Entrevista: especialista fala sobre acordo Mercosul e União Europeia
Sergio Pereira, especialista em expansão global de negócios, comenta sobre acordo de livre comércio no setor moveleiro
Publicado em 10 de julho de 2019 | 10:15 |Por: Júlia Magalhães
Após 20 anos de negociações, acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia foi firmado. O tratado abrange bens, serviços, investimentos e compras governamentais. De acordo com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), trata-se do “mais importante acordo de livre comércio que o Brasil já firmou. Além disso, pode representar o passaporte para o país entrar na liga das grandes economias do comércio internacional”.
Para entender os impactos no setor moveleiro, convidamos o especialista em expansão global de negócios, Sergio Pereira, para uma entrevista exclusiva. Um ponto relevante, segundo ele, é que não é o fato de ter sido assinado que ele vai se materializar na sua forma mais completa. “Esse acordo ainda tem que ser aprovado por todos os países que fazem parte dos dois blocos. Isso toma tempo. O consenso é sempre difícil nos casos onde há muitas partes envolvidas”, explica.
Confira entrevista exclusiva com o especialista:
Portal eMóbile – Como avalia o acordo de livre comércio entre Mercosul e União Europeia?
Sergio Pereira – Com certa surpresa. Ainda que esteja sendo negociado há muitos anos, não tinha expectativa de uma notícia positiva nesse momento. De qualquer modo é altamente positiva, embora não seja aplicável no curto prazo.
Por que? De que forma o acordo pode impactar a indústria moveleira?
Pereira – Como ainda há muito o que ser negociado em termos de acesso a mercados, é precoce arriscar um palpite. O que é certo é que se trata de um acordo de duas vias, ou seja, da mesma maneira que queremos entrar no mercado europeu com nossos produtos, eles também querem desfrutar do gigante mercado brasileiro. Mas esse tipo de situação é positiva sempre!
“Esse tipo de situação é positiva sempre”, Sergio Pereira, especialista em expansão global de negócios
Basta que o setor atue de forma integrada sabendo pleitear os acessos ao mercado, ao mesmo tempo em que salvaguarde seus interesses locais. É sempre bom lembrar que – em termos de competitividade internacional – existe uma diferença muito grande entre brasileiros e europeus. Isso também é aplicável para a tecnologia, práticas comerciais, etc.
Quais as vantagens comerciais? Concorda com as estimativas do Ministério da Economia que indicam que o acordo representará um aumento do PIB brasileiro de US$ 87,5 bilhões, em 15 anos, podendo alcançar até US$ 125 bilhões (se forem considerados a redução das barreiras não tarifárias e o incremento esperado na produtividade). Por quê?
Pereira – As vantagens comerciais ainda serão avaliadas e medidas. Poder contar com um melhor acesso (através da redução tarifária e eliminação de eventuais barreiras não tarifárias) é o grande atrativo.
A União Europeia é grande, plural e tem espaço para todos. É uma questão de saber jogar o jogo. Não me arrisco a comentar os valores indicados pelas autoridades brasileiras. Há muito trabalho pela frente e cenários podem mudar ao longo do tempo.
– Dados do setor de móveis são divulgados pela Abimóvel
Segundo o divulgado, “para os produtos que não terão as tarifas eliminadas, serão aplicadas cotas preferenciais de importação com tarifas reduzidas.” O senhor sabe dizer se já foi explanado algum dado sobre essas cotas?
Pereira – Isso chama a atenção. Se estamos falando de um acordo de Livre Comércio, deveríamos estar esperando que o nível tarifário fosse a zero em praticamente todos os produtos.
Essa frase já traz a sensação de que muitas exceções surgirão ao longo das negociações em torno das listas de produtos beneficiados. Os europeus sabem proteger suas indústrias e alguns segmentos da economia. Vão fazer isso acontecer com toda certeza.
Por que o acordo Mercosul e União Europeia demorou tantos anos para ser fechado? Ainda pode haver mudanças nesse tramite?
Pereira – De um lado a política externa ditou o ritmo lento. O Brasil é um país fechado e muito possivelmente siga assim por muitos anos. Ninguém se arrisca a falar isso com clareza, mas posso dizer que temos que aprender o valor de estar no mundo. Ainda não percebemos isso. Nem o governo, nem os empresários.
Para completar, a União Europeia não tinha vivo interesse nesse acordo. Mudanças podem ser traduzidas por ajustes em termos do que é bom para cada lado. É isso que vai gerar muitas discussões ainda.