança empresarial, vivem hoje imersas na cultura do digital: ao mesmo tempo que buscam oportunidades de conexão e de negócios no universo online, também enfrentam o distanciamento humano e a superficialidade das relações neste dado contexto tecnológico.
Os especialistas em cores do time Pantone sempre destacam a cor que representa o zeitgeist (espírito do tempo)
Buscar a cor do ano 2019 no fundo do mar é sinônimo, portanto, de um convite ao aprofundamento – nas interações sociais e no espaço natural que nos afasta um pouco da criminalidade dos centros urbanos.
“Os especialistas em cores do time Pantone sempre destacam a cor que representa o zeitgeist (espírito do tempo). E neste momento histórico que vivemos, quando se revelam tantos acontecimentos ligados à corrupção e violência, nada mais natural do que indicar um tom próximo ao laranja, uma cor diretamente ligada à energia e otimismo, utilizada inclusive em práticas terapêuticas”, explica a designer, Silvia Grilli, especialista no tema sobre o “futuro do móvel“.
A cor do ano 2019, neste sentido, intenta provocar uma reflexão que, em partes, contraria o apreço que tantas pessoas depositam no digital, detectando nestas tecnologias a grande solução para as questões sociais, econômicas e políticas. Antes a Pantone objetiva com a Living Coral repensar seu impacto nas vidas íntimas e coletivas.
“Cor amplifica e influencia a forma como experimentamos a vida. Sendo uma cor que afirma a própria vida, ela tem o papel duplo de energizar e de nutrir. Living Coral reforça como as cores podem simbolizar a nossa experiência coletiva e refletir o que está acontecendo com a nossa cultura global em um dado momento do tempo”, afirma a vice-presidente do Pantone Color Institute, Laurie Pressman.
A cor do ano 2019 no design de móveis
Para o Pantone Color Institute, a cor do ano 2019 Living Coral pode ser aplicada no design de interiores e pela indústria moveleira de modo a valorizar a sensação tátil e o sentimento de conforto e calor.
“Quando usada de forma ousada em decoração e interiores, Living Coral provoca experiências imersivas assim como instalações ‘pop-up’ e espaços interativos, conectados com um espírito divertido. Sendo uma cor voltada à sensação tátil e à conexão humana, cria um sentimento de conforto e nutrição através de tapetes convidativos, mantas acolhedoras e estofados exuberantes”, destaca a Pantone.
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Entretanto, no setor moveleiro a aplicação das cores assinaladas pela Pantone não ocorre automaticamente. Em muitos casos, ela não se consagra como um elemento indispensável no design de móveis. O Centro Brasil Design buscou exemplos de aplicação da Living Coral entre os participantes da IF Design Award – um dos mais importantes prêmios de design do mundo sediado na Alemanha – mas não os encontrou.
A cor do ano não influencia todas as empresas, principalmente no setor moveleiro. A inclusão desta cor depende muito da estratégia da marca, se está ou não alinhada à exploração da novidade, da modinha
“A cor do ano não influencia todas as empresas, principalmente no setor moveleiro. A inclusão desta cor depende muito da estratégia da marca, se está ou não alinhada à exploração da novidade, da ‘modinha’. Empresas com portfólios mais tradicionais não utilizam a cor do ano nos produtos, talvez nas vitrines ou em estandes. Por se tratar de uma cor sazonal, os designers podem utilizá-la como instrumento de marketing, para vitrines, catálogos e sites”, explica Silvia.
Segundo a designer, em uma entrevista concedida ao Portal eMóbile em outubro de 2018, uma série de fatores leva a este tipo de descompasso, a começar pela falta de cultura na indústria em fazer uma análise mais aprofundada do comportamento da sociedade.
“No Brasil, falando de modo generalizado (claro que há exceções), é o dono da empresa que define a linha de produtos e oferece ao mercado, mas sem necessariamente consultá-lo. Ele deveria indagar e descobrir o que o consumidor quer. A tendência está muito mais ligada ao comportamento dos compradores do que, por exemplo, a cor do ano”, diz.